Um dos cursos mais disputados nos vestibulares, a
Medicina desperta nos jovens o sonho de prestígio
e boa remuneração. A realidade dos médicos, no
entanto, é antes de tudo de muito trabalho e estudo.
Eles precisam se manter atualizados em relação a
novos tratamentos, medicamentos e doenças. É
preciso ter vocação para a profissão e ter a
consciência do papel social que isso representa
para a sociedade.
Foto: Shutterstock
Viver em cidades menores acaba sendo muito mais
tranquilo. E trabalhar não é diferente. É importante
pensar que além de qualidade de vida e da
possibilidade de ter mais saúde, morar no interior
também traz uma oportunidade de carreira
consolidada. Sem muita especialidade médica, atuar
em locais pequenos é uma chance de crescer e se
tornar um profissional de sucesso. “O nível de
respeitabilidade, o grau de relacionamento com as
pessoas e a oportunidade de desenvolvimento são
possibilidades maiores em cidades do interior. O
meu papel social hoje é mais relevante trabalhando
em uma cidade pequena”, afirma o médico
cardiologista Armando Martins.
Foto: Prefeitura de Porto Ferreira - SP
Uma cidade menor pode trazer melhores condições
de salários e possibilidade de expansão nos ganhos.
“Em uma cidade pequena, o profissional acaba
conseguindo ganhar até mais que nas capitais”, diz o
médico cardiologista Armando Martins, que deixou
Belo Horizonte, onde trabalhava como plantonista em
um hospital, para morar em Varginha – interior de
Minas Gerais – e abrir o próprio negócio na área
médica.
Foto: Márcio Arruda - CFM
De acordo com a pesquisa “Demografia Médica no
Brasil”, do Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo (Cremesp) em parceria com o Conselho
Federal de Medicina (CFM), a concentração de
médicos no Brasil é desigual. Ou seja, é determinada
pelo mercado, pela concentração de renda, pelas
disparidades regionais e pela distribuição das
especialidades médicas.
Foto: Divulgação/ Assessoria Conselho Federal de Medicina
Em determinadas localidades do País, como a cidade
de São Paulo, o número de médicos por habitante
chega a ser maior do que em nações desenvolvidas.
Segundo uma pesquisa do Conselho Federal de
Medicina, as cidades que abrigam escolas médicas
são também aquelas que concentram maior número
de serviços de saúde, públicos e privados – hospitais,
clínicas, postos de saúde e laboratórios –, o que
significa mais vagas. Isso pode explicar, em parte, a
maior densidade de médicos em cidades com maior
número de faculdades de Medicina.
Foto: Shutterstock
A cidade de São Paulo, por exemplo, contou, em
2011, com oito escolas médicas, 876 vagas – uma
para cada 12.836 habitantes – e uma taxa de 4,33
médicos por mil habitantes. Vitória, no Espírito Santo,
com população bem menor, tem três escolas, 500
vagas, uma para cada 1.162 moradores, e uma oferta
de 10,41 médicos por mil habitantes. Capitais como
Porto Alegre, Rio de Janeiro, Florianópolis, Belo
Horizonte e Recife repetem a mesma tendência,
concentrando a maioria das escolas médicas dos
seus Estados e, consequentemente, mantendo taxas
de médicos por mil habitantes acima de cinco, quando
a razão nacional é de 1,95.
Foto: Shutterstock
Três Estados, todos do Sudeste – São Paulo, Rio e
Minas Gerais –, têm mais de 2.000 vagas em escolas
médicas. Na outra ponta, três estados do Norte –
Acre, Roraima e Amapá – oferecem menos de 50
vagas cada um por ano. Esses dois últimos, segundo
o IBGE, são justamente os que apresentaram maior
crescimento médio anual populacional entre 2000 e
2010, com taxas de 3,34% e 3,45%, contra 1,17%
observado no Brasil.
Foto: Shutterstock
Uma pesquisa divulgada pelo IBGE, em novembro
de 2011, aponta uma distribuição irregular de
especialidades e postos médicos no Brasil. Entre os
636.017 postos profissionais existentes no país, a
maioria é de clínicos gerais (16,7%), seguida por
pediatras (10%) e ginecologistas (9,5%). Estão ainda
entre as especialidades com maiores taxas de
ocupação as de cirurgiões gerais (5,8%), ortopedistas
(5,5%), cardiologistas (5,2%) e anestesistas (4,3%).
Foto: Shutterstock
Outro indicador mostra o descompasso entre a oferta
de médicos e o número de habitantes. Segundo
dados do IBGE, enquanto 23,7% dos brasileiros
viviam nas capitais em 2009, 40,2% dos postos
médicos estavam nestes locais. Isso faz com que os
municípios tenham como índice 2,6 postos médicos
por mil habitantes. Os estados do Maranhão (1,3),
Pará (1,7) e Ceará (1,8) apresentam os piores
resultados na relação entre postos de trabalho
médicos a cada mil habitantes. No Amazonas (0,8%)
e no Acre (0,8%), por exemplo, a proporção é menor
do que um posto de trabalho médico por mil
habitantes.
Foto: Shutterstock
A má distribuição, segundo o Conselho Federal de
Medicina, afeta principalmente as regiões Norte e
Nordeste do País, onde expressiva parcela da
população brasileira não tem acesso aos serviços de
saúde. De acordo com dados do CFM, na região
Norte, há um médico para cada grupo de 1.130
habitantes. Para ser ter uma ideia da desigualdade,
na região Sul, a proporção é de um profissional para
509 habitantes, e nos Estados da região Sudeste são
439 habitantes por profissional. No Centro-Oeste, há
um médico para cada grupo de 590 habitantes. Já o
Nordeste conta com um profissional para cada grupo
de 894.
