Moldávia: o próximo alvo de Putin?
Apontado como braço do Kremlin, grupo que controla a região separatista da Transnístria solicita "proteção" de Moscou, levantando temores de que roteiro que levou à invasão da Ucrânia volte a se repetir na Moldávia.Separatistas apoiados pela Rússia na Transnístria, uma região da Moldávia, pediram "proteção" ao governo de Vladimir Putin, ao qual dirigiram um apelo para que tome "medidas para defender" o território diante do que chamaram de "crescente pressão" das autoridades do pequeno país, uma empobrecida ex-república soviética situada entre o norte da Romênia e o sul da Ucrânia.
Segundo relatos da imprensa russa, o apelo consta de um documento aprovado pelo grupo em um congresso - o primeiro desde 2006 - em Tiraspol, maior cidade da região separatista. Nele, o governo moldavo é acusado de travar uma "guerra econômica" contra a Transnístria - habitada, segundo os separatistas, por mais de 220 mil russos - e de bloquear importações.
Moscou reagiu ao apelo pouco depois, declarando que a "proteção" dos habitantes da Transnístria era "prioritária" - a doutrina militar russa autoriza operações das forças armadas fora da Rússia sob a justificativa de proteger cidadãos nacionais.
A declaração de Tiraspol vem um dia antes de um discurso de Putin, anunciado para esta quinta-feira (29/02), sobre a situação na Moldávia.
No documento, os separatistas dirigem-se ainda à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), ao Parlamento Europeu, à Cruz Vermelha e às Nações Unidas, pedindo que evitem "provocações" que possam levar a uma "escalada das tensões".
Próximo alvo ou base para um ataque a Odessa?
A movimentação dos separatistas e a reação do Kremlin despertou na Moldávia o temor de que o país possa se tornar o próximo alvo de uma agressão russa - em fevereiro de 2022, um pