Aparece na mitologia grega e tem menção na Bíblia, esteve no repertório ritual de tribos e povos de todo o mundo, foi o último suspiro de grupos decadentes, a inglória salvação de pessoas em situação extrema, soldados, sobreviventes de quedas de avião. A antropofagia até emprestou nome para movimento cultural no Brasil. Ainda assim, ainda hoje, o canibalismo se reveste de uma aura de mito, e mesmo a escassez (não ausência) de exemplos nas demais espécies animais serve de argumento a quem diz que é impossível, que nunca houve, que é terrível demais para ser verdade.
Talvez mais terríveis que o próprio ato de comer outro ser humano sejam razões que não acham explicação no relativismo cultural ou na absoluta falta de alimento. São casos como o do alemão Armin Meiwes, que em 2001 procurou na internet alguém para comer e viu Bernd Brandes aceitar a proposta e se entregar à morte após provar o próprio pênis temperado com pimenta e alho. Embora seja difícil aceitar a existência de tamanha perversão, os casos se sucedem e desafiam a pena de psicólogos, que já arriscaram ver sadismo sexual, prazer oral, fantasia de incorporação do outro.
Um Brasil que se julgava livre do canibalismo foi estarrecido, em 2009, pela denúncia de que membros de uma tribo kulina, em Envira (AM), haviam assassinado a facadas um jovem deficiente mental e retirado suas tripas para comer. Indigenistas de todos os cantos bradaram contra a tese: jamais fora um costume daquela tribo. A hipótese de antropofagia ganhou contornos de boato e o tema saiu de cena – não por muito tempo: em abril de 2012, um trio de amantes foi preso em Pernambuco pelo assassinato de mulheres cuja carne era aproveitada na produção de empadas. O motivo? Diminuir a população do mundo e purificar a alma, segundo a polícia. A seguir, o Terra apresenta a história de brasileiros que, sem obedecer ditames sociais nem pedidos do estômago, praticaram o canibalismo.