Igreja destruiu arquivos sobre abuso sexual, admite cardeal
Durante cúpula no Vaticano, presidente da Conferência Episcopal Alemã reconheceu acobertamento de crimes sexuais do clero no passado
Durante cúpula no Vaticano sobre proteção de menores, presidente da Conferência Episcopal Alemã, Reinhard Marx, reconheceu o acobertamento de crimes sexuais do clero, no passado. Relatores exigem transparência.
O cardeal alemão Reinhard Marx reconheceu neste sábado (23/02) que a Igreja Católica "destruiu" arquivos sobre abusos sexuais cometidos por sacerdotes contra menores de idade. Discursando na cúpula realizada no Vaticano sobre "a proteção dos menores na Igreja", o presidente da Conferência Episcopal Alemã confirmou que "os arquivos que poderiam ter documentado esses atos terríveis e indicado os nomes dos responsáveis foram destruídos, ou nem chegaram a ser criados".
Reivindicando a eliminação da norma do segredo pontifício nos casos de abusos a menores, o assessor próximo do papa Francisco reforçou: "Os processos e procedimentos estabelecidos para julgar os crimes foram deliberadamente ignorados, até mesmo cancelados ou anulados, e os direitos das vítimas foram pisados e deixados à mercê de cada indivíduo."
A terceira e última sessão da cúpula foi aberta com uma oração e o depoimento de mais uma vítima. Aos 114 presidentes e vice-presidentes de conferências episcopais de todo o mundo presentes, Marx acrescentou que "qualquer objeção baseada no segredo só seria relevante se fosse possível indicar razões convincentes", mas que "como estão as coisas, não conheço essas razões".
O arcebispo de Munique foi um dos três relatores neste sábado: "Na era das redes sociais, em que todos e cada um podem estabelecer contato quase imediato e trocas de informação através do Facebook, Twitter, é necessário redefinir a confidencialidade e o segredo, e fazer uma distinção em relação à proteção dos dados", referiu.
Também o presidente da comissão para proteção de menores, o cardeal americano Sean Patrick O'Malley, afirmou ser "importante rever todo o conceito de segredo pontifício" em casos de abuso. O cardeal Marx insistiu, ainda, na necessidade da "comunicação ao público do número de casos e os detalhes relativos aos mesmos, na medida do possível".
"Se fracassarmos, perderemos a oportunidade de manter um nível de autodeterminação sobre a informação ou nos exporemos à suspeita do acobertamento", advertiu, exortando que sejam "estabelecidas normas e regras transparentes para os processos eclesiásticos".
A eliminação do segredo pontifício - que vítimas de abusos pelo clero exigiram em numerosas ocasiões, considerando que protege os agressores - é uma das propostas que mais se tem ouvido desde o início da cúpula, na quinta-feira. Do evento, que se concluirá no domingo com uma missa e palavras de Francisco, participam, ao todo, 190 representantes da hierarquia religiosa.
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