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Guilherme Mazieiro

Opinião: O voto envergonhado de Bolsonaro na eleição de SP

Ex-presidente traiu seu eleitor? Distante da disputa na capital paulista, Bolsonaro vê, inerte, seu poder político diminuir.

4 out 2024 - 12h11
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O ex-presidente Jair Bolsonaro durante protesto contra o STF, no Dia da Independência, na Avenida Paulista, em São Paulo (Foto de 07/09/2024)
O ex-presidente Jair Bolsonaro durante protesto contra o STF, no Dia da Independência, na Avenida Paulista, em São Paulo (Foto de 07/09/2024)
Foto: REUTERS/Carla Carniel

O cenário incerto da eleição de São Paulo levanta dúvidas entre analistas de pesquisas sobre um possível voto envergonhado. Há quem sugira a possibilidade desse voto existir e aqueles mais ao centro optarem por Pablo Marçal (PRTB), mesmo sem sinalizar isso nas pesquisas de intenção por vergonha. Há também quem entende que o eleitor do ex-coach tem forte viés ideológico e, ao contrário, não esconde sua preferência. Mas o que a disputa na capital paulista mostra é que há sim um voto envergonhado, o de Jair Bolsonaro (PL).

O ex-presidente indicou o vice da chapa de Ricardo Nunes (MDB). Isso porque não conseguiu emplacar o candidato dos sonhos e restou-lhe a opção de compor, não liderar. A candidatura de Nunes é o típico modelo de “centrão paulista”, juntando viúvas do PSDB, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o partido do secretário estadual de governo e relações institucionais, Gilberto Kassab, o PSD.

Nesse contexto surge a figura de Marçal com um dos discursos que mobilizou a base bolsonarista em 2018 e nos anos de mandato do capitão: se dizer de direita de verdade é ser contra a política institucional e os quadros tradicionais. É uma tese disruptiva que apela às emoções tendo como alvo a política, a negociação, o acordo entre os diferentes, trazendo, um eco de discurso golpista.

Bolsonaro, é verdade, era um quadro tradicional e irrelevante no jogo político até se eleger presidente. Por 28 anos transitou sem qualquer destaque na Câmara, pulando de um partido do centrão para outro, mas conseguiu criar uma imagem para seus apoiadores de que sempre ficou à margem por que o “sistema” (seja lá o que signifique isso na visão dele) o impedia, não porque era inábil e desinteressado.

No seu governo, a tese de que não negociaria com partidos e sim com bancadas temáticas do Congresso (da Bíblia, Bala, Boi, etc) não durou seis meses. A realidade se impôs e já no segundo semestre de 2019 provocou um racha no partido pelo qual se elegeu, o PSL. Ele tentou criar um partido próprio, não conseguiu, e já em 2021, loteou o Planalto com quadros do centrão.

O mesmo grupo político que ele conviveu por décadas e, de repente, passou a condenar, assumiu as rédeas do poder e o fortalecimento do Orçamento via Congresso. Aliás, lembra do general Augusto Heleno cantando: se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão? Não ficou mesmo, PL, Republicanos e PP que o digam, se acomodaram confortavelmente no poder.

Já em 2024, inelegível e sem a máquina na mão, Bolsonaro vendia a ideia de que era dono de um grande patrimônio eleitoral. Mas foi dobrado pelo PL de Valdemar da Costa Neto e pela coligação do centrão paulista que o fez apoiar Nunes. 

Pablo Marçal surfou nessa onda. Foi a brecha para dizer que o bolsonarismo “de raiz” era contra o centrão. Contra Valdemar da Costa Neto, Kassab, as viúvas do PSDB e de João Doria. A ideia de que ele era mais fiel às bandeiras bolsonaristas do que o próprio Bolsonaro soaram como música aos ouvidos do eleitorado.

O temor de que Bolsonaro talvez não seja o real dono desse voto estremeceu o jogo na extrema direita. Marçal e os filhos do ex-presidente trocaram acusações e xingamentos em rede social. Houve um armistício temporário, mas o cenário seguiu inalterado, a base rachada, e deputados do bolsonarismo “de raiz” pulando para o barco de Marçal.

O último Datafolha mostra que na última semana, passou de 43% para 51% a preferência a Marçal entre os eleitores que votaram em Bolsonaro. Esse é um fator que ameaça a ida de Nunes ao segundo turno.

Jair Bolsonaro que não tem simpatia por Nunes fez pouquíssimos gestos à candidatura que oficialmente apoia. Em uma live nesta semana, se limitou a falar do candidato a vice, Mello Araújo, sem citar o prefeito.

E o ex-presidente não embarcou na campanha do influenciador. Talvez porque ele tenha algum compromisso político com seus aliados e a chapa de Nunes, talvez porque viu que, pela primeira vez, um candidato da extrema direita surgiu para tomar seu eleitorado e ficou de mãos atadas. A pesquisa Terra/Big Data mostrou que 71% dos eleitores não votariam em um candidato apoiado por ele.

A diferença de Marçal para outros que tentaram esse feito é que ele não vai do centro para a extrema direita. Ele nasce na extrema direita, com amplo domínio e influência nas redes sociais e se mantém agarrado a esse personagem agressivo.

Não por acaso, o influenciador é o mais rejeitado nas pesquisas, o Datafolha desta quinta, 3, mostrou que essa repulsa chega a 53% dos entrevistados, o que indica uma fragilidade inicial para disputar um eventual segundo turno.

Nesse contexto surge o voto envergonhado de Jair Bolsonaro. A jornalista Natuza Nery, da GloboNews, informou nesta quinta, 3, que o ex-presidente sequer assistiu ao debate da Globo. Mostra um desinteresse pela campanha. 

No domingo, quando saírem os resultados das urnas, conseguiremos ter uma percepção mais apurada sobre o peso desse segmento bolsonarista “de raiz” e o quão fiel é às teses de Bolsonaro e não, necessariamente, a ele.

Omisso, o capitão que não tomou posição nessa eleição corre o risco de ficar cada vez mais irrelevante politicamente e distante de sua base. Seria o pior cenário possível para quem está na mira da Polícia Federal e deve enfrentar julgamentos no Supremo Tribunal Federal, instituição que tanto atacou.

Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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