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Milei é o Bolsonaro argentino? Entenda

Veja semelhanças e diferenças entre o ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e o candidato à presidência da Argentina, Javier Milei

19 nov 2023 - 12h13
(atualizado às 12h19)
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As atitudes do deputado radical de direita Javier Milei começaram a ganhar atenção no cenário político na Argentina, rapidamente, o perfil do político passou a ser associado diretamente com o ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. No país vizinho, alguns chamam Milei de "Bolsonaro argentino".

A vitória inesperada de Milei nas eleições primárias de agosto, chamou atenção na Argentina, analistas e jornais ao redor do mundo. Agora, Milei disputa o 2º turno das eleições à Presidência na Argentina neste domingo(19), contra o peronista e atual ministro da Economia Sergio Massa.

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Foto: Perfil.com / Perfil Brasil

As semelhanças são reconhecidas por políticos aqui no Brasil, o filho do ex-presidente, Flavio Bolsonaro, declarou apoio a Milei nas redes sociais, com a publicação no X, antigo Twitter.

Populistas

De uma forma geral, ambos os políticos idolatram o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Milei e Bolsonaro são populistas, utilizam as redes sociais no processo eleitoral, movimentam a juventude e fazem duras críticas ao sistema político vigente.

Após vencer as primárias argentinas, o ex-presidente Bolsonaro gravou um vídeo dizendo que tinha muito em comum com Milei.

"Temos muitas coisas em comum. Defendemos a família, a propriedade privada, o livre mercado, a liberdade de expressão, o legítimo direito à defesa e queremos, sim, ser grandes à altura do nosso território e de nossa população", afirmou Bolsonaro.

Cenário internacional

Jair Bolsonaro não exerceu uma diplomacia presidencial durante os quatro anos em que governou o Brasil. Ele mantinha alianças com governos conservadores, com destaque para Polônia e Hungria, e acabou seu mandato praticamente isolado no cenário internacional.

O argentino, Javier Milei, deu várias indicações de que não tem uma agenda externa, o que tem preocupado diplomatas de seu país, segundo relatos reservados. Quer ser visto como um "outsider", ou seja, que não é ligado a grupo algum.

Diferenças x semelhanças

Os dois líderes têm diferenças, no qual ficaram ainda mais evidentes na campanha de Milei. Para o especialista em relações internacionais, Christopher Mendonça, na área econômica, principalmente, está claro que os estilos são distintos.

"Bolsonaro tem uma pauta mais conservadora e Milei uma agenda mais libertária. Por exemplo, o candidato argentino é a favor da extinção do Banco Central e do controle cambial pelo Estado. Bolsonaro, na contramão, propõe um Banco Central independente", diz Mendonça.

Os discursos de Milei e Bolsonaro têm como ponto comum o combate ao socialismo na região. Ambos fazem parte do Fórum de Madri, uma aliança internacional "para frear o avanço do comunismo na ibero-esfera".

"Javier Milei é a versão com delay de Jair Bolsonaro, que, por sua vez, já era a versão com delay de Donald Trump. Estamos assistindo na Argentina ao filme que, no Brasil, foi exibido entre 2018 e 2022. É possível que, por características cívicas e institucionais, além de certo aprendizado com a história recente, os nossos vizinhos consigam escapar de um presidente antiinstitucional de ultradireita. Os prognósticos, contudo, não são tão encorajadores para os argentinos", Dawisson Belém Lopes, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais.

Para o consultor internacional Welber Barral, Bolsonaro e Milei são consequências do discurso antipolítica e da frustração coletiva com as soluções institucionais, fragilizadas pela situação econômica e empobrecimento de seus países. Também se identificam nas propostas simplistas e exóticas, cuja ineficácia é visível, mas que apelam ao sentimento popular.

"Entretanto, Milei é mais agressivo nas propostas de redução da intervenção estatal e da liberalização econômica, propostas que contrastam com a experiência recente de políticas econômicas argentinas", ressalta Barral.

Virgílio Arraes, da Universidade de Brasília, avalia que Milei combina o "messianismo político com o neoliberalismo econômico em grau avançado". "O surpreendente é a aceitação do eleitorado", diz Arraes.

"É o populismo bastante radical que encontra acolhida em uma população desanimada com a estrutura costumeira da política nacional", completa. Cenário bastante semelhante ao Brasil à época.

Na agenda de costumes, assim como Jair Bolsonaro, o candidato argentino Javier Milei também utiliza dos temas ligados à moral para impulsionar a sua ação política. Ambos afirmam serem contra o aborto, por exemplo.

Bolsonaro tem um apoio considerável entre os evangélicos. Conforme Christopher Mendonça, essa, no entanto, não é uma característica de Milei, que, por se "vender" como um libertário, não tem em seu radar de ação orientar ou sugerir escolhas religiosas.

Milei considera que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser permitido. De acordo com o candidato, todo casamento é um contrato e, portanto, não deve encontrar restrições para além do interesse das duas partes. Não cabe ao Estado, segundo ele, mediar relacionamentos afetivos.

"Esse posicionamento se diferencia do que prega Bolsonaro, que se posicionou a favor da configuração tradicional da família sem que haja novos desenhos familiares", recorda Mendonça.

Milei também se difere de Bolsonaro por defender a liberalização de drogas. O caráter libertário do candidato faz com que ele defenda o livre comércio, inclusive de produtos proibidos por lei. Bolsonaro tem posição contrária a qualquer tipo de flexibilização nesse sentido.

"De acordo com o candidato, não há motivos para proibir o uso de qualquer substância, desde que estas não sejam bancadas pelo Estado", observa Mendonça.

* Leia mais sobre as eleições na Argentina em Perfil.com

Perfil Brasil
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