“Se Lula se calar é pior para nós”: como trabalhadores rurais veem críticas ao mercado
Coluna ouviu moradores de acampamento que participaram do lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar no Palácio do Planalto.
Ao contrário de banqueiros, investidores e seguradoras (o mercado) que condenam as críticas e queixas de Lula (PT) à taxa de juros e especulação cambial, trabalhadores rurais de um acampamento no interior de Goiás se sentem representados pelo presidente.
“Acho que ele tem que falar [contra a pressão do mercado]. Não ganhou para isso? Presidente tem que falar. Agora, eles [mercado] querem que ele se cale. Se ele se calar, pra nós é pior”, falou o pedreiro Erci de Souza Lopes, 51, pedreiro.
Na manhã desta quarta, 3, centenas de trabalhadores rurais estiveram no Palácio do Planalto para acompanhar o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, que prevê incentivos de R$ 76 bilhões para produção. Enquanto o evento não começava, Lopes e um grupo de cerca de 50 pessoas com camisas do MST e bonés da Caixa (que eram distribuídos no evento) acompanhavam atentamente um telão com transmissão que transmitia ao vivo as imagens de Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e dos ministros no Conselho da Federação em Brasília.
A coluna conversou com alguns deles para saber como veem a economia no país, um dos assuntos que têm dominado o noticiário, as discussões no Congresso e as entrevistas recentes de Lula.
Lopes mora, há dez anos, em uma ocupação na cidade Padre Bernardo (GO), a 117 km de Brasília. E se deslocou do município de 34.967 habitantes, (dados do Censo 2022) para acompanhar de perto Lula lançando o programa de crédito.
“Assisto ele direto. Acho que o ministro Haddad tem feito um bom trabalho”, disse, ressaltando que sente sua condição de vida e econômica melhores nos últimos anos.
Outro morador da ocupação em Padre Bernardes, o lavrador André Soares dos Santos, 52 anos, entende que as cobranças e críticas de Lula são feitas com a intenção de defender as classes mais baixas.
“Preocupação [do mercado está] em atingir a gente. O mercado quer predominar. O agronegócio que colocar a gente embaixo da sandália. A gente vê isso”, disse Santos.
O colega emendou dizendo que “o mercado é pressão, para eles, o ministro Paulo Guedes [titular da Economia no governo Jair Bolsonaro (PL)] era bom, né? Para nós, o ministro Haddad é melhor”.
“Acredito que nas conversas que ele faz sempre visa a nós, a classe mais baixa. Aí, ele vendo por nós, os outros se incomodam. Ele vendo o pequeno, o grande se incomoda”, finalizou Santos.
Sob críticas do mercado e o aumento do dólar, o presidente Lula convocou uma reunião nesta quarta, 3, com quatro ministros para discutir as contas públicas do país frente ao avanço do dólar.
Devem participar os ministros: Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação). Eles são membros da Junta de Execução Orçamentária (JEO), responsável por centralizar as discussões sobre a distribuição do Orçamento e avaliar a evolução das contas públicas.