“Ministro Levy agrada a investidores externos”, diz economista alemã
Para Barbara Fritz, professora da Universidade Livre de Berlim, Joaquim Levy representa retomada de política ortodoxa. Ministro da Fazenda terá dificuldade em manter ritmo de redistribuição econômica.
A nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda é recebida de maneira positiva por investidores internacionais. Segundo Barbara Fritz, professora de Economia do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim, a indicação é um sinal de que o governo brasileiro retomará uma política econômica mais ortodoxa.
"Além de atender à pressão do mercado durante a corrida eleitoral, a nomeação também é uma resposta à preocupação de nova queda do PIB e das ações na bolsa de valores", disse a especialista em entrevista à DW Brasil.
Ex-diretor do Bradesco Asset Management, Levy foi secretário do Tesouro no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em pronunciamento, o novo ministro afirmou que as mudanças na economia vão ocorrer de forma que "os agentes econômicos, os trabalhadores e as famílias possam decidir com tranquilidade". "O governo opera dentro dos recursos que lhe são confiados”, assegurou.
A apresentação da nova equipe econômica, com Alexandre Tombini, no Banco Central, e Nelson Barbosa, no Planejamento, aconteceu nesta quinta-feira (27/11), em Brasília.
DW Brasil: O anúncio de Joaquim Levy como novo ministro da Fazenda do governo Dilma agrada ao mercado internacional?
Barbara Fritz: Ele representa um estilo de política econômica que é relativamente ortodoxo. No período em que trabalhou no Ministério da Fazenda, durante o primeiro mandato de Lula, o governo brasileiro cumpriu a meta de controle da inflação de forma bastante rígida, teve uma política de maior austeridade fiscal e adotou uma taxa de câmbio flutuante. A nomeação de Levy é tomada pelo mercado como um sinal de volta a esse tipo de política.
A presidente é criticada por interferir na pasta. Dilma deve mudar essa postura?
Eu acho essa discussão que tem aparecido nos últimos dias um pouco estranha. O fato é que um governo deve coordenar suas políticas, e tem o direito e o dever de definir junto com os ministros a pauta e a direção dos ministérios. Nos últimos anos, a presidente Dilma teve uma orientação de política econômica que se desviou, especialmente, do que foi feito no primeiro mandato do ex-presidente Lula. Houve uma mudança de prioridade, que passou do combate à inflação para uma política de crescimento de redistribuição econômica. Por várias razões não deu certo, mas essa não é a única política econômica que existe. A questão central não é a intervenção da presidente, mas identificar como o Brasil pode retomar o crescimento, que nos últimos dois anos foi muito baixo. O novo governo chegou à conclusão de que é necessário voltar para uma política mais ortodoxa.
As políticas sociais devem ser intensificadas?
É difícil. A redistribuição de renda no Brasil foi feita com programas como o Bolsa Família, que custam muito pouco, mas o efeito que se esperava já se realizou. É difícil repeti-lo. O aumento do salário mínimo real foi muito significativo para melhorar a renda das classes mais baixas, mas será difícil continuar dessa forma. Quando o crescimento é muito baixo, é complicado ter uma continuidade no aumento dos salários diante de uma taxa de câmbio que não é muito competitiva. A combinação de aumento salarial com uma taxa de câmbio que favorece as importações criou um clima de pouco investimento e baixo crescimento. É provável que o processo de redistribuição de renda fique mais lento nos próximos anos.
Quais mudanças se podem esperar no curto prazo?
O governo terá de fazer um ajuste monetário e fiscal – e já aumentou um pouco a taxa de câmbio. Ainda não se sabe o quanto a política fiscal vai mudar. Se o corte de gastos públicos for brusco, isso sim, irá custar em termos de crescimento. Se for de uma forma mais moderada, a recuperação da economia pode ser mais rápida.
Além de combater a corrupção, outro ponto importante é a intervenção do governo na área energética.
A corrupção é um problema seriíssimo, que cria impactos no investimento estrangeiro. O controle dos preços de energia é um ponto importante. Uma das formas de controlar a inflação, sem aumentar muito a taxa de juros, foi exatamente o controle dos preços do petróleo e energia. Essa pode ser uma medida eficiente por um certo tempo, mas se for prolongada pode desproteger certas empresas do setor energético. Junto com os ministros do Planejamento [Nelson Barbosa] e do Banco Central [Alexandre Tombini], Levy terá de tomar decisões no sentido de encontrar uma saída para o controle de preços, porque eles ficaram bastante defasados. Esse vai ser um "pepino" difícil de resolver.
E como ficam os empréstimos fornecidos pelos bancos públicos?
Em princípio, quase todos os empresários e investidores ficaram muito ligados à intervenção do BNDES, que forneceu nos últimos anos boa parcela dos créditos de investimento a um preço muito menor do que o valor de mercado – a taxa de juros para investimentos, cobrada do mercado financeiro, é muito alta, inclusive em parâmetros internacionais. Para o empresariado brasileiro, o BNDES foi uma salvação. Acho que nem todo o empresariado tem a expectativa de corte nas atividades dos bancos públicos. O Banco do Brasil, por exemplo, tem um papel muito importante no financiamento da construção, por meio dos créditos habitacionais.
O nome de Joaquim Levy não é muito conhecido no cenário internacional. Como o mercado externo avalia essa mudança?
Como ele trabalhou num banco privado e como o nome dele é relacionado ao primeiro governo Lula, que teve um comportamento bastante ortodoxo em termos de política econômica, ele é bem recebido pelo mercado financeiro internacional. Além de atender à pressão do mercado durante a corrida eleitoral, a nomeação também é uma resposta à preocupação de nova queda do PIB e das ações na bolsa de valores.