Ministro alemão é alvo de pedidos de renúncia após suicídio de migrante
Enquanto o chefe da pasta do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, fazia piada sobre afegãos deportados, um deles se suicidava. Agora, até mesmo integrantes da coalizão no poder querem que ele deixe o governo.Nesta terça-feira (10/07), o ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, fez uma piada que poderá sair pela culatra. Ao apresentar seu assim chamado "plano mestre" para a migração, gabou-se: "Vejam só, no meu aniversário de 69 anos, sem nenhuma ordem da minha parte, 69 pessoas foram enviadas de volta para o Afeganistão."
Na ocasião, o político conservador não podia imaginar que, algumas horas antes, um dos deportados havia se enforcado num campo provisório na capital afegã. O suicídio de Jamal Nasser Mahmoudi, de 23 anos, foi anunciado no dia seguinte pelo órgão encabeçado por Seehofer e confirmado por encarregados dos refugiados no Afeganistão. Em breve comunicado, o Ministério do Interior classificou a morte de "uma ocorrência profundamente lamentável".
Seehofer, que é também o presidente da União Social Cristã (CSU), da Baviera, é uma figura controvertida na Alemanha, desde que liderou a oposição à política de boas-vindas da chanceler federal Angela Merkel para com migrantes. Muitos temiam que a rebelião dele pudesse fazer naufragar o governo.
A crise foi evitada no início deste mês, graças a um consenso com a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, e o parceiro de coalizão minoritário, o Partido Social-Democrata (SPD). No entanto, os níveis de aprovação de Seehofer despencaram, e agora as vozes exigindo sua renúncia tornam-se cada vez mais audíveis, mesmo dentro da coalizão governamental.
Alguns social-democratas, já irritados com o que consideram a insolência do ministro, foram às redes sociais para exigir que ele entregue o cargo.
"Horst Seehofer é um cínico patético e inadequado a seu cargo, em termos de caráter", escreveu no Twitter o influente líder da ala jovem do SPD, Kevin Kühnert: "A renúncia dele já passou da hora. Tem alguém aí prestando atenção, coalizão?"
A representação do partido no estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália, concordou, comentando: "Um ministro do Interior tão carente de humanidade prejudica nossa democracia, à qual devemos tanto."
Cansel Kiziltepe, deputado social-democrata do Parlamento Federal, exigiu que Merkel demita o chefe de pasta. "Cínico, desumano e misantrópico!", tuitou. "Seehofer tem vidas humanas na consciência, e não pode ser mais tolerado como ministro, Sra. Merkel!"
AfD e CDU se calam
Críticas também partiram da oposição, naturalmente. O presidente do centro-direitista Partido Liberal Democrático (FDP) no estado da Renânia-Palatinado, Volker Wissing, lembrou: "Enquanto ministro do Interior, Horst Seehofer é também o ministro da Constituição e, como tal, guardião da ordem fundamental democrática livre e dos nossos valores. Ele mostrou conclusivamente que não está à altura do desafio."
"Um ministro do Interior que expressa publicamente alegria por ter gente sendo mandada de volta para um país em guerra, não só obviamente carece de empatia humana, mas também das qualificações para o emprego", reforçou Ulla Jelpke, porta-voz do partido A Esquerda para assuntos internos. "Em minha opinião, Seehofer merece ser demitido."
"É óbvio que ele está moralmente sobrecarregado para esse posto e é simplesmente inadequado para realizar seu trabalho com responsabilidade", declarou numa rádio alemã Toni Hofreiter, chefe da bancada parlamentar do Partido Verde.
Os principais líderes da Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda anti-imigração e populista de direita que ingressou no Parlamento após as eleições de 2017, não comentou imediatamente o assunto - da mesma forma que quaisquer figuras da liderança da CDU, ou a própria Merkel.
Na noite desta quarta-feira, Seehofer se encontra com ministros da Justiça e do Interior de outros Estados-membros da União Europeia em Innsbruck, na Áustria. Isso distrairá um pouco da controvérsia criada por seu comentário em relação aos migrantes deportados. No entanto, está claro que Seehofer se transformou num risco político para o governo Merkel, e seus dias à frente da pasta do Interior podem estar contados.
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