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Guilherme Mazieiro

Opinião: Críticas de Lula à Venezuela são para valer ou jogo de cena?

Ainda que tardiamente e de maneira tímida, o petista começou a modular suas falas e criticar Maduro.

26 jul 2024 - 11h10
(atualizado às 11h12)
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Maduro e Lula durante encontro no Palácio do Planalto, em maio de 2023.
Maduro e Lula durante encontro no Palácio do Planalto, em maio de 2023.
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

A proximidade das eleições venezuelanas criou alguma tensão nas relações com o governo brasileiro. Nesta semana, Lula (PT) seguiu com declarações críticas - e pontuais - sobre o ditador Nicolás Maduro. O pleito ocorrerá no domingo, 28, e é um dos maiores testes para o país, e o governo de Maduro, há 11 anos no poder. Um assessor de Lula, de dentro do Palácio do Planalto, Celso Amorim, acompanhará o processo in loco.

As eleições ocorrem no contexto do Acordo de Barbados, que foi fiado pelo Brasil na Noruega em 2023, quando Maduro e a Plataforma Unitária, da oposição, se comprometeram a garantir as eleições e aceitar o resultado da corrida deste ano. Com a assinatura do termo, os Estados Unidos relaxaram parte das sanções que afetam a economia do país em setores como gás, mineração e energia (sob domínio estatal). Ainda assim, há incertezas e um ambiente hostil.

O país que tem a maior reserva de petróleo do mundo (cerca de 18%) vive em crise sob a ditadura de Maduro e sanções econômicas. Nesse ambiente, o clima é de tensão, com a fuga de milhares de famílias para países vizinhos. As primárias da oposição foram suspensas e barradas pela Suprema Corte, houve prisão de defensores dos direitos humanos, jornalistas e opositores.

O histórico recente da relação Lula e Maduro mostra que há uma mudança no posicionamento do petista. Em maio de 2023, o ditador foi recebido com honras de chefe de Estado e tapete vermelho no Palácio do Planalto. Ali, ouviu o presidente brasileiro dizer que as acusações de autoritarismo seriam uma "narrativa que se construiu contra a Venezuela". Uma fala desastrosa e condenável.

A afirmação é contraditada pelo Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos. O órgão declarou que o governo de Maduro é responsável por “desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e tortura”, além de manter presos ao menos 282 opositores ao regime.

A declaração foi condenada por outro líder esquerdista, o presidente chileno Gabriel Boric. Presente no mesmo evento em Brasília, ele disse que “não é uma construção narrativa, é uma realidade, é séria” e que não se pode fazer vista grossa às violações de direitos humanos.

Em fevereiro deste ano, outro nome relevante para a esquerda, uma referência política latino-americana, o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, não mediu palavras para dizer que “na Venezuela existe um governo autoritário e você pode chamá-lo [Maduro] de ditador, chame-o do que quiser”.

Há uma percepção de que os novos movimentos políticos de esquerda cobram de maneira contundente um ambiente democrático mesmo para quem diz lutar contra o “imperialismo”. Lula, que sempre apoiou o chavismo, parece ter entrado nesta trilha.

Ainda que tardiamente e de maneira tímida, o petista começou a modular suas falas. Entre assessores do presidente, há uma percepção de que o tom camarada com a Venezuela implicava em queda de popularidade.

Em fevereiro deste ano, quando Maduro ameaçava ocupar Essequibo, na Guiana, Lula fez uma defesa pela paz e sinalizou que não apoiaria qualquer ação de invasão.

No mês seguinte, Lula disse que “não tem explicação” e considerou grave o veto à candidatura da oposicionista, Corina Yoris. Ela não conseguiu registrar sua candidatura no sistema do conselho nacional eleitoral.

Nesta semana, o petista disse que ficou assustado com as falas de Maduro sobre ter um “banho de sangue”, caso não vença a disputa. “Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue", disse Lula.

O ditador reagiu dizendo que quem se assustou com a declaração, “que tome um chá de camomila”. O Planalto calou e não respondeu a indireta e tampouco a declaração infundada de Maduro de que as eleições no Brasil - e por tabela a de Lula - não são auditáveis.

Pelo ataque às eleições daqui, o Tribunal Superior Eleitoral suspendeu a ida de dois observadores do pleito à Venezuela e reafirmou a lisura do pleito brasileiro.

O petista que fez campanha em 2022 dizendo que trabalharia pela democracia no Brasil e condenou as intervenções e tentativas de golpe de Jair Bolsonaro (PL) parece que parou de passar pano para Maduro, que pensa e age diferente.

Neste final de semana, os olhares devem estar não só na Venezuela. Mas principalmente na reação de Lula ao lidar com o pós eleição. O opositor Edmundo González lidera as pesquisas, mas não significa que vencerá o pleito. O governo brasileiro terá garantias de que a eleição foi limpa? O que Lula dirá ao vencedor? E o que dirá ao perdedor da disputa?

Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui, gratuitamente, e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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