Script = https://s1.trrsf.com/update-1730403943/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Guilherme Mazieiro

Opinião: Em 1ª fala como presidente do STF, Barroso reforça papel da Corte e manda recado ao Congresso

Em meio ao avanço de medidas no Congresso que rebatem decisões recentes do STF, Barroso afirma que poderes não são "hegemônicos"

28 set 2023 - 21h03
(atualizado às 21h40)
Compartilhar
Exibir comentários
Ministro Luís Roberto Barroso tomou posse nesta quinta, 28, como presidente do STF
Ministro Luís Roberto Barroso tomou posse nesta quinta, 28, como presidente do STF
Foto: Veja

O discurso de posse de Luís Roberto Barroso, que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta, 28, trouxe falas firmes para reforçar o papel da Corte e o peso que os três poderes da República têm: harmônicos e independentes, jamais hegemônicos. A fala acontece em meio às movimentações do Senado que visam rebater decisões do STF, ainda que o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), diga que não há “revanchismo”.

“É imperativo que o Tribunal aja com autocontenção e em diálogo com os outros Poderes e a sociedade, como sempre procuramos fazer e pretendo intensificar. Numa democracia não há Poderes hegemônicos. Garantindo a independência de cada um, conviveremos em harmonia, parceiros institucionais pelo bem do Brasil”, disse Barroso enquanto olhava para Pacheco, sentado à sua direita, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acomodado à sua esquerda.

Em um primeiro momento, a impressão é que o discurso de Barroso rebate a dois momentos recentes de conflito institucional. O primeiro, quando ele era presidente do Tribunal Superior Eleitoral, entre 2020 e 2022, e as urnas foram constantemente atacadas pelo então chefe do Poder Executivo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). E o segundo, com as medidas orquestradas no Congresso nas últimas semanas.

Nesta quarta, 27, em uma votação relâmpago, o Senado aprovou um projeto de lei sobre o marco temporal. A tese jurídica que estabelece que indígenas só têm direito às terras que eles ocupavam ou pleiteavam em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, foi vencida em votação do STF, na semana passada. O texto do Senado vai para sanção de Lula, cuja expectativa de aliados é que seja vetado.

Além disso, o próprio presidente do Congresso, Pacheco, protocolou neste mês, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que criminaliza o porte de qualquer droga e em qualquer quantidade. A decisão foi tomada em meio às votações do STF sobre descriminalizar o porte de pequenas porções de maconha.

“Incluir uma matéria na Constituição é, em larga medida, retirá-la da política e trazê-la para o direito. Essa é a causa da judicialização ampla da vida no Brasil. Não se trata de ativismo, mas de desenho institucional. [...] Contrariar interesses e visões de mundo é parte inerente ao nosso papel. Nós sempre estaremos expostos à crítica e à insatisfação. Por isso mesmo, a virtude de um tribunal jamais poderá ser medida em pesquisa de opinião”, disse Barroso durante seu discurso.

O presidente também exaltou a defesa da democracia ante os ataques do dia 8 de janeiro e fez um gesto às Forças Armadas.

"Por aqui, as instituições venceram, tendo ao seu lado a presença indispensável da sociedade civil, da Imprensa e do Congresso Nacional. E, justiça seja feita, na hora decisiva, as Forças Armadas não sucumbiram ao golpismo", disse.

Sem mágoas

Barroso fez também dois gestos políticos importantes. Um para o grupo político de Lula. O ministro, que foi um dos entusiastas da Lava Jato no seu auge, e votou contra o habeas corpus que tiraria Lula da prisão, saudou nominalmente a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). 

“Minha gratidão vai também para a Presidenta Dilma Rousseff, que me indicou para o cargo da forma mais republicana que um presidente pode agir: não pediu, não insinuou, não cobrou. Procurei retribuir a confiança servindo ao Brasil sem jamais ter qualquer outro interesse ou intenção que não fosse a de fazer um país melhor e maior, um país justo, quem sabe um dia”, disse chamando-a de presidenta, no feminino. 

Barroso também agradeceu ao discurso elogioso feito em sua homenagem pelo decano da corte - membro com mais tempo -, Gilmar Mendes, dando-lhe um abraço. Ambos já protagonizaram duelos verbais agressivos no plenário. 

Em 2018, Barroso já disparou ao colega falas como “Vossa Excelência é uma vergonha, é uma desonra para o tribunal” e “o senhor é a mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia".

Servidor Público

O discurso de Barroso se pautou em três eixos: a “Gratidão, ao reconhecimento às pessoas que pavimentaram o meu caminho até aqui; ao Judiciário, nosso papel e nossas circunstâncias; e ao Brasil, essa paixão que nos une e os compromissos que devemos ter”, como ele próprio disse. 

Ainda assim, advogados com trânsito na Corte, ouvidos pela coluna de maneira reservada veem em Barroso um forte componente político e uma atuação mais midiática do que a de sua antecessora, Rosa Weber.

No encerramento, o novo presidente fez menção à parábola que usou quando foi sabatinado no Senado, em 2013.

“Viver é andar numa corda bamba. A gente se inclina um pouco para um lado, um pouco para o outro e segue em frente. É assim para todo mundo, não importa se você está no palco ou na plateia. Às vezes, alguém olhando de fora pode ter a impressão de que o equilibrista está voando. Não é grave, porque a vida é feita de certas ilusões. Mas o equilibrista tem de saber que ele está se equilibrando. Porque se ele achar que está voando, ele vai cair. E na vida real não tem rede”, disse.

Nas últimas palavras, após um discurso com tom político que reafirmou o papel e força do Supremo e, por tabela, também reafirmou o papel e limite dos demais Poderes, disse:

“Assumo a presidência do Supremo e do CNJ [Conselho Nacional de Justiça] sem esquecer que sou, antes de tudo, um servidor público. Um servidor da Constituição. Que eu possa ser abençoado para cumprir bem essa missão”.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade