Ministro da Educação admite relato de propina envolvendo pastor
Milton Ribeiro teve pelo menos sete encontros com o religioso, mesmo após abertura de investigação na CGU sobre suspeita de irregularidade
O ministro da Educação Milton Ribeiro admitiu nesta quarta-feira, 23, em entrevista à CNN Brasil que teve conhecimento de "conversas estranhas" do pastor Arilton Moura, envolvendo recursos do ministério. O ministro disse que recebeu denúncia anônima sobre pedido de dinheiro feito pelo pastor em troca de benefícios no MEC em agosto de 2021 e relatou o caso à Controladoria Geral da União (CGU). Foi aberta uma investigação sigilosa. Ribeiro confirmou que, mesmo após receber a denúncia, seguiu recebendo o pastor dentro do MEC, mas alegou que deixou de participar de agendas externas com ele.
Levantamento feito pelo Estadão mostrou, no entanto, que o ministro teve cinco agendas com o pastor no MEC e ao menos duas fora da Pasta. Uma delas em outubro de 2021 na cidade de Camburiú. Na ocasião, o ministro ressaltou em discurso a amizade "ao pastor Gilmar e Arilton, que estão lá em Brasília mais perto".
Na entrevista, o ministro disse que se ocorreu alguma cobrança de propina foi sem seu conhecimento. "Se fizeram algo errado, fui enganado", afirmou. Segundo Ribeiro, ele seguiu se encontrando no ministério com o pastor Arilton apenas no ministério, o que não é verdade, para não prejudicar as investigações que corriam em sigilo. Ele afirmou que, a partir de então, se limita a tirar "fotos com prefeitos", mas depois encaminhava o pastor para o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), justamente o órgão que seria alvo da intermediação com suposta cobrança de propina pelo religioso.
O ministro da CGU, Wagner Rosário, disse ao Estadão que abriu uma instrução preliminar em setembro do ano passado com base na denúncia encaminhada pelo MEC por ordem do ministro Milton Ribeiro. Segundo ele, o ministro encaminhou o relato em agosto.
Durante a entrevista, Milton Ribeiro negou que os pastores tenham viajado com ele no avião da FAB. "Jamais esses pastores viajaram comigo na minha comitiva. Nunca fizeram parte da minha comitiva. Nunca entraram em um avião da FAB", disse.
O Ministério da Educação respondeu, no ano passado, via Lei de Acesso à Informação, a um questionamento sobre "voos da FAB em que ministro esteve presente" entre julho de 2020 e junho de 2021. A pasta divulgou uma planilha que registrou o pastor Arilton Moura como "convidado do MEC" em um voo da FAB, no qual também estava Milton Ribeiro, em maio de 2021.
Ribeiro confirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu para ele receber os pastores no MEC, mas negou que o presidente tenha solicitado tratamento privilegiado.