Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Guilherme Mazieiro

Opinião: Marçal perde pontos em SP, mas mantém vantagem sobre Bolsonaro

Fora do poder e inelegível, o capitão vê apoiadores que empinavam "arminhas" com os dedos fazendo o "M".

20 set 2024 - 09h54
Compartilhar
Exibir comentários
Jair Bolsonaro e Pablo Marçal juntos em manifestação em 2022.
Jair Bolsonaro e Pablo Marçal juntos em manifestação em 2022.
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Pablo Marçal (PRTB) começou a eleição para prefeitura de São Paulo provocando tremores na base de apoio da extrema direita. Esse grupo, que via em Jair Bolsonaro (PL) o grande líder, percebeu que pode ter alternativas no mesmo escopo radical. Afinal, o capitão está inelegível. Talvez fosse muito cedo para comprar briga e após dias intensos de farpas e trocas de acusações com os filhos do ex-presidente, o ex-coach e o clã se ajustaram, anunciaram a paz e baixaram as armas.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) é o candidato oficial de Bolsonaro. Porém o capitão não faz campanha para ele. Muito em razão do seu eleitorado estar dividido entre o atual prefeito e Marçal. Os números do Datafolha podem jogar alguma luz na discussão.

A pesquisa do dia 22 de agosto mostrava uma ascensão de Marçal sobre este eleitorado. Naquele momento, 44% dos entrevistados que votaram no capitão em 2022 preferiam o ex-coach; 30% optavam por  Nunes. O dado mostrava uma escalada de Marçal nesse segmento, em 8 de agosto, ele tinha preferência de 29% e o prefeito, de 38%.

Nos últimos levantamentos, o cenário foi se alterando com a recuperação de Nunes. A pesquisa desta quinta, 19, indica que o eleitorado de Bolsonaro se divide igualmente entre ambos. Marçal leva 41% das intenções e o prefeito, 40%.

Há alguns sinais que podem indicar essa alteração como as propaganda obrigatória em rádio e TV - que o emedebista possui mais da metade do tempo - com o patrocínio político do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos); um cansaço da base bolsonarista sobre a estratégia de manter uma campanha constantemente violenta; e o indicativo de que em um segundo turno, quem venceria a esquerda de Guilherme Boulos (Psol) é o atual prefeito, daí a ideia de voto útil.

Importante destacar a recuperação do prefeito e a resiliência de Marçal em manter esse apoio. O ex-coach, no entanto, vai mal em outra esfera que tem familiaridade com o bolsonarismo, os evangélicos.

A última pesquisa Datafolha mostrou uma alteração na intenção de voto desse segmento religioso. Nunes apareceu como preferido dos evangélicos pela primeira vez desde 22 de agosto. Ele tem 32% das intenções de voto e Marçal, 26%. Na margem de erro, de 6 pontos percentuais, estão empatados. Se observado o movimento desde 22 de agosto, Nunes vem ganhando terreno nesse campo e Marçal perdendo. Naquele primeiro recorte, o emedebista tinha 22% contra 30% do adversário.

Um fator importante neste campo é Silas Malafaia. O pastor que lidera a Assembleia de Deus Vitória em Cristo e é um dos principais apoiadores de Jair Bolsonaro. Foi ele quem organizou o ato de 7 de setembro para bolsonaristas atacarem o ministro Alexandre de Moraes e cobrarem seu impeachment. Ato, aliás, que Marçal chegou quando já tinha terminado e não subiu no trio elétrico. A partir dali houve uma disputa de narrativas e versões entre o pastor e o ex-coach que se estende até hoje.

Nesta semana, Malafaia fez vídeos contra Marçal destacando falas antigas dele contra evangélicos.

“Ele diz que a Igreja Católica matou centenas de pessoas e que a Igreja Evangélica mata espiritualmente. Isso é uma afronta a mais de 60 milhões de evangélicos. Eu queria entender como tem pastor e evangélico que defende e vai votar num cara desses. Isso é uma vergonha”, falou o líder.

Como mostrou o antropólogo Juliano Spyer em seu livro “Povo de Deus”, este grupo é plural, diverso, cada qual com ideias e preferências particulares. Mas ninguém gosta de ser feito de trouxa. Repercutem recortes em grupos e redes sociais lembrando que Marçal tentou ressuscitar mortos com oração e fazer um cadeirante andar, mas não conseguiu. Isso pode soar como charlatanismo e aumentar a rejeição a ele - que lidera neste quesito, com 47%.

Mesmo que se consolide como terceiro nome na disputa e fique fora do segundo turno e longe da prefeitura, o ex-coach já firmou o pé na base bolsonarista. Repare que apesar do distanciamento de Bolsonaro, a atuação de Malafaia e outros segmentos evangélicos contra ele, disparos de Tarcísio e Nunes, Marçal tem preferência de metade desse eleitorado.

Ele já acertou onde muitos políticos falharam nos últimos anos, tomou para si uma fatia gorda dos apoiadores de Jair Bolsonaro. No atual cenário, fora do poder e inelegível, o capitão tem menos força para lutar e se vê a cada dia mais enfraquecido. Não por acaso, parte do exército de eleitores que empinava "arminhas" com os dedos já está fazendo o "M".

Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui, gratuitamente, e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade