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Guilherme Mazieiro

Opinião: Vitória de Trump bota em xeque agenda internacional de Lula

Os apelos de Lula por diálogo e trabalho conjunto não constam no vocabulário de Trump.

6 nov 2024 - 11h41
(atualizado às 13h18)
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Candidato presidencial republicano e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, toca o vidro protetor, durante um comício de campanha, em Lititz, Pensilvânia
Candidato presidencial republicano e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, toca o vidro protetor, durante um comício de campanha, em Lititz, Pensilvânia
Foto: REUTERS/Eloisa Lopez

A vitória do republicano Donald Trump traz um desafio imenso para as propostas da agenda internacional de Lula (PT). O petista vai penar para conseguir espaço para discussões efetivas e, em seguida, avançar com propostas voltadas ao meio ambiente, combate à fome e taxação de grandes fortunas.

Não custa lembrar que o mesmo Lula, há cinco dias, declarou sua torcida por Kamala Harris. “Acho que a Kamala, ganhando as eleições é muito mais seguro de a gente fortalecer a democracia nos Estados Unidos. É muito mais seguro. Nós vimos o que foi o presidente Trump no final do seu mandato, ou seja, fazendo aquele ataque ao Capitólio”, disse o petista.

Após a confirmação do resultado, Lula publicou uma mensagem parabenizando pela conquista. “A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade”, disse o petista em redes sociais.

Os apelos de Lula por diálogo e trabalho conjunto não constam no vocabulário de Trump. Os três temas fundamentais da agenda do petista muito menos. Este é o maior obstáculo. São pautas opostas àquelas defendidas pelo republicano. No primeiro discurso já eleito, indicou maior uso de petróleo. Ele nega a crise climática, defende menos impostos para os endinheirados e promete deportações em massa e a atuação dos EUA independentemente dos organismos e cooperação internacional.

A diplomacia é feita com muito pragmatismo pela defesa dos interesses nacionais e regionais de cada país. Mas com Trump, o primeiro condenado que assumirá os EUA, será “América primeiro”. Pelas promessas de campanha, o republicano trabalhará para um maior protecionismo econômico, impondo dificuldades e barreiras para China - que por sinal, é o maior parceiro comercial do Brasil.

Lula concentra grande energia no G20, que acontecerá neste mês no Rio de Janeiro, e na COP 30 - cúpula do clima que será em Belém em 2025. Ainda que consiga arrancar acordos ou sinalizações para defesa do meio ambiente, aliança contra a fome no mundo e taxação de grandes fortunas neste finalzinho de mandato de Biden, não poderá contar que esses compromissos serão mantidos e cumpridos por Trump.

A vitória de Trump reflete em dois conflitos com peso em discussões diplomáticas: a tensão no Oriente Médio com Israel x Gaza/Líbano/Irã e na Ucrânia. O resultado das urnas dá força para Benjamin Netanyahu (Israel) e traz preocupações para Volodymyr Zelensky. Ainda, de quebra, essa eleição anaboliza os ânimos da extrema direita no mundo.

Pelo lado econômico, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta, 6, que na campanha de Trump foram ditas muitas coisas que causam apreensão no mundo inteiro, “então o dia amanheceu mais tenso”. Mas considera que entre o que foi dito e o que vai ser feito, pode ter alguma moderação.

“Temos que aguardar um pouquinho e cuidar da nossa casa, das finanças, para ser o menos afetado possível qualquer que seja o cenário externo”, disse a jornalistas.

O sistema americano de pesos e contrapesos dos EUA parece desequilibrado. O republicano voltará ao poder com uma Suprema Corte com composição conservadora, maioria no Senado e na Câmara. Ele tem muita condição política de cumprir o que prometeu durante a campanha.

Chamado de fascista por seu ex-chefe de gabinete, Trump volta mais forte e com mais sede de poder. Entre suas promessas de campanha, disse que usaria a força militar contra seus oponentes políticos nos EUA; tiraria a independência do Departamento de Justiça, demitiria milhares de servidores públicos de carreira; deportaria milhões de imigrantes em detenções de estilo militar. 

Pode ser que Haddad tenha razão em dizer que, posta em prática, a gestão de Trump não siga à risca o que ele prometeu. Ainda assim, diferentemente do que disse o ministro, o principal jornal americano, o The New York Times, destacava em letras garrafais o resultado: a tempestade Trump voltou.

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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