PCC: esposa de Marcola diz que marido passa fome em presídio federal
Marco Willians Herbas Camacho, de 55 anos, foi transferido para a Penitenciária Federal de Brasília em janeiro deste ano
A esposa de Marco Willians Herbas Camacho, de 55 anos, o Marcola, apontado como o principal líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), denunciou que o marido estaria sendo submetido a "um método de tortura" na Penitenciária Federal de Brasília. Marcola cumpre pena no presídio de segurança máxima desde janeiro deste ano.
Cynthia Giglioli Herbas Camacho enviou nota à imprensa, por meio do advogado Bruno Ferullo Rita, alegando que Marcola vive "situação desumana" e já emagreceu 20 kg por falta de comida.
"A alimentação, quando não chega atrasada é escassa e de má qualidade e causa infecção intestinal", alega.
Em outro trecho da nota, ela diz que o tratamento destinado a Marcola é um "método de tortura pelo resto da vida dele", já que "lá é praticamente pena perpétua".
O Terra entrou em contato com a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), mas até o fechamento deste texto não obteve resposta. O espaço segue aberto.
As acusações da esposa de Marcola
- - Falta de comida e alimentos estragados: Cynthia relata que os detentos recebem comida estragada e de má qualidade, o que teria ocasionado infecções intestinais em Marcola, assim como em outros presos. Outra situação seria a falta de comida: Marcola já teria reclamado diversas vezes que passa fome, o que resultou na perda de 20 kg.
- - Isolamento e saúde mental: Marcola também estaria vivendo em isolamento, deixando a cela apenas para a visita que ocorre 1 vez por semana.
Onde Marcola cumpre pena
Marcola foi transferido para a Penitenciária Federal de Brasília em 25 de janeiro deste ano, por decisão do ministro da Justiça, Flávio Dino. A transferência foi uma medida preventiva contra "suposto plano de fuga ou resgate".
É a segunda passagem do líder do PCC pelo presídio onde já cumpriu pena entre 2019 e 2022. Ao todo, Marco Willians Herbas Camacho foi condenado a 330 anos de prisão por diversos crimes.
No mês passado, Marcola foi levado sob forte aparato policial ao Hospital Regional do Gama (HGR), no Distrito Federal, para realizar exames de sangue e endoscopia.
Leia a íntegra da nota defesa de Marcola
Inicialmente, Cynthia assevera que por muito tempo se manteve quieta, longe de toda a imprensa com medo de possíveis represálias pelo Estado, temendo não somente pela sua integridade física, mas também pela do seu marido, entretanto, em razão de não aguentar mais a circunstância a qual estão submetendo Marco, decidiu falar.
Segundo ela, a Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Brasília é a única Penitenciária que fornece comida estragada e/ou impropria para o consumo, e quando a comida não chega estragada, é escassa e de má qualidade, ocasionando por diversas vezes infecção intestinal nos presos. Relata que desde que quando Marco chegou na unidade de Brasília, vem reclamando semanalmente durante as visitas que ele tem passado fome, inclusive, por diversas vezes fez reclamações sobre a qualidade e escassez da comida, e a situação desumana permanece. Acrescenta que Marco não é o único que passa por essa situação, informando que quase todos os presos que lá estão ou que já estiveram, também relataram situações em que passavam fome ou adoeciam pela comida que era fornecida.
Cynthia ainda descreve situação em que Marco teve que ser levado ao hospital para realização de exames, ainda retrata que desde que Marco chegou em Brasília – após ter passado pela Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Porto Velho – perdeu cerca de 20kg, cujo os quais não recuperou até hoje pela falta de comida que lhe é fornecida. Situação completamente ignorada e desprezada pelo DEPEN, que não faz nada para alterar esse quadro fático. Resignada, declara: “entendemos que tem diversas pessoas no mundo passando fome, o Estado está fornecendo comida, ainda que pouca, e de fome ele não vai morrer! Mas a verdade é que o dinheiro é do Estado e tem que ser fiscalizado, nesse casso, pra onde vai o dinheiro que seria destinado aos custodiados pelo Estado?!”.
A esposa de Marco expõe que o Presídio Federal também não permite que o familiar deposite o pecúlio, e questiona qual seria a razão que impeça o Presídio de estipular o que pode ser comprado e posteriormente a família deposita o dinheiro, assim, cessaria a situação pelas quais os presos naquele estabelecimento estão passando, porque as famílias dariam uma boa coberta, boa roupa, boa comida, assim como em todos os outros presídios do País, nas palavras dela “nós familiares não queremos que sirvam lagosta, e sim, apenas uma comida possível de ser comer”.
Para Cynthia, estão submetendo Marco a um método de tortura pelo resto da vida dele, tendo em vista que lá é praticamente pena perpétua, portanto, o preso passa o resto da vida sendo submetido a situações completamente desumanas. Também expõe que a situação é estendida aos familiares em dias de visita, sendo tratados como presos, ao passo que alguns dos agentes penitenciários são extremamente hostis, sendo grosseiros para acompanhar até o banheiro. Exemplificou que as visitas ficam trancadas no parlatório, e para irem até o banheiro precisam ficar batendo na porta, tocando companhia por diversas vezes até alguém resolver abrir. Além disso, Cynthia também manifesta sua indignação pelo fato de que as visitas com seu marido são todas realizadas em parlatórios com vidros blindados, com duração de apenas 3 horas, sem nenhum contato físico.
A esposa de Marco também relatou que está extremamente preocupada com o estado da saúde mental do seu marido, justificando sua preocupação pelo fato de que Marco nunca sai da cela para o banho de sol, apenas para visita que ocorre 1 vez por semana. Para Cynthia, a unidade o isolou como se estivesse em um pavilhão inteiro só para ele, vivendo em completa solidão, narra que ao lado de sua cela estão mais 3 presos, cujos os quais por questões de foro íntimo Marco prefere se afastar, e em razão disso, Marco está completamente isolado.
Relata ainda que seu marido, teve que conviver com a solidão quando foi transferido para a Penitenciária Federal de Brasília em 2019, quando ficou por um longo período sozinho em um andar, antes disso, Marco estava preso na Penitenciária Federal de Porto Velho, onde Marco tinha a “vivencia”, ou seja, a mesma ALA, com mais um preso, cujo qual Marco se referia como “pistoleiro”, evitando sair para o banho de sol com esse mesmo preso, e numa lamentável “coincidência” esse indivíduo foi junto com Marco para Brasília, o qual permaneceu ao lado de sua cela.
Cynthia desabafa dizendo que a família está preocupada porque esse completo isolamento, cumulado com outras mazelas devido à má alimentação, podem trazer danos terríveis no emocional dele. Neste momento Cynthia confessou que ultimamente tem percebido que seu marido vem sempre muito pálido, com as mãos bem trêmulas, que só vão passando após 1h de visita, menciona também que Marco não recebe suas cartas enviadas, tampouco as enviadas pelos seus filhos semanalmente, quando as recebe, é somente após meses do envio.
Por fim, Cynthia aduz que a Unidade Prisional tem ciência do estado de saúde de Marco e permanece inerte, desprezando o fato de passar períodos sem comida, ou com comida escassa e estragada, igualmente ignoram o fato de que Marco não sai para o banho de sol, continuam bloqueando cartas escritas pela família, e tampouco sequer o encaminham para uma consulta psicológica, perpetrando a tortura contra seu marido.