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Guilherme Mazieiro

Opinião: Quem é radical e por que SP rejeita tanto Boulos?

A normalização institucional do extremismo foi remodelada no jogo político, no Congresso e Planalto, e respinga na eleição de São Paulo.

18 out 2024 - 20h05
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Nunes e Boulos durante debate eleitoral.
Nunes e Boulos durante debate eleitoral.
Foto: Aloisio Mauricio/Foto Arena / Estadão

O despertar do "gigante" começou em 2013 com passeatas contra o aumento da passagem de ônibus. Enquanto esfregava os olhos, o “agigantado” começou a enxergar um inimigo na Copa do Mundo de 2014, no sistema político, em Dilma Rousseff (PT), no PT, na corrupção. Se havia uma defesa, era da Lava Jato. A sequência desse processo foi Jair Bolsonaro (PL) eleito presidente, o avanço de ideais ultraconservadores e radicais e uma repaginação do “centrão”.

Desde este chacoalhão, uma parcela do país vive encantada com ideias extremistas. A flauta que tirou do cesto essa serpente é tocada por formadores de opinião na imprensa, influenciadores, grupos e associações da sociedade civil e, claro, políticos de todos escalões.

A bandeira da extrema direita está cada vez mais alta no mastro político e não há movimentos para recolhê-la. A institucionalização dessas pautas é fruto dos últimos 10 anos de trabalho político destes grupos ou apenas o “gigante” que dormia no aconchego das camisas amarelinhas da Seleção? Ou um pouco de cada coisa? Difícil respondermos.

É verdade que nenhum dos 48 radicais que estiveram no 8/1 e pediram voto usando tornozeleira eletrônica se elegeram. Mas eles são a face mais caricata do extremismo. Além de tudo, são ilustres desconhecidos, marionetes golpistas.

Essa normalização institucional do extremismo foi remodelada no jogo político, no Congresso e Planalto. Em 2022, o centrão de Brasília (PP, Republicanos e PL) se uniu em torno da candidatura de Bolsonaro e deu-lhe diversos instrumentos para se reeleger. 

Foi a primeira vez que esse grupo basilar para qualquer governo viu condições reais de disputar e ganhar a Presidência desde a redemocratização, em 1988. No fundo não havia "alas" do governo. Militares, ideológicos e políticos tomaram o mesmo barco do capitão Bolsonaro. Foi um movimento natural.

Mesmo com uma gestão medíocre na pandemia, fila de ossos, maquiagem sobre o rombo fiscal e uma sanha golpista, faltou pouco para Bolsonaro ganhar. Mostrou a força de suas ideias replicadas dentro da máquina. Já o centrão ganhou e seguiu dando as cartas no governo Lula. Em 2024, elegeu milhares de prefeitos colhendo o repasse de emendas e mais emendas do Orçamento.

Nunes é dessa turma. Tão sem energia e brilho quanto as ruas de São Paulo no apagão. Há um mês, o atual prefeito da capital e líder nas pesquisas subiu em um palanque que pedia o impeachment e a prisão de um ministro do STF. O ato foi convocado por um ex-presidente investigado por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, venda ilegal de joias e outras fraudes que teriam sido cometidas durante seu mandato segundo a Polícia Federal. Bolsonaro nega acusações e se diz perseguido. Há quem acredite nisso, como Nunes e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Nunes também defendeu - em sinalização à base radical - o fim do passaporte de vacina, convidou para vice um ex-comandante da Rota que defende uma abordagem diferente em um bairro rico do que em um pobre, a política do CPF cancelado.

Ou seja, a pauta extremista está na disputa da eleição de São Paulo, ainda que sem uma defesa apaixonada, ela corre pelo tom morno de Nunes.

Nunca encontrei um militante verdadeiro do emedebista nas ruas, nem nas redes sociais. Talvez Tarcísio seja o mais próximo disso, pela oportunidade de mostrar sua capacidade de articulação. Tarcísio que também esteve no palanque golpista e defende a inocência de seu padrinho Bolsonaro investigado e inelegível.

O que faz políticos, entidades civis, religiosos bancarem Nunes? É o mesmo elenco que segue na defesa de Bolsonaro enquanto houver alguma perspectiva de sua utilidade eleitoral.

É evidente que grande parte dos eleitores não propagandeia ideias radicais e pouco se importa com essas questões que diferenciam uma candidatura de centro e da antiga direita com o extremismo. O ponto é que esses assuntos estão embutidos e se embaralham nos discursos de quem sabe falar a língua do empreendedorismo, de um Estado menor que te permita prosperar, e faz a defesa do conservadorismo - uma promessa de manutenção e segurança da base, da família em meio a tanta mudanças econômicas, sociais, etc.

Esse é um ativo importante desse grupo que mescla pautas de direita e extrema direita. O cultivo de um sonho próspero, junto de pautas radicais em tom suave e com comunicação efetiva nas redes (com a máquina de desinformação ligada ou não). O que resulta em um radicalismo, que camaleonicamente, se torna simplesmente em "direita".

Além do mais, são candidatos eleitoralmente viáveis. Partem de um patamar (esse sim, trazido pelo eleitor bolsonarista) na casa dos 30% dos votos.

Mas o título da Peneira Política de hoje sugere uma leitura sobre Guilherme Boulos (Psol), certo? Sim, na disputa da capital paulista, quem tem a pecha de radical é ele e por isso conta cada vez mais com Lula para estourar o teto de 30 e poucos por cento e ser aceito pelo eleitorado de centro.

O desafio de Boulos e sua campanha é tentar limpar essa mancha carimbada exponencialmente a cada like e compartilhamento nas redes sociais, de que ele é “invasor”, “militante de carteirinha que nunca trabalhou” e uma ameaça à "família". A pauta ideológica pintou com cores mais fortes um candidato da esquerda e, com isso, botou na sombra um prefeito que, de repente, lançou obras sem licitação pela cidade toda e parece ser menos agressivo e imprevisível ao eleitor.

A disputa em São Paulo implica em vários elementos nacionais e eleitorais que passam longe de propostas para a cidade. Se engana quem achar que estamos diante de uma corrida entre Lula e Bolsonaro, ou Lula e Tarcísio.

Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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