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Milhares de alemães saem às ruas contra a extrema direita

15 fev 2020 - 13h50
(atualizado às 19h26)
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Sob o lema "Sem pacto com fascistas", manifestantes protestam na capital da Turíngia contra eleição de governador com apoio da AfD. Em Dresden, centenas marcham para conter ato neonazista.Milhares de pessoas saíram às ruas da cidade alemã de Erfurt, capital da Turíngia, neste sábado (15/02) em protesto contra a extrema direita. Dez dias atrás, naquele estado, a eleição de um governador com o apoio de populistas de direita gerou um terremoto político no país.

Em Erfurt neste sábado, manifestantes se reuníram na praça em frente à catedral da cidade
Em Erfurt neste sábado, manifestantes se reuníram na praça em frente à catedral da cidade
Foto: DW / Deutsche Welle

Sob o lema "Sem pacto com fascistas - nunca e em lugar nenhum", a manifestação foi a última resposta à polêmica votação que elegeu Thomas Kemmerich, do Partido Liberal Democrático (FDP), governador da Turíngia, com votos dos legisladores do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), do FDP e da União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel.

Kemmerich concorria contra o candidato à reeleição, Bodo Ramelow, do partido A Esquerda em coalizão com o Partido Verde e o Partido Social-Democrata (SPD), e venceu a eleição indireta por margem de um voto em 5 de fevereiro. Pressionado, ele anunciou sua renúncia no dia seguinte, e ainda permanece indefinido se haverá nova eleição na Turíngia.

O apoio ao mesmo candidato por parte de parlamentares da CDU, do FDP e da AfD provocou indignação em todo o país. A votação foi considerada uma quebra de tabu na política alemã, com o partido de Merkel acusado de promover um conluio com extremistas de direita.

A AfD da Turíngia é dominada pela ala do partido conhecida como Flügel, liderada por Björn Höcke, um político que um tribunal alemão, numa decisão incomum, decidiu que pode ser chamado de fascista por causa de suas declarações de cunho xenófobo e racista e que relativizam os crimes nazistas. Höcke tem suas atividades vigiadas pelo serviço secreto interno.

Em Erfurt neste sábado, muitos manifestantes reunidos na praça em frente à catedral da cidade carregavam cartazes em que se lia "sem pacto com fascistas", "não há lugar para nazistas", "não queremos o Quarto Reich" e "não queremos o poder a qualquer custo".

A manifestação na cidade da antiga Alemanha Oriental foi convocada pela Confederação Alemã de Sindicatos (DGB) e pela plataforma Unteilbar (indivisível, em alemão), que vem organizando uma série de protestos contra a extrema direita, o racismo e a intolerância. O ato também foi apoiado por movimentos como o Fridays for Future (Greve pelo futuro).

A polícia afirma que cerca de 6 mil pessoas estiveram concentradas na Domplatz (praça da catedral) neste sábado, e até 9 mil participaram da marcha que se seguiu pacificamente pelo centro de Erfurt.

Organizadores, por outro lado, falam em até 18 mil manifestantes reunidos ao longo do dia. Segundo um porta-voz da DGB, cerca de 50 ônibus vindos do estado vizinho de Hesse e de outras cidades da Turíngia se dirigiram a Erfurt neste sábado.

"Eu protesto porque a AfD está ganhando muita influência nas regiões do Leste. Eu sigo otimista, caso contrário não protestaria, mas limites foram ultrapassados. Isso não pode ser aceito", afirmou Maria Reuter, de 74 anos e moradora de Erfurt, à agência de notícias AFP.

Lido diante dos manifestantes, um discurso do presidente da Comunidade Judaica da Turíngia, Reinhard Schramm, afirmou que a extrema direita relativiza abertamente o nacional-socialismo e propaga a xenofobia, o ódio e o racismo. Para ele, a competição política entre democratas é necessária, mas a luta comum contra a AfD não pode ser sacrificada por essa competição.

Por sua vez, Stefan Körzell, membro do comitê executivo federal da DGB, disse que a eleição de um governador com apoio da AfD, 75 anos após a libertação do campo de extermínio nazista de Auschwitz, atesta "uma incrível ignorância e uma obsessão pelo poder".

O escândalo na Turíngia é um dos motivos que levaram a presidente nacional da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, a renunciar ao cargo no início da semana. Designada por Merkel para ser sua sucessora, ela também anunciou sua desistência da candidatura para chanceler federal.

O caso também levou Merkel a demitir o então encarregado do governo alemão para os estados do Leste do país, Christian Hirte. Também vice-presidente do partido na Turíngia, ele foi duramente criticado por parabenizar Kemmerich no Twitter.

Protestos paralelos em Dresden

A manifestação contra a extrema direita coincide com os aniversários de 75 anos da libertação de Auschwitz e dos ataques aéreos que destruíram a cidade de Dresden, no Leste do país.

Sob o lema "Perturbar os nazistas", centenas de manifestantes se reuniram em Dresden neste sábado para se opor a outro protesto convocado por extremistas de direita em ocasião dos 75 anos dos bombardeios na cidade.

Carregando faixas com frases como "juntos contra a mudança para a direita na Europa", mais de 2 mil pessoas estiveram presentes no contraprotesto, segundo estimativas iniciais dos organizadores.

O ato forçou a marcha ultradireitista a seguir uma rota diferente da planejada inicialmente. Estima-se a presença de cerca de mil manifestantes neonazistas na chamada "marcha fúnebre", em homenagem ao que eles chamam de "martírio" da cidade no fim da Segunda Guerra Mundial.

Os protestos em Dresden foram marcados por forte presença policial, tendo 1.500 agentes sido deslocados para a região. "A polícia está mantendo os dois campos separados", disse um porta-voz da corporação no fim da tarde. Sete pessoas foram detidas durante os dois atos, informou a polícia.

Ataques aéreos dos Estados Unidos e do Reino Unido destruíram o centro de Dresden, capital da Saxônia, em 13 de fevereiro de 1945 e nos dois dias posteriores, pouco antes do fim da Segunda Guerra. Até 25 mil pessoas perderam suas vidas.

O aniversário do bombardeio carrega um legado complexo na Alemanha, onde muitos ultradireitistas se aproveitam da data para defender sua causa: eles dizem que os ataques foram crimes de guerra cometidos pelos Aliados e relativizam a culpa alemã na Segunda Guerra.

Historiadores afirmam que os ataques a Dresden alimentaram um discurso de vitimização alemã inventado pelos nazistas e mais tarde adotado pela extrema direita.

Por muitos anos, houve um debate intenso sobre a cifra de mortos no bombardeio. Usando números inflados propagados primeiro pelo regime nazista, grupos neonazistas falam até hoje de centenas de milhares de mortos. Um estudo feito em 2010 sob encomenda da cidade estabeleceu que até 25 mil pessoas morreram em três dias, mas isso pouco acalmou os extremistas de direita.

EK/afp/dpa/epd

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