Opinião: Em semana de brigas com bolsonaristas, Marçal vê recuperação de Nunes nas pesquisas
Datafolha mostra que uma fatia maior do eleitorado de Bolsonaro volta a considerar voto em Nunes.
A pesquisa Datafolha publicada nesta quinta, 12, acompanha a tendência indicada na Quaest de quarta, 11. O cenário acirrado mostra Ricardo Nunes (MDB) retomando as intenções de voto, com 27%, e Guilherme Boulos (Psol) oscilando, com 25%, eles estão empatados tecnicamente. Pablo Marçal (PRTB) teve um recúo, indo a 19%.
Do último levantamento Datafolha para este, há dois movimentos políticos que podem explicar essa mudança, ambos relacionados a atritos de Marçal com o bolsonarismo.
O primeiro, é a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) entrando com mais vontade na campanha de Nunes e indo ao horário eleitoral de rádio e TV para dizer: “[Pablo] é a porta de entrada para o [Guilherme] Boulos”.
Na sequência, ele citava pesquisas que indicavam a preferência do eleitor por Nunes contra Boulos e Marçal em um eventual segundo turno. O governador passa o recado de que o prefeito, no segmento bolsonarista/antipetista, é a opção de voto útil. Nunes tem mais da metade do tempo da propaganda eleitoral. Marçal reagiu dizendo que tocar em seu nome era "“desonra para os conservadores" e sugerindo que o governador estaria enterrando votos que Bolsonaro lhe deu.
Este segmento do eleitorado é importante para entender esta eleição e o deslocamento dos apoiadores de Bolsonaro. O ex-presidente apoia, formalmente, Nunes, mas ao contrário de Tarcísio, entra timidamente na campanha. Marçal tenta tomar esse grupo, ainda que isso não lhe garanta vitória no segundo turno, como indicam as pesquisas.
No Datafolha desta quinta, há um dado importante sobre isso. Entre eleitores de Bolsonaro em 2022, Nunes tem 39%, eram 31% na semana passada; e Marçal, tem 42%, eram 48%. Na margem de erro deste recorte, de 5 pontos percentuais, eles empatam.
Ou seja, Nunes melhorou nesse segmento bolsonarista mesmo sem o apoio explícito do ex-presidente. Os dados foram colhidos justamente na semana em que Marçal intensificou sua briga com um ícone do bolsonarismo, o pastor Silas Malafaia. O religioso organizou o ato em prol de Bolsonaro no dia 7 de setembro para pressionar por um pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Nunes e Tarcísio foram e ficaram em cima do trio. Marçal chegou ao final, quando o ato já tinha acabado, não pôde subir no caminhão e fez vídeos no asfalto, subindo no gradil com apoiadores - sem manifestar apoio a Bolsonaro, objetivo do ato. A atitude que soou como oportunismo barato incomodou Bolsonaro e Malafaia.
Em decorrência disso, Malafaia foi ao Instagram e fez pelo menos dois vídeos para “desmentir”, como ele próprio disse, Marçal. O conteúdo é recheado de ataques ao ex-coach que vão desde "narcísico", "megalomaníaco" a "soberbo", "mentiroso" e "lacrador".
Na briga contra os bolsonaristas, Marçal viu uma reação de um nome forte e próximo a Bolsonaro, o pastor Malafaia. E de um pupilo do capitão, Tarcísio, pedindo voto útil a Nunes. Ainda faltam três semanas e muita água para rolar, mas começam a aparecer sinais mais evidentes de que insistir no radicalismo pode cansar ou não ser a melhor estratégia até mesmo o eleitor bolsonarista.
O Datafolha entrevistou pessoalmente 1.204 moradores da cidade nesta terça (10) e quinta, com margem de erro geral de três pontos percentuais. A pesquisa, contratada pela Folha, foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número SP-07978/2024.