As velas de Portugal mal completavam quatro dias ancoradas quando o frade Henrique de Coimbra contou com a brandura dos índios para celebrar a primeira missa em solo brasileiro. Quase quatro séculos depois, o Império daria lugar a uma República que separou Igreja e Estado e fez do Brasil um país laico, condição que sobreviveu a cafés-com-leite e ditaduras até desembocar na Constituição de 1988.
Hoje, um Estado cuja moeda pede “Deus seja louvado” é regido por um texto que, de um lado, veda à União estabelecer e subvencionar igrejas e, de outro, se anuncia escrito “sob a proteção de Deus”. O recato que orbita o debate se nota na delonga de oito anos para que o Supremo Tribunal Federal (STF) votasse a descriminalização do aborto de anencéfalos: proposta em 2004 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, a ação foi julgada procedente em 12 de março de 2012, não sem arrastar consigo a difícil tarefa de achar fronteira entre o compromisso democrático com a laicidade e o direito não menos democrático à liberdade de crença.
Como o Estado deve proceder quando, sob o escudo da liberdade religiosa, se professa a violação das liberdades da mulher e do homossexual? Por que despregar os crucifixos das paredes dos prédios públicos quando aí se tem uma maioria representada? A seguir, o Terra lembra alguns dos temas que têm enredado fé e política no Brasil.