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Guilherme Mazieiro

Opinião: Haddad abandonou os livros e construiu notícias positivas para Lula

Governo emplacou boas notícias da pauta econômica e despoluiu ambiente político; mas a relação com o Congresso ainda exigirá muitos esforços

26 abr 2024 - 11h05
(atualizado às 11h08)
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Haddad entrega a Lira projeto para regulamentar reforma tributária
Haddad entrega a Lira projeto para regulamentar reforma tributária
Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

“O presidente Lula, hoje à tarde, assinou a mensagem que virá por meio eletrônico, como todas as mensagens presidenciais, mas fez questão que nós imprimíssemos, encadernássemos um exemplar e trouxéssemos às mãos do presidente Lira para formalizar a entrega de um ato tão importante”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim de tarde da última quarta-feira, 24. Ele falava no Salão Verde da Câmara dos Deputados, logo depois de entregar o primeiro projeto que regulamenta a reforma tributária.

Olhando assim pode até parecer que o titular da Fazenda reagiu à cutucada feita publicamente pelo presidente, na segunda, 22: “o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem que, ao invés de ler um livro, perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara”. A fala de Lula foi desastrosa. A imprensa noticiou como um puxão de orelha, mas o Planalto insistiu que foi uma brincadeira e que todos deveriam ter percebido.

Ora, o problema é que quando um político opta por se expressar com brincadeiras e ironias, simultaneamente assume o risco de ser mal compreendido pelo seu interlocutor, seja ele jornalista ou eleitor.

A fala de Lula morreu na mesma velocidade com que foi alçada às manchetes porque não tem amparo na realidade. Haddad é um dos principais articuladores do governo e todo mundo sabe disso.

Naquele fim de tarde de quarta-feira, enquanto articuladores do Planalto trabalhavam para adiar a sessão dos vetos, Haddad, a pedido de Lula, se deixava fotografar por um batalhão de fotojornalistas. A sua chegada, deslocamento pela Câmara e entrevista foram transmitidos em tempo real pelos canais de notícia 24 horas e pelas redes sociais. O ministro produzia uma notícia positiva ao vivo.

A entrega da papelada com mais de 300 páginas para o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), foi considerada um gesto de “respeito” pelos deputados. Logo depois, Haddad foi ao encontro do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), repetir a cortesia da entrega e alimentar jornalistas com mais notícias.

Comecei este texto com a frase de Haddad para mostrar como o governo acumulou vitórias e emplacou uma pauta positiva revertendo o que poderia ter sido um cenário catastrófico. A expectativa que se tinha, era de que naquele fim de tarde, o Congresso votasse - e derrubasse - vários vetos de Lula. Mesmo que sejam projetos já considerados perdidos no Planalto, o carimbo da reprovação no plenário é sempre ruim e ele foi postergado por mais 15 dias.

A condução dessa melhora passou por vários atores, o principal foi Lula. Na semana anterior, o ambiente era mais poluído e carregado. Por isso, o petista tentou falar com o presidente do Senado na sexta passada, 19, mas o parlamentar teve uma indisposição por reação à vacina e o papo foi adiado. O gesto foi estendido a Lira, com quem se encontrou no domingo, 21.

Não se sabe do que trataram. Ambos confirmaram o encontro ressaltando que não tornariam público o conteúdo da conversa. O fato é que dali não saiu ruído nem crise.

Depois da reunião com Lira, a semana começou com o anúncio do Acredita, programa de crédito que mira a classe média (fatia gorda do eleitorado). Foi nesse evento que Lula fez a brincadeira desastrosa sobre Haddad e os livros.

Na terça, o presidente tomou uma café da manhã descontraído com jornalistas e se conteve nas falas, sem produzir manchetes negativas. Naquele mesmo dia, a Câmara aprovou o Perse, programa de ajuda emergencial para o setor de eventos, e estabeleceu teto de R$ 15 bi até 2026. Pelas contas da Fazenda foi uma vitória, estimam economizar R$ 30 bilhões nos próximos dois anos.

Já na quarta, o governo conseguiu a derrubada da sessão do Congresso e a entrega do texto da tributária. Na quinta, 25, ainda veio uma decisão do Supremo Tribunal Federal que atendeu ao pedido do governo e suspendeu a eficácia de trechos da lei que prorrogou a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia até 2027.

Essa vitória trouxe um efeito colateral imediato, a queixa do Congresso. Pacheco soltou nota para dizer que “o governo federal erra ao judicializar a política e impor suas próprias razões, num aparente terceiro turno de discussão sobre o tema da desoneração da folha de pagamento” e que estuda medidas políticas e jurídicas. Esse ônus já estava nos cálculos do governo.

A atuação de Lula foi determinante para a pauta da semana, ainda que a melhoria da articulação não se dê do dia para noite. Fato é que as vitórias dessa semana dão algum conforto para o governo e permite que os ministros, quem sabe, até tirem um tempinho no final de semana para lerem um livro.

Bom final de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui, gratuitamente, e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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