Lula diz que EUA e Europa prolongam guerra na Ucrânia
No fim da viagem aos Emirados Árabes Unidos, presidente volta a acusar Ucrânia de ter contribuído para o início do conflito e defende criação de "G20 político" para negociar paz.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou neste domingo (16/04) em Abu Dhabi os Estados Unidos e a Europa de prolongarem a guerra na Ucrânia e defendeu a criação de uma espécie de "G20 político" para restabelecer a paz.
"A paz está muito difícil. O presidente [da Rússia Vladimir] Putin não toma iniciativa de paz, o [presidente da Ucrânia, Volodimir] Zelenski não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra", afirmou Lula, durante uma coletiva de imprensa no fim de sua viagem aos Emirados Árabes Unidos.
O presidente também voltou a acusar a Ucrânia de ter participação no início do conflito. "A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países", disse.
A guerra na Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022, após a Rússia invadir o país vizinho. Desde o início do conflito, Kiev passou a receber armamentos e munições de vários países europeus e dos EUA, o que possibilitou segurar o avanço russo e transformar uma guerra que Putin planejava terminar em poucas semanas em um conflito que dura já mais de um ano.
O governo brasileiro chegou a receber pedidos dos europeus para que vendesse munições aos ucranianos. O tema chegou a ser tratado durante a visita do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, ao Brasil. Lula, no entanto, recusou os pedidos e afirmou que o Brasil não iria se envolver na guerra.
As declarações de Lula sobre a contribuição dos EUA e da Europa para a manutenção do conflito ocorrem um dia após o presidente ter defendido o fim do envio de armamentos para Ucrânia e afirmado que os Estados Unidos precisavam "parar de incentivar a guerra".
"G20 político"
Em Abu Dhabi, Lula também reiterou a proposta da criação de um bloco de países neutros para promover negociações de paz nos moldes de um "G20 político" e afirmou ter conversado com a China e os Emirados Árabes Unidos sobre essa proposta.
"Estamos tentando construir um grupo de países que não têm nenhum envolvimento com a guerra, que não querem a guerra, que desejam construir paz no mundo, para conversarmos tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia, mas também temos que ter em conta que é preciso conversar com os Estados Unidos e com a União Europeia", afirmou, acrescentando que acredita no sucesso de uma iniciativa deste tipo.
Na coletiva, Lula também comemorou o sucesso da viagem aos Emirados Árabes Unidos e à China. "Volto ao Brasil com a certeza de que estamos voltando à civilização, porque o governo está fazendo sua obrigação, se abrindo para o mundo e ao mesmo tempo convencendo o mundo de se abrir para o Brasil", destacou.
O presidente celebrou ainda os acordos firmados com os Emirados Árabes Unidos durante a visita oficial e os assinados com a China, que foi a primeira parada do presidente na atual viagem.
Assinatura de acordos
Lula chegou a Abu Dhabi no sábado, onde se reuniu com o xeique Mohammed bin Zayed al-Nahyan. As relações bilaterais e a questão climática foram os principais temas do encontro.
Os governantes centraram a conversa em temas "sobre trabalho ambiental, mudança climática, energias renováveis, segurança alimentar e outros aspectos da cooperação", entre outras questões de natureza econômica, comercial e de desenvolvimento, bem como do campo da tecnologia, segundo informou a agência de notícias oficial dos Emirados Árabes Unidos WAM.
Nesse sentido, ambas as partes afirmaram que estão "em linha com os esforços para alcançar o desenvolvimento sustentável em ambos os países".
Dubai sediará a COP28 entre 30 de novembro e 12 de dezembro deste ano, que já está cercada de polêmica desde que se soube que o diretor-executivo da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC), Sultan Al Jaber, presidirá a conferência internacional. No início de janeiro deste ano, Belém foi a cidade escolhida como candidata oficial do país para sediar a COP30.
No final da reunião, os líderes trocaram uma série de memorandos de entendimento, bem como uma declaração conjunta no campo da ação climática para promover ambições de ação multilateral sobre a mudança climática. As cooperações acordadas abrangem o comércio, os esportes e a inteligência artificial.
"A parceria entre nossos países está amparada em ricas conexões nas mais diversas áreas, traduzida nos números expressivos do nosso comércio, na cooperação em esportes e em inteligência artificial", disse Lula no encerramento do evento.
Depois de assinar os documentos, o presidente dos Emirados ofereceu à delegação brasileira um banquete por ocasião do iftar, que marca a quebra do jejum do mês do Ramadã, com o qual se encerra aquela que é a primeira visita de Lula ao emirado em seu terceiro mandato, embora já tenha visitado este país do Golfo uma vez em 2003.
cn (AFP, efe, ots)