Mãe de vítimas da 'Chacina da Via Show' lamenta morte do marido antes da condenação
Jovens foram torturados e mortos a tiros, em 2003, em São João de Meiriti (RJ); o major da PM Ronald Pereira foi sentenciado pelo crime
Elisabeth Medina Paulino, de 58 anos, esperou 18 anos e dez meses para que todos os responsáveis pelo assassinato de seus dois filhos, Rafael e Renan Medina Paulino, fossem condenados. Na terça-feira, 11, a Justiça do Rio condenou o major PM Ronald Paulo Alves Pereira a 76 anos e oito meses de prisão por quatros assassinatos, incluindo o dos irmãos, e ocultação do cadáver de uma das vítimas do crime que ficou conhecido como 'Chacina da Via Show'.
"Desta última vez, não me avisaram do julgamento porque houve vários adiamentos anteriores e aí preferiram me avisar do resultado apenas. Por isso, desta vez não tive oportunidade de acompanhar pessoalmente. Meu marido não aguentou essa demora da Justiça e morreu após sofrer um infarto. Minha cunhada, mãe do Bruno, também perdeu o marido dela. E o pai do Geraldo também morreu sem saber da condenação do Ronald. Eles não aguentaram e, como meu marido, também sofreram um infarto. Nossa família era muito agarrada. Meus filhos eram maravilhosos. Eu tinha certeza que um dia conseguiria justiça. Por isso, nunca desisti de lutar por isso", disse Elisabeth em entrevista ao Extra.
O crime
Em 5 dezembro de 2003, Geraldo Sant’Anna de Azevedo Junior, então com 21 anos, Rafael Paulino, de 18 anos, e Renan Medina Paulino, de 13 anos, e o primo deles, Bruno Muniz Paulino, de 20 anos, foram torturados e mortos com três tiros de fuzil por um grupo de policiais militares que fazia a segurança da casa de espetáculo Via Show, localizada na cidade de São João de Meriti (RJ).
Geraldo foi acusado tentar furtar o veículo de um dos integrantes da segurança. Os outros três jovens, que eram seus amigos, tentaram intervir. Todos foram agredidos pelos agentes. Os policiais ligaram para Ronald que, junto com os agressores, levou os jovens até uma fazenda abandonada no onde foram executados com tiros de fuzil. Os corpos foram ocultados no local e colocados no interior de um poço.
Ronald Pereira era capitão da PM e chefe do 22º BPM (Maré) na época. Ele foi preso em 2019, após ser alvo da Operação Intocáveis, do Ministério Público e da Polícia Civil, e apontado como um dos líderes da milícia da Muzema, na Zona Oeste do Rio.