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Guilherme Mazieiro

Opinião: Eleitor de SP pouco se importa com candidato de Lula ou de Bolsonaro

Pesquisa Real Time Big Data mostra que, até aqui, para mais de 70% dos entrevistados, atual e ex-presidentes não transferem voto.

2 out 2024 - 10h11
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Nunes, Boulos e Marçal estão na frente nas pesquisas em SP.
Nunes, Boulos e Marçal estão na frente nas pesquisas em SP.
Foto: Estadão

A pesquisa Real Time Big Data, contratada pelo Terra e divulgada nesta quarta, 2, mostrou que a quatro dias da eleição para prefeitura de São Paulo, a maioria dos entrevistados não votaria em um candidato apoiado por Lula (PT) ou Jair Bolsonaro (PL).

O apoio foi conquistado a peso de ouro tanto por Guilherme Boulos (Psol), quanto por Ricardo Nunes (MDB). Ocorre que o atual e o ex-mandatário pouco apareceram na campanha de São Paulo.

Temos, segundo o levantamento do Real Time Big Data contratado pelo Terra:

Votaria em candidato apoiado por Bolsonaro?

23% sim

71% não

6% não sabe ou não respondeu

Votaria em candidato apoiado por Lula?

21% sim

72% não

7% não sabe ou não respondeu

A pesquisa realizou 1.500 entrevistas entre os dias 30 de setembro e 1º de outubro, e tem margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. O levantamento está registrado sob o número: SP-02771/2024.

Segundo o estudo, o terceiro candidato, empatado tecnicamente com Boulos e Marçal, é Pablo Marçal (PRTB). Ele não tem apoio declarado de Bolsonaro. Mas conseguiu o feito de tomar para si ao menos metade do eleitor do capitão, de acordo com pesquisas de intenção de voto.

O baixo direcionamento de voto de ambos se dá por um enfraquecimento político ou pelo distanciamento - ainda que por razões distintas - que tiveram da corrida?

As urnas podem nos dar essa resposta no próximo domingo, 6. Isso porque Lula, que basicamente só gravou um vídeo para o começo da campanha de Boulos, deve dar as caras nesta reta finalíssima da campanha. Nesta quarta, ele participará de uma live com o seu candidato e no sábado, 5, às vésperas do primeiro turno, de um ato na Avenida Paulista. A campanha do psolista aposta no poder eleitoral de Lula para trazer o eleitor de centro e moderado nos momentos decisivos para o eleitor.

Já Bolsonaro, derrotado nas urnas da cidade de São Paulo em 2022, não apareceu mesmo na campanha de Nunes. Sem conseguir lançar um candidato de sua escolha, teve que se contentar com a indicação do vice da chapa de Ricardo Nunes, o coronel da PM e ex-comandante da Rota, Mello Araújo.

Nesta terça, 1º de outubro, ele fez uma live em que pediu voto a alguns aliados e não citou o seu candidato oficial, de coligação, o prefeito de São Paulo. A ausência de Bolsonaro acontece em meio ao efeito Pablo Marçal (PRBT). Segundo as pesquisas, o ex-coach tomou metade dos eleitores que votaram no capitão em 2022. 

O distanciamento do capitão ficou escancarado logo que se sentiu o tremor nas bases bolsonaristas, na largada da campanha. O conflito chegou à cúpula da família, com atritos entre os filhos de Jair e Marçal. O armistício veio após uma avaliação mútua de que o conflito poderia ser precipitado e de proporções não calculáveis.

O ato que Bolsonaro fez, em 7 de setembro, por exemplo, foi em causa própria. Pensando em mostrar força política contra o avanço de investigações da Polícia Federal que pesam contra ele.

O trunfo de Nunes está em outro padrinho político, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que abraçou a campanha desde o início e está na rua, nas redes e no programa eleitoral do emedebista. O cientista político do Real Time Big Data, Bruno Soller, analisou à coluna, que o derretimento da candidatura de Datena levou eleitores para campanha de Nunes, que balançava com a ascensão de Marçal e se manteve firme na disputa.

Voto útil

Com o cenário embolado, nesses últimos dias, as campanhas começam a apelar ao eleitor que opte por um “voto útil”. Se Boulos conseguir tirar votos de Tabata e Nunes poderá ir com alguma vantagem ao segundo turno. Se não conseguir, corre risco de ficar pelo caminho. O mesmo acontece com Nunes, que apesar de, nas análises de segundo turno vencer Boulos e Marçal, vê no ex-coach um adversário disputando o mesmo eleitor conservador e também o de extrema direita.

Marçal tenta atrair mais alguma quantidade de voto conservador e, não parece por acaso, fez gestos à Tabata no último debate, de segunda, 30, a elogiando e sugerindo que em um eventual governo seu, ela seria convidada para ser secretária de Educação.

São três candidatos competitivos buscando, inicialmente, duas vagas. E depois, uma. Neste cenário apertado e incerto, as aparições previstas de Lula podem contrariar as pesquisas e mostrar que ele tem mais capacidade de transmitir voto, favorecendo Boulos no lugar de Nunes e Tabata.

Além da força eleitoral, Lula, entre 1989 e 2022, trabalhou na desconstrução da imagem de radical para moderado. Foram necessárias quatro eleições nesse processo, mas o maior nome da esquerda brasileira conseguiu agradar a uma parcela do centro, que inclusive, o ajudou a se eleger em 2022. Esse ativo - a chegada de Lula na campanha - com ares de “novidade” para quem não acompanhou muito a corrida até aqui, pode dar o empurrão que Boulos precisa para se garantir no segundo turno.

Voltando à pesquisa, há outros dois dados que vou destacar. Para 82% dos entrevistados, influenciador digital não é capaz de influenciar voto, enquanto 6% acreditam que é, 12% não souberam ou não responderam.

E a pergunta: 

Votaria em candidato apoiado por seu líder religioso?

11% sim

76% não

12% não sabe ou não respondeu

A pesquisa nos faz pensar qual o peso que um presidente e um ex-presidente têm para eleição da maior cidade do país? E o líder religioso? E, afinal, o que, então, pesa para o eleitor?

Temos algumas pistas na própria pesquisa. Ainda que 57% não considere o plano de governo importante, e 72% não o considerem o vice importante, há uma maioria que considera a experiência para definir o voto (68%).

Outra pista: 59% dos entrevistados acreditam que sim, iniciativas de gênero e raça influenciam o voto, e 72% disseram que “sim”, o combate às crises climáticas no plano de governo importa.

Ainda que São Paulo seja maior que alguns países, cosmopolita e globalizada e esbarre em assuntos nacionais, a disputa local, tem preocupações locais. O paulistano sabe melhor do que ninguém quais são os gargalos no trânsito, no transporte público, na educação básica e no saneamento básico (como mostrou o Terra na série de reportagens "Votos Invisíveis"). E o candidato que melhor entender esse cenário e oferecer respostas viáveis ao eleitor, será o com mais chances de governar a maior cidade do país.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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