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Meninos em caverna na Tailândia: como sobreviveram por 9 dias e quais as opções de resgate

Uma das possibilidades é treinar os garotos a mergulhar - mas há vários riscos; outra, é mantê-los vivos provendo alimentação e conforto até o nível da água baixar.

3 jul 2018 - 12h07
(atualizado em 6/7/2018 às 06h22)
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Os 12 garotos e o técnico faziam um passeio á rede de cavernas, quando começou a chover e a entrada ficou bloqueada
Os 12 garotos e o técnico faziam um passeio á rede de cavernas, quando começou a chover e a entrada ficou bloqueada
Foto: AFP/ROYAL THAI NAVY / BBC News Brasil

Doze meninos e seu técnico, integrantes de um time de futebol foram encontrados vivos e estão à espera de resgate em uma caverna na Tailândia onde ficaram presos há 9 dias e estavam, até então, sem comida.

Eles foram encontrados por mergulhadores na segunda-feira, agrupados sobre uma rocha, tentando escapar de uma inundação que ainda traz riscos.

Nesta terça, sete mergulhadores, incluindo um médico e um enfermeiro, foram ao encontro deles para checar seu estado de saúde, alimentá-los e mantê-los entretidos.

"Eles receberam alimentos de alto teor energético e fáceis de digerir, com vitaminas e minerais", disse o contra-almirante Apagorn Youkonggaew, chefe da força de operações especiais da Marinha tailandesa, em entrevista coletiva.

"Nós vamos cuidar deles o melhor que pudermos. Vamos tirá-los de lá em segurança", acrescentou Youkonggaew.

Espera

Segundo autoridades que acompanham o caso, o resgate pode demorar até quatro meses, devido ao nível da água, a dificuldades de acesso e a outras condições a que estão submetidos. Também há previsão de mais chuvas no local nos próximos três dias, o que atrasa o trabalho.

"O período de quatro meses é o pior cenário possível, mas as autoridades aproveitarão cada oportunidade que tiverem para retirar os meninos o mais rápido possível. Quem for forte o suficiente para se deslocar, será retirado primeiro", explica Youkonggaew.

O plano de evacuação inclui a drenagem da água que invadiu o local até que fique rasa o suficiente para viabilizar o salvamento.

Mas como eles sobreviveram todos esses dias e quais são os desafios e opções para retirá-los?

Eis algumas respostas a estas e outras perguntas.

Como foram parar ali?

O grupo está preso em um trecho do complexo de cavernas de Tham Luang, que fica no norte da Tailândia e é o quarto maior no país.

A odisseia dos 13 começou em 23 de junho, quando entraram no complexo e de lá não conseguiram mais sair.

Chuvas inundaram a área e acabaram bloqueando a entrada principal.

Após tentativas desesperadas de busca, na noite de segunda-feira, nove dias depois de terem entrado no local, dois mergulhadores britânicos os encontraram em um pequeno espaço acima do nível da água, a mais de 2 km da entrada e a uma profundidade de entre 800 metros e 1 quilômetro.

Como sobreviveram?

O holandês Ben Reymenants, parte da equipe internacional de resgate, disse ao programa Newsnight, da BBC, que encontrar os jovens e o treinador vivos "foge do comum".

"Obviamente eles estão muito fracos, mas estão todos vivos. Eles ficaram sentados em um pedaço de rocha, em um espaço reduzido, durante quase 10 dias, então isso é realmente um milagre", disse.

Eles estão em bom estado de saúde, no escuro, e apenas três deles apresentavam arranhões e feridas. O especialista acredita que isso só foi possível porque tiveram sorte na escolha do lugar para aguardar o resgate.

"Quando se está preso em uma caverna, você quer buscar o ponto mais alto do local (para se proteger)", diz Anmar Mirza, coordenadora nacional da Comissão Nacional de Resgate de Cavernas dos Estados Unidos.

Tentar adivinhar até onde a água subiu em enchentes anteriores é uma das estratégias que aponta, mas não se sabe, ainda, se foi essa a adotada pelo grupo. "Há várias maneiras de determinar esse ponto - procurando lama, folhas, lodo molhado nas paredes."

Temperatura e água ajudaram, mas e a comida?

Reymenants explicou que o lugar onde se encontram tem uma temperatura relativamente quente, de cerca de 26ºC, o que evitou uma possível hipotermia, como é chamada a diminuição excessiva da temperatura normal do corpo - um dos principais riscos quando se fica preso em uma área como essas.

Além disso, há água jorrando pelas paredes da caverna, o que foi essencial para evitar que desidratassem.

Especialistas estimam que o ser humano pode ficar sem comer por um período de 30 a 45 dias, mas que não resiste muito sem água. Alguns calculam que o tempo de sobrevivência sem ingerir o líquido varia de três a cinco dias, dependendo da pessoa, mas há casos que superam esse limite.

No caso da alimentação, Reymenants explica que por causa de sua composição anatômica, as crianças podem sobreviver por mais tempo sem comida.

O que não quer dizer, porém, que as condições no local estivessem favoráveis.

