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Guilherme Mazieiro

Opinião: Denúncia de assédio de ministro é uma bomba em governo de poucas mulheres

Foto de Janja retrata espaço que Lula deu às mulheres, onde uma precisa proteger a outra, com pouca voz e falando de modo cifrado.

6 set 2024 - 10h56
(atualizado às 11h01)
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Ministro Silvio Almeida é alvo de denúncias de assédio moral e sexual. Ele nega.
Ministro Silvio Almeida é alvo de denúncias de assédio moral e sexual. Ele nega.
Foto: Filipe Araújo/MINC

Em outubro de 2023 o presidente Lula (PT) recebeu a imprensa para um café da manhã, havia uma notícia quente rodando no noticiário, a troca de mulheres no governo para acomodar homens indicados pelo centrão. O petista havia rifado as ministras Ana Moser (Esporte), Daniela Carneiro (Turismo) e a presidente da Caixa, Rita Serrano. Questionado sobre o assunto, naquele café, Lula disse:

“Eu às vezes lamento profundamente não poder indicar mais mulheres do que homens no governo. Acontece que, quando você estabelece alianças com partidos políticos, nem sempre esse partido tem uma mulher para indicar. Mas isso não quer dizer que eu não possa, no governo, tirar homem e colocar mulher”.

Ora, se o presidente não consegue estabelecer que quer uma indicação feminina para seu governo, quem conseguirá? Por isso mesmo a fala tem um tom de cinismo ao dizer que “nem sempre” um partido tem mulher para indicar. Não tem ou não quer?

Conforme os meses correram, Lula passou a dar sinais de que aprende com a primeira-dama, Janja da Silva.

“Eu quero mais mulher no governo, eu preciso de mais mulher no governo, eu preciso de mais negro no governo, preciso que o governo tenha a cara do Brasil”, afirmou em entrevista ao UOL em junho. 

Mas ainda deu uma frase truncada, afirmando que “como a mulher não teve a participação ativa durante muito tempo, fica mais difícil você encontrar mulher para determinados cargos. Não é que não tenha. É que a oferta é menor na medida em que, embora sejam a maioria da população, não tiveram uma participação política histórica mais contundente”.

O fato é que apesar das falas, as mulheres seguiram com o pouco espaço que têm no alto escalão. Dos 39 ministérios, só nove têm mulheres à frente.

E justamente uma dessas nove é apontada como vítima em denúncias graves, Anielle Franco (Igualdade Racial). A ONG Me Too, de combate ao assédio sexual, informou que recebeu denúncias de violência sexual cometidas pelo ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. A ministra Anielle seria uma das vítimas, segundo o portal Metrópoles.

“Como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posições de poder, essas vítimas enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional para a validação de suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa”, relatou o Me Too em comunicado à imprensa.

Esse ponto é tão grave quanto as denúncias. Vou lembrar que assim que saíram as notícias sobre o caso, nesta quinta, 5, colegas da imprensa noticiaram que conversas sobre o suposto assédio do ministro circulavam pelo governo desde o ano passado.

O governo Lula precisa se explicar sobre isso. As supostas vítimas não tiveram espaço para denunciar? Quem ouviu que poderia haver esses casos de assédio, sabendo disso, não fez nada e se calou?

Enquanto a crise se instalava, no início da noite desta quinta, Lula participava da abertura da 27ª Bienal Internacional do Livro. Ele discursou sem tocar no assunto Silvio Almeida. Às 23h18, o Planalto divulgou nota relatando que o ministro “foi chamado esta noite a prestar esclarecimentos ao controlador-geral da União e ao advogado-geral da União por conta das denúncias publicadas”. E que a Comissão de Ética da Presidência abriu, de ofício, uma apuração sobre o caso, reconhecendo a “gravidade das denúncias” e dizendo que o “caso está sendo tratado com o rigor e celeridade”.

A ministra Anielle não se manifestou até a manhã desta sexta, 6. O ministro Silvio repudiou e negou as denúncias. “Quaisquer distorções da realidade serão descobertas e receberão a devida responsabilização. Sempre lutarei pela verdadeira emancipação da mulher, e vou continuar lutando pelo futuro delas. Falsos defensores do povo querem tirar aquele que o representa. Estão tentando apagar a minha história com o meu sacrifício”, escreveu em nota.

Em meio ao calor das denúncias, Janja postou uma foto beijando a testa de Anielle. Foi a única entre os que rodeiam o presidente que manifestou solidariedade à ministra assim que o caso veio à tona. A imagem não tem legenda. A foto parece retratar o espaço que Lula deu às mulheres no governo, onde uma precisa proteger a outra, com pouca voz e falando por mensagens indiretas.

Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui, gratuitamente, e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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