Elon Musk participa de comício da ultradireita alemã
Aparição do bilionário em ato da AfD ocorreu enquanto dezenas de milhares protestaram contra possível colaboração de partidos conservadores com a legenda populista de direita.O bilionário Elon Musk apoiou o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) ao participar por videoconferência de um comício da legenda neste sábado (25/01) na cidade de Halle, no leste da Alemanha. A aparição ocorreu em meio à controvérsia após seu gesto polêmico durante a posse de Donald Trump, comparado à saudação nazista.
"É bom ter orgulho de ser alemão. Lutem por um futuro brilhante para a Alemanha", declarou o homem mais rico do mundo para, segundo dados da AfD, cerca de 4.500 pessoas, e reiterou seu apoio ao partido que encarna, segundo ele, "a melhor esperança para a Alemanha".
Musk disse que a próxima eleição é incrivelmente importante. "Acho que ela pode decidir todo o destino da Europa, talvez o destino do mundo", afirmou.
Não foi a primeira vez neste ano que Musk declara publicamente apoio à AfD. Ele participou no início deste mês de uma live com a líder da legenda Alice Weidel, candidata a chanceler pelo partido.
Durante o evento da AfD, dezenas de milhares de pessoas realizaram protestos contra a crescente influência legislativa da ultradireita alemã. Um dos atos anti-ultradireita foi em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim. Outros 60 municípios também registraram manifestações contra a Alternativa para a Alemanha (AfD).
A polícia de Berlim estimou a presença de 30 mil pessoas na capital alemã. O protesto acontece um mês antes de os alemães irem às urnas para uma eleição geral na qual se espera que a AfD obtenha um resultado expressivo. O partido tem cerca de 20% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais, um recorde para a sigla.
Já na cidade de Colônia, no oeste alemão, outra passeata anti-AfD juntou 40 mil manifestantes, segundo a autoridade policial do município.
Com gritos e faixas, os manifestantes exigiram que os demais partidos alemães mantenham o "cordão sanitário" contra a AfD, um acordo que faz com que as siglas não se aliem direta ou indiretamente à ultradireita no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão.
Merz abre caminho para voto com ultradireita
A crítica dos manifestantes foi dirigida também para o líder oposicionista da aliança conservadora formada pelos partidos CDU e CSU, Friedrich Merz, primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de 23 de fevereiro.
Merz tem repetido que seu bloco no Parlamento jamais formaria um governo com a AfD. Nesta semana, porém, ele provocou furor ao sugerir que está disposto a aceitar apoio da ultradireita para passar políticas mais duras contra a imigração, o que indicaria um fim do isolamento da AfD no Legislativo alemão.
Na sexta-feira, Merz afirmou que seu partido vai apresentar propostas neste tema na próxima semana "independentemente de quem concordasse com elas".
"Não olho para a direita nem para a esquerda", disse Merz. "Quando se trata desses assuntos, só olho para frente", afirmou.
O líder da CDU já havia prometido aumentar o número de deportações no país, se eleito, discurso que se acirrou após um ataque a faca em Aschaffenburg, deixar um homem e um menino de 2 anos mortos. O suspeito, um afegão de 28 anos, havia tido seu pedido de refúgio rejeitado, mas permaneceu na Alemanha.
O aceno à ultradireita na pauta migratória fez a candidata à chanceler federal pela AfD, Alice Weidel, publicar no X que "o cordão sanitário caiu". "A CDU e a CSU aceitaram minha oferta para votar junto com a AfD no Bundestag na fatídica questão da imigração", comemorou.
Ultradireita recebe um milhão de euros de doador "anônimo"
A AfD abre seu primeiro comício eleitoral na mesma semana em que afirma ter recebido 999.900 euros (R$ 6,1 milhões) de um doador identificado como Horst Jan Winter, mas que até agora não apareceu publicamente.
As doações a partidos políticos na Alemanha acima de 35 mil euros devem ser publicadas, incluindo o nome do doador, de acordo com a lei eleitoral.
Doações de países fora da União Europeia (UE) acima de mil euros são proibidas, a menos que venham de um cidadão alemão ou da UE ou de uma empresa que seja pelo menos 50% de propriedade alemã.
O tesoureiro da AfD, Carsten Hütter, disse à revista Der Spiegel que o doador não é membro do partido e não era conhecido por ele até o momento. Hütter não quis especificar se o dinheiro foi transferido para uma conta pessoal de Winter ou de uma empresa.
Hors Jan Winter informou ao partido que morava em Blankenhain (leste da Alemanha). De acordo com o grupo de mídia alemão RND, o endereço que ele forneceu é uma casa de dois andares que está desabitada há muito tempo.
gq/mc (DPA, AP, AFP, DW)