Foto: Ministério da Saúde
O Governo Federal implantou um programa de
incentivo para os médicos que desejam atuar em
cidades pequenas e nos bairros carentes das grandes
cidades. O projeto oferece ao profissional
recém-formado a possibilidade de receber uma
vantagem nas seleções de ingresso em residência
pela troca da prestação remunerada de serviços de
saúde em localidades prioritárias.
Foto: Shutterstock
O Ministério da Saúde desenvolve diversas ações
educacionais em parceria com o Ministério da
Educação com a finalidade de combater os
desequilíbrios regionais na oferta de especialistas. É
elaborado também um plano que deve estabelecer
metas de qualidade, quantidade e distribuição da
oferta de mais vagas de residência médica pelo País.
A meta do Governo Federal é financiar 4 mil
novas vagas de residência até 2014 e, até 2022,
garantir uma vaga para cada formando. Um
mapeamento das especialidades médicas mais
demandadas conforme a realidade atual da população
vai nortear a criação das residências, que serão
distribuídas conforme a necessidade de cada região.
Foto: Ministério da Saúde
Os programas que o Governo Federal oferece de
incentivo aos médicos são:
Programa Pró-Residência: apoia na formação de
especialistas através de residência médica e
residência multiprofissional;
Programa Residência: médicos formados pelo FIES
terão abatimento em seus saldos devedores, com
valor proporcional ao período que trabalharem em
um dos 2.282 municípios com carência de profissionais;
Programa Telesaúde Brasil Redes: capacitação dos
profissionais para o uso de tecnologias de informação
e comunicação;
Programa de Valorização do Profissional da
Atenção Básica: visa incentivar os médicos
recém-formados a trabalharem em municípios de
maior necessidade e em periferias das grandes
metrópoles, além de estimular projetos para fixação
de médicos nas regiões que mais necessitam.
Foto: Ministério da Saúde
A participação no programa é voluntária, sendo as
vagas, inclusive, limitadas. Inicialmente, serão
oferecidas 2 mil, a partir de fevereiro de 2012.
Com ajuda do Governo, o médico tem a oportunidade
de exercer a profissão e levar saúde para o Brasil em
locais onde há falta de profissionais.
Foto: Shutterstock
Segundo o Ministério da Saúde, aos municípios
caberá a contratação dos profissionais, o pagamento
dos salários e o custeio de moradias quando houver
necessidade. Os profissionais de saúde deverão atuar
nas regiões estabelecidas pelo período de um a dois
anos para ganhar a pontuação. Assim como já ocorre
atualmente, os próprios municípios serão
responsáveis pela contratação dos médicos. Não
haverá uma seleção nacional, ou seja, as admissões
serão realizadas diretamente pelas gestões
municipais, de acordo com o tipo de contratação
existente em cada cidade.
O médico deverá estar cadastrado no Sistema de
Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde
(SCNES) e, ainda, informar ao Ministério da Saúde,
através de formulário digital próprio disponibilizado
pelo Departamento de Atenção Básica, o início,
o término e as eventuais interrupções de sua atuação
no
município priorizado.
Foto: Marcio Arruda - CFM
A prática médica no Brasil passa por uma série de
transformações. Antigamente, o médico trabalhava
onde queria, com os horários que escolhia e a
remuneração que determinava. Hoje, a maioria dos
médicos tem vínculos públicos e privados, cumpre
carga horária de trabalho excessiva e acumula vários
empregos.
De acordo com a pesquisa do CFM, a jornada de
trabalho dos médicos é, em média, superior a 50
horas semanais. Cerca de 30% dos profissionais
trabalham mais de 60 horas por semana. Os médicos
atuam, em média, em três diferentes postos de
trabalho, sendo que mais de 30% acumulam quatro ou
mais locais de trabalho.
Foto: Osmar Bustos - CFM
Segundo o CFM, o problema da oferta de médicos no
Brasil tem relação não só com a densidade
demográfica e o quantitativo de profissionais, mas
com os postos de trabalho ofertados, as jornadas de
trabalho, as condições de exercício profissional, a
remuneração, o perfil e a disponibilidade de
especialidades médicas. Os fatores socioeconômicos
também influenciam a atração e retenção de médicos
pelo País.
Foto: Márcio Arruda CFM
Para Desiré Calegari, esse tipo de contratação de
serviços médicos que o Governo pretende implantar
com os programas de incentivo não é adequado, uma
vez que o profissional recém-formado está em
processo de aprendizado. Para isso, defende como
política de interiorização eficaz a criação de uma
carreira de estado para os profissionais e a
implantação de planos de cargos, carreiras e
vencimentos.
Foto: Shutterstock
O CFM considera fundamental que a estrutura e os
recursos tecnológicos da saúde sejam aperfeiçoados,
principalmente no interior dos Estados. “Não dá para
fazer medicina sem investimento. O médico precisa
ao menos de uma estrutura básica para atender
adequadamente a população”, diz Desiré Carlos
Callegari, 1º secretário do Conselho Regional de
Medicina. Ele também avalia como desnecessária a
abertura indiscriminada das escolas médicas. Para
Desiré Callegari, o médico não precisa ganhar muito,
precisa ser valorizado e ter condições de trabalho.
Foto: Ministério da Saúde
E quem já passou por essa experiência de deixar a
cidade natal e partir para outras localidades, sabe o
quanto o começo é difícil. “Acredito que o pior de
trabalhar em uma cidade distante é a saudade da
família. Você acaba perdendo datas como
aniversários, casamentos, tudo porque está longe e
não dá para viajar sempre”, diz Paulo Delduque, que
saiu do Rio de Janeiro para trabalhar em Porto
Ferreira, a 220 km da capital paulista.
Foto: Shutterstock