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Guilherme Mazieiro

Opinião: correr e suar a camisa é pouco para melhorar a popularidade de Lula

A correria de Lula e dos ministros em busca da popularidade começou pra valer. Mas sem um percurso bem sinalizado.

22 mar 2024 - 15h04
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Lula durante discurso
Lula durante discurso
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência

A pressa do Planalto para melhorar a comunicação é de tirar o fôlego. O próprio presidente Lula (PT) fez um vídeo para suas redes sociais correndo pelo Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. A filmagem começa focando no rosto do presidente e no calção do Corinthians — time do coração de Lula e com uma das maiores massas de torcedores — e segue com cenas do petista caminhando e correndo.

“Eu queria convidar vocês a andarem, fazer um pouco de exercício, não ficar parado no sofá, não ficar sentado muito tempo. Isso vale uma consulta médica”, disse Lula, na terça, 19. A filmagem tem 1 minuto e 11 segundos e foi divulgada nas redes sociais do petista. Na noite desta quinta, 21, estava fixada como principal postagem na rede X (antigo Twitter).

O vídeo descontraído, com bastante movimento nas cenas, diferentes ângulos e legendado, contrasta com o que se via nas redes sociais do presidente até a semana passada. Contamos aqui que as redes do presidente tropeçavam em condições básicas da internet, como a legenda.

Detalhe, Lula não falou de política. Não citou nenhum programa, ação ou proposta do governo. É um vídeo do presidente, um senhor de 78 anos, simpático, usando roupas de ginástica, correndo pela manhã e convidando outras pessoas a se exercitarem para “chegarem aos 120 anos”. A sacada midiática foi boa, o vídeo virou notícia em diversos veículos e rodou pelas redes sociais, afinal, ainda que ele faça exercícios frequentemente, essas imagens não são comuns para a população, daí o interesse na notícia.

O vídeo estimulou outros ministros a fazerem o mesmo. O titular da Educação, Camilo Santana, postou uma filmagem correndo em Brasília. Coincidentemente ou não, durante os trotes, ele esbarrou em outro "ministro-corredor", Renan Filho, dos Transportes. “Recomendação do nosso presidente, não é, Renan?”, brincou Santana. No mesmo pique, a ministra Anielle Franco, Igualdade Racial, também fez uma postagem se exercitando e aproveitou para anunciar um novo programa de sua pasta, Juventude Negra Viva.

Essa correria toda é para mostrar serviço ao eleitor — e ao presidente. A popularidade do governo patina. No início do mês, pesquisas mostraram um quadro que foi reforçado pela divulgação do Datafolha desta quinta. O levantamento mostrou que a avaliação de “ruim/péssimo” do governo Lula, 33%, empata, na margem de erro de 2%, com “bom/ótimo”, 35%. Dos entrevistados, 30% consideraram “regular”. O recorte mostra uma sociedade segmentada em três grupos, como vemos há alguns anos, e que Lula não consegue alterar.

É para tentar reverter esse quadro que Lula convocou os ministros para uma reunião na última segunda-feira, 18. Como você pode imaginar, sobraram broncas. Lula criticou a comunicação do governo, a gestão de crises na saúde como da dengue e Yanomami, e fez queixas para que sejam melhor exploradas ações chave como as dos ministérios da Educação e Desenvolvimento Social (onde está o Bolsa Família).

Ainda falta uma marca forte para o governo, um programa que fique na boca do povo, que cause um impacto novo na sociedade e incomode a oposição. A bandeira pela democracia é importante e será reforçada ao longo do tempo, mas não é isso que melhorará a avaliação do governo.

Ao petista só convém falar de golpe para fazer um antagonismo com Jair Bolsonaro (PL), a quem chamou de “covardão”. Um mero exercício de retórica usado na abertura da reunião ministerial e transmitido ao vivo. Na sequência, às portas fechadas, vimos que o objetivo era outro, como já falamos.

Depois da reunião de Lula e dos ministros correndo por aí, aconteceu de tudo um pouco na semana. O presidente cobrou publicamente outros ministros para que viagem pelo país e façam um “corpo a corpo” com o eleitor, que falem das ações de suas pastas e do governo como um todo, olhando no olho do cidadão.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, abriu uma apresentação à imprensa sobre a situação epidemiológica da dengue e defendeu ações do ministério. Ela, que estava na frigideira política, deu entrevistas a três veículos de imprensa (CBN, GloboNews e CNN) para dizer que tem a confiança de Lula e orientar a população a se prevenir do mosquito Aedes aegypti.

No Ministério da Justiça, onde Ricardo Lewandowski há mais de um mês corre atrás dos dois fugitivos do presídio federal sem encontrar nada, bolaram um anúncio sobre o caso Marielle. Entre o aviso aos jornalistas e o pronunciamento, passou-se uma hora. A pressa do anúncio alimentou a esperança de que uma grande novidade estaria por vir. Mas não passou de uma atualização processual ocorrida no Supremo Tribunal Federal (STF), a homologação de uma delação premiada.

Como essa questão cabe à Justiça, e não ao ministério, o ministro não tinha nada mais para falar. Virou as costas e deixou a sala. Aliás, por que mesmo ele estava falando da delação se não é algo de sua competência?

Soou como uma tentativa (estranha) de pautar uma notícia positiva na imprensa. Esse papo não pegou bem. A viúva de Marielle, Mônica Benício, criticou a fala do ministro, dizendo que “em nada colabora”.

A correria de Lula e dos ministros em busca da popularidade começou pra valer. Mas sem um percurso bem sinalizado, eles correm o risco de tropeçar ou se perderem pelo caminho. 

Bom final de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui, gratuitamente, e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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