Intolerância à lactose: como identificar e lidar com ela
O diagnóstico é importante para descartar outras doenças com sintomas similares; tratamento permite que o paciente tenha vida normal
Se você já passou mal depois de comer leite ou laticínios, existe uma grande chance de você ser intolerante à lactose. Afinal, acredita-se que a condição acometa até 70% da população mundial ao longo da vida.
A intolerância nada mais é do que uma dificuldade em absorver o açúcar presente no leite, a lactose, pela incapacidade de produzir a enzima lactase, que é responsável por essa digestão. A lactose não absorvida, então, fica dentro do intestino e pode provocar sintomas variados: desconforto abdominal, gases, azia, cólica, sensação de estufamento, diarreia.
"Uma tentativa de o organismo de mandar embora aquela partícula que não foi absorvida", explica Isadora Elias Pereira, gastroenterologista e professora de medicina da Universidade Privada de Campo Grande, Uniderp.
Na prática, graças às enzimas artificiais e ao aumento de produtos sem lactose no mercado, o dia a dia do paciente é pouco afetado. No entanto, saber o diagnóstico é de extrema importância, de acordo com a médica, pois descarta a possibilidade de outras doenças com sintomas parecidos.
Como é feito o diagnóstico?
São três as maneiras de diagnosticar a intolerância à lactose. A primeira, mais comum e amplamente disponível, é por meio do teste de sangue. Nele, o paciente recolhe o sangue em jejum e outra vez após a ingestão de uma certa quantidade de lactose.
"O objetivo é perceber a variação de glicose no sangue. Se ela aumentar, significa que a lactose foi absorvida; se não, pode significar que a pessoa não consegue absorver essa molécula", esclarece Isadora.
A ideia é a mesma para o teste respiratório, que mede a quantidade de hidrogênio expirado, após ingerir lactose. "Quando o paciente não absorve essa molécula de açúcar, ele produz um ácido, H+, que é hidrogênio e passa, então, a ser expirado pelos pulmões. A máquina consegue quantificar isso", diz.
O último diagnóstico, que é o clínico presumido, ocorre quando a pessoa não consegue realizar os testes, mas observa a associação da alimentação com os sintomas. "Nesse caso, fazemos um teste terapêutico de consumir produtos sem lactose e usar a enzima industrializada para ver se há melhora dos sintomas."
Existem diferentes tipos de intolerância à lactose?
A intolerância mais comum é a primária. Ela surge com o passar dos anos e a redução da concentração de lactase no organismo. Ou seja, quando somos bebês, a quantidade de ingestão de leite é diária, por isso há uma alta produção da enzima. Porém, ao ficarmos mais velhos, essa produção diminui.
Existe também a congênita, quando a criança já nasce com a deficiência, algo que é muito mais difícil de acontecer. E até a secundária, quando há outra doença intestinal atrapalhando a absorção de lactose. Neste caso, basta tratar a doença de base, como parasitas no estômago, e a absorção de lactose pode ser restabelecida.
De acordo com a especialista, é importante não confundir a intolerância à lactose com a alergia à proteína do leite. "Uma reação do sistema imunológico que até pode ter sintomas gastrointestinais também, mas é muito mais reconhecido pelo inchaço nos lábios, coceira e manchas vermelhas na pele. Enquanto a intolerância traz sintomas apenas gastrointestinais", diz.
Como é o tratamento de quem tem intolerância à lactose?
Não existe cura ou prevenção para a intolerância primária. Mas há maneiras de reduzir consideravelmente os sintomas que causam desconforto, especialmente com a mudança na dieta. Ao contrário do que pensam, o leite não deve ser abolido - a não ser que recomendado pelo médico. Mas sim adaptado: seja pela diminuição da quantidade ou pela troca por produtos veganos. Neste último caso, para garantir a ingestão de cálcio, invista em verduras de folhas verdes, feijão, ovos, ervilhas e tofus.
"Quem é intolerante à lactose já se conhece e sabe o que precisa comer para dar sintomas, quais os sintomas que tem e é justamente essa auto-observação que é legal de fazer", conta Isadora.
Na maioria dos casos, recorre-se à lactase sintética, formulada pela indústria farmacêutica em diversas apresentações e concentrações e ingerida antes das refeições que contenham leites e derivados. "É claro que ela não vai dar conta de grandes quantidade de lactose", alerta.