Macron nomeia aliado François Bayrou novo premiê francês
Centrista lidera partido que apoia o presidente francês desde a chegada dele ao Palácio do Eliseu, em 2017. Nomeação é tentativa de romper crise política francesa.O presidente francês Emmanuel Macron nomeou nesta sexta-feira (13/12) como novo primeiro-ministro da França o centrista François Bayrou, em uma tentativa de colocar fim à crise política do país.
Aliado de Macron desde sua chegada ao Palácio do Eliseu, em 2017, Bayrou, de 73 anos, se tornará o quarto chefe de governo francês neste ano, substituindo o conservador Michel Barnier, nove dias após uma moção de censura ter derrubado seu governo, que durara apenas três meses, o mais curto da Quinta República francesa, que começou em 1958.
Bayrou é chefe do partido Movimento Democrático (MoDem), que é aliado ao partido de Macron e conta com apenas 33 dos 577 deputados da Assembleia Nacional. Ele se tornará o sexto primeiro-ministro do mandato de Macron após a derrubada de Barnier na semana passada.
No sistema semipresidencialista da França, o presidente e os membros do governo são eleitos separadamente. Um presidente depende de um primeiro-ministro aceito pelo Parlamento para assegurar a governabilidade.
Bayrou agora enfrenta o desafio imediato de montar um gabinete que possa sobreviver a um voto de desconfiança em um Parlamento profundamente dividido e elaborar um orçamento para 2025 em uma tentativa de limitar a turbulência econômica, justamente o obstáculo que derrubou Barnier.
O anúncio foi feito depois que Macron recebeu Bayrou para uma conversa de quase duas horas na sexta-feira. A emissora BFMTV informou que as conversas com Bayrou foram "tensas".
Reações
Com sua nomeação, Macron está apostando na ala mais à esquerda de sua aliança, na esperança de ganhar a indulgência da oposição socialista.
Além disso, o veterano político centrista também conta com certo apoio da ultradireita de Marine Le Pen, uma vez que compartilha seu desejo por um sistema eleitoral mais representativo.
Assim como a líder ultradireitista, Bayrou passou pelo banco dos réus por supostamente financiar ilegalmente seu partido com fundos do Parlamento Europeu, acusação da qual foi absolvido em primeira instância por falta de provas, mas que ainda é objeto de um recurso no Ministério Público.
O líder centrista foi ministro duas vezes, uma delas em um governo conservador na década de 1990, e três vezes candidato presidencial (2002, 2007 e 2012). Em 2017, desistiu da disputa pelo Eliseu em favor de Macron.
Mas sua nomeação como chefe de governo foi recebida com frieza pelos diferentes partidos.
Enquanto o partido da esquerda radical A França Insubmissa (LFI) anunciou que apresentará imediatamente uma moção de censura, os ambientalistas também não parecem entusiasmados com a nomeação.
Os socialistas e comunistas, no entanto, não estão fechando a porta para um acordo legislativo, embora não estejam dispostos a se juntar ao Executivo.
Em relação ao ultradireitista Reunião Nacional, seu presidente, Jordan Bardella, disse à imprensa que manterá "as mesmas linhas vermelhas" que teve com Barnier, a quem acabou derrubando em uma moção de censura no último dia 4.
No entanto, Bardella disse que "não haverá nenhuma votação de desconfiança a priori" contra Bayrou, mas está esperando para vê-lo em ação.
Convocação de eleições antecipadas fragmentou ainda mais o Parlamento
Em junho, tentando romper o impasse que paralisava o parlamento, Macron surpreendeu o país e antecipou as legislações legislativas, que estavam previstas apenas para 2027. Ao dissolver o parlamento, Macron justificou a decisão afirmando que ela necessária para que "a França tivesse uma maioria clara" na esteira da vitória da ultradireita nas eleições para o Parlamento Europeu na França.
A convocação das eleições surpreendeu até mesmo aliados do presidente. No final, os resultados não foram o que o presidente esperava, e as consequências foram mistas.
Em vez de recuperar sua maioria, perdida em 2022, o centrista Macron viu as bancadas da esquerda e da ultradireita crescerem, mas sem que nenhuma conquistasse maioria. Houve, no entanto, alívio por a ultradireita ter se saído pior do que indicavam pesquisas iniciais.
Já o grupo centrista do presidente perdeu cadeiras. E a convocação das eleições também travou o quadro por pelo menos um ano, já que a Constituição veda a convocação de um novo pleito por esse período.
No final, as novas eleições resultaram em uma Assembleia ainda mais fragmentada, e o parlamento se dividiu em três blocos aparentemente irreconciliáveis: esquerda, centro-direita e extrema direita.
A Nova Frente Popular (NFP) - coalizão de socialistas, comunistas, ambientalistas e integrantes da esquerda radical - terminou as eleições com o maior número de deputados, mas também sem contar com maioria na Assembleia Nacional, e Macron se recusou a escolher um premiê indicado pela aliança de esquerda.
Quase dois meses depois, Macron acabou nomeando Barnier, ex-negociador europeu para o Brexit, como primeiro-ministro, em nome da "estabilidade", irritando a esquerda.
Ao ser indicado, Barnier só conseguiu garantir o apoio da aliança de centro-direita de Macron e de seu próprio partido conservador, Os Republicanos (LR), formando um governo de minoria. Dessa forma, sua sobrevivência passou a depender da líder de ultradireita Marine Le Pen, que finalmente decidiu pela queda.
No momento em que a maioria dos franceses considera Macron o responsável pela situação atual e com sua popularidade em baixa, cada vez mais vozes pedem a renúncia do chefe de Estado para superar a crise, uma opção que o presidente chamou de "ficção política".
md/jps (EFE, AFP, DW, ots)