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Guilherme Mazieiro

Opinião: Lula rebate críticas, evita confrontos e mostra que está pronto para buscar 2026

Lula mostrou que quer menos confusão e mais resultado de seu governo e seus aliados.

30 jan 2025 - 13h35
(atualizado às 13h55)
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Lula, presidente da República, em entrevista nesta quinta-feira, 30
Lula, presidente da República, em entrevista nesta quinta-feira, 30
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Menos de um mês após trocar o ministro e peças chave da comunicação do governo, Lula (PT) deu as caras para uma entrevista coletiva de 1h15 a jornalistas no Palácio do Planalto. O mandatário mostrou um tom sereno, rebateu críticas sem confronto e tentou passar confiança sobre sua gestão e medidas que tomou até aqui. Resumindo, Lula sabe que precisa melhorar e quis mostrar que confia no taco para chegar forte e competitivo nas eleições de 2026.

O presidente defendeu as medidas comandadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os bons números de crescimento do PIB, da indústria, do consumo e a reforma tributária aprovada no Congresso.

Ainda que não tenha prometido revisões no crescimento da dívida no longo prazo - uma cobrança de agentes e operadores do mercado - reforçou o compromisso fiscal, indicando a redução do déficit e mais crescimento do PIB.

O petista, que passou dois anos às turras com os aumentos de juros do Banco Central, disse que a decisão desta quarta, 29, já estava “praticamente demarcada” e não reclamou do entendimento unânime dos diretores em elevar de 12,25% para 13,25% a Selic. Foi a primeira vez neste mandato que o BC se reuniu tendo a maioria dos diretores indicados pelo petista.

“O presidente do Banco Central [Gabriel Galípolo] não pode dar um cavalo de pau num mar revolto de uma hora para outra”, declarou Lula em tom ameno.

Ainda na área da economia fez uma defesa do ministro Fernando Haddad, alvo de críticas recentes do presidente do PSD, Gilberto Kassab. 

"Eu comecei a rir [sobre Kassab]. Quando ele disse que se a eleição fosse hoje eu perderia. Eu percebi que a eleição é daqui a dois anos, fiquei despreocupado", afirmou Lula.

Um dos mais habilidosos políticos no cenário atual, Kassab é articulador do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e base de Lula, com três ministérios na Esplanada: Pesca, Minas e Energia e Agricultura. Em um movimento raro para um quadro tão refinado, disparou contra Haddad, chamando-o de “fraco”. A fala de Kassab parece um indicativo de onde ele quer o partido em 2026, ao lado oposto ao de Lula.

Sobre a popularidade em baixa, conforme dados da pesquisa Quaest, Lula mostrou tranquilidade em reconhecer que o governo “não está entregando aquilo que prometeu” e diz não se incomodar porque o jogo ainda não acabou.

“'É o ano mais importante do meu governo, porque é o ano que a gente começa a grande colheita de tudo que foi plantado em 2023 e 2024 [...]. Na verdade, foi quase que uma reconstrução das coisas do país para que a gente pudesse fazer o país voltar a funcionar, o país voltar a ser respeitado no mundo, o país voltar a ser um país que tenha importância no cenário político internacional”, disse Lula.

O presidente veio a público antes da eleição no Congresso, marcada para o próximo sábado, 1º de fevereiro, que deve oficializar Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) no comando da Câmara e Senado, respectivamente. Pensando em estratégia de comunicação, é um momento oportuno, porque é o ocupa o noticiário com suas declarações antes da imprensa voltar suas páginas para as votações e repercussões dos novos poderosos do Congresso.

Sobre a disputa no Parlamento, evitou dar palpites e sinalizou que conversará e manterá relações com quem os deputados e senadores escolherão como presidente.

“O meu presidente do Senado é aquele que ganhar, e o da Câmara, é aquele que ganhar. Quem ganhar, eu vou respeitar e vou estabelecer uma nova relação”, afirmou o petista, completando que fará as trativas que forem necessárias.

Ainda sem essa definição dos blocos e do peso de cada partido nos cargos chave do Congresso, Lula sinalizou que esperará o cenário se confirmar para, então, refazer a montagem de seus ministérios. Sobre um dos nomes cotados, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que ela poderia ocupar diferentes assentos. Ele não comentou, por exemplo, a especulação em torno do nome do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e disse que gostaria de ver o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), outro nome sondado para Esplanada, como governador de Minas Gerais.

Além de rebater as críticas de Kassab, minimizou as avaliações do presidente do Republicanos, Marcos Pereira, de que o governo está “um pouco sem rumo”. O partido que esteve na coligação de Jair Bolsonaro (PL) junto com o PP, tem o Ministério de Portos e Aeroportos e cobra mais espaço na Esplanada. 

Na área internacional, a fala de Lula seguiu a mesma linha pragmática que coordenou toda a entrevista: se Donald Trump taxar o Brasil, o Brasil taxará de volta.

Mostrou que não terá uma relação de subserviência ao presidente dos Estados Unidos e criticou medidas do republicano que vão na contramão de suas bandeiras internacionais: a saída do Acordo de Paris e o enfraquecimento da Organização Mundial de Saúde.

A impressão que Lula passou é a de quem sabe que precisa fazer mais e entregar melhores resultados e reforçou uma fala que fez durante a reunião ministerial, semanas atrás: o enfrentamento político. Não pela violência, claro, mas no sentido de debate público.

“Quem quiser derrotar a política do meu governo vai ter que aprender a fazer luta de rua, porque é mais fácil na internet mentindo. Agora, é muito difícil ter coragem de ir à rua conversar com o povo e discutir com o povo as coisas que estão acontecendo no país. Esse é meu tipo de governar e fazer com que as coisas deem certo no Brasil”, declarou.

Lula mostrou que quer menos confusão e mais resultado de seu governo e seus aliados. Fez a entrevista de 1h15 em pé, para afastar qualquer dúvida de que poderia estar cansado do ambiente e dos desafios políticos. Teremos dois anos para saber se esse empenho terá sido suficiente.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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