Kremlin diz "não ter informações" sobre desaparecimento de Alexey Navalny
Advogados estão sem ver o político a mais de 10 dias
O Kremlin alegou "não ter informações" sobre a transferência do líder da oposição russa preso, Alexey Navalny, pelas autoridades prisionais. Os advogados não o veem desde 6 de dezembro. Questionado sobre a situação de Navalny, o porta-voz do governo Dmitry Peskov reforçou que "nós [Kremlin] não temos a capacidade, nem o direito, nem o desejo, de rastrear o destino dos prisioneiros que cumprem penas por ordem de um tribunal".
Autoridades penitenciárias disseram a um tribunal nesta sexta-feira (15) que Navalny havia deixado as instalações IK-6 na cidade de Melekhovo, na região de Vladimir, cerca de 230 km (140 milhas) a leste de Moscou, segundo aponta um aliado do opositor russo, Vyacheslav Gimadi.
"O tribunal leu informações do Serviço Penitenciário Federal de que Navalny havia deixado o IK-6 fora da região de Vladimir. O Serviço Penitenciário Federal não diz onde exatamente e onde ele está agora, a participação de Navalny nos tribunais do Serviço Penitenciário Federal não garante, violando o seu direito à defesa e ao julgamento. Não sabemos [onde ele está] pelo 10º dia", publicou no X.
Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny, também comentou sobre no X: "Alexey 'deixou a região de Vladimir', disse o advogado no tribunal. Onde exatamente é desconhecido. Supostamente isso aconteceu em 11 de dezembro. Deixe-me lembrá-lo de que os advogados não veem Alexei desde 6 de dezembro".
Além dos 11 anos e meio de prisão que já cumpria, Navalny foi condenado em agosto a mais 19 anos de prisão. Ele virou destaque após se consolidar como opositor da elite do presidente Vladimir Putin, acusando-os de corrupção generalizada, abuso do poder e autoritarismo.
Outra aliada de Navalny, Maria Pevchikh, pediu ao Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas que os ajudasse a localizá-lo: "O que está a acontecer com Alexey é, na verdade, um desaparecimento forçado e uma violação flagrante dos seus direitos fundamentais. As respostas devem ser dadas", disse ela na quinta-feira (14).
Em comunicado, a Anistia Internacional reconheceu "a possibilidade de ele estar em trânsito para outra colónia prisional, mas como se não bastassem tentativas de envenenamento, prisão e condições de detenção desumanas, Alexey Navalny pode agora ter sido sujeito a um desaparecimento forçado".
A União Europeia também também se sensibilizou pelo caso e pediu pela "libertação imediata e incondicional de Navalny do encarceramento por motivos políticos". "A liderança política da Rússia é responsável pela sua segurança e saúde na prisão, pelo que serão responsabilizados. A UE reitera o seu apelo à sua libertação imediata e incondicional do encarceramento por motivação política", postou o chefe de política externa da UE, Josep Borrell, no X.
Já o Kremlin criticou o que ele avaliou como "interferência dos Estados Unidos" no caso de Navalny, após os EUA terem dito estar "profundamente preocupados" com o caso. "Estamos falando de um preso que foi considerado culpado pela lei e cumpre a pena de prisão que recebeu. Qualquer interferência, inclusive dos EUA, é inaceitável", disse Peskov.
*sob supervisão de Camila Godoi