Um vídeo postado no Facebook pela Marinha da Tailândia mostra que eles pedem comida aos mergulhadores e dizem que estão com fome.

Tanques de oxigênio foram preparados para mergulhadores do lado de fora do complexo de cavernas
Tanques de oxigênio foram preparados para mergulhadores do lado de fora do complexo de cavernas
Foto: AFP/ROYAL THAI NAVY / BBC News Brasil

Como eles serão resgatados?

Há uma preocupação em retirá-los de lá o mais rápido possível por causa do aumento do nível da água. Há previsão de chuvas pelos próximos três dias e a lama dificulta o acesso das equipes de salvamento.

O grupo de resgate considera a opção de levar equipamento de mergulho à caverna, e treiná-los para que possam ser retirados seguindo o mesmo caminho dos mergulhadores.

"A opção de retirá-los por meio mergulho é a mais rápida, mas é também a mais perigosa", disse à BBC News Anmar Mirza, coordenadora nacional da Comissão de Resgate de Cavernas dos Estados Unidos.

Mergulhadores da marinha tailandesa, três mergulhadores especiais britânicos e militares dos EUA estiveram envolvidos nas buscas pelos meninos.

Foi um trabalho penoso. Eles levaram várias horas para conseguir chegar ao grupo a partir da entrada, através de passagens minúsculas e cheias de destroços, auxiliados por esforços de bombeamento de água 24 horas por dia para tentar limpar as águas da enchente.

Edd Sorenson, coordenador regional na Flórida para a Organização Internacional de Resgate e Recuperação de Cavernas Subaquáticas, disse à BBC News que a opção de mergulho é "extremamente perigosa e arriscada", acrescentando que ele a consideraria "um último recurso".

"Ter alguém em um lugar completamente sem visibilidade, que não está familiarizado com esse tipo de condição extrema...é realmente fácil e muito provável que eles entrem em pânico, colocando em risco de morte a si mesmos e os socorristas."

No total, mais de 1 mil pessoas foram envolvidas na operação, incluindo equipes da China, Mianmar, Laos e Austrália.

Perfuração

Autoridades tentaram perfurar as paredes da caverna para ajudar a drenar parte da água da enchente - entretanto, a espessura da rocha dificultou o trabalho.

A perfuração também foi sugerida como maneira de chegar aos meninos e ajudá-los.

Mas, até mesmo para começar o processo, novas estradas precisariam ser construídas acima das cavernas para acomodar o equipamento de perfuração necessário para quebrar a rocha.

Autoridades tentaram perfurar as paredes da caverna para ajudar a drenar a água no local, mas a espessura da rocha dificulta o trabalho
Autoridades tentaram perfurar as paredes da caverna para ajudar a drenar a água no local, mas a espessura da rocha dificulta o trabalho
Foto: EPA / BBC News Brasil

Além disso, Mirza, coordenadora nacional da Comissão de Resgate de Cavernas dos EUA, explica que teria que ter sido feito um levantamento das cavernas e que seria preciso conhecê-las profundamente antes de começar a perfurar - caso contrário, haveria poucas chances de cavar um buraco no lugar certo para os meninos e o treinador.

"Parece fácil, mas na verdade é muito difícil", diz ela. "É como achar uma agulha num palheiro."

Reabastecer?

Em uma coletiva de imprensa, o governador de Chiang Rai, Narongsak Osottanakorn, disse que continuaria a drenar a água da caverna e a enviar médicos e enfermeiros para verificar a saúde do grupo.

Mirza observa que a saúde dos 13 é uma grande preocupação. "Depois de nove dias sem comida, você tem que observar a ingestão de alimentos deles", diz.

Um hospital temporário foi criado nas proximidades da entrada da caverna para receber os garotos e o técnico presos na caverna
Um hospital temporário foi criado nas proximidades da entrada da caverna para receber os garotos e o técnico presos na caverna
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Pessoas privadas de alimentos podem sofrer efeitos prejudiciais à saúde se não tiverem uma reintrodução alimentar adequada - às vezes são efeitos tão graves quanto os de uma insuficiência cardíaca ou de comas.

Mirza diz que se o grupo estiver em um terreno elevado, a salvo de enchentes, reabastecê-lo pode ser uma boa opção por enquanto. Problemas de saúde deles "comprometem significativamente o esforço de resgate", diz o especialista.

Sorenson concorda. "Eu penso que seria melhor trazer comida, água, sistemas de filtragem e oxigênio se o espaço aéreo precisar e exigir", observa.

"Eles têm luzes e esperança agora, então eu sugeriria esperar, desde que possam obter suprimentos para lá dentro para ficarem confortáveis, aquecidos, alimentados e hidratados."

Enquanto permanecem no local, os esforços são para mantê-los em melhores condições e também facilitar a comunicação entre eles e o mundo fora da caverna.

Linhas telefônicas começaram a ser instaladas dentro do local, nesta terça, próximas ao local onde estão abrigados.

A expectativa é que, em breve, consigam conversar com seus pais.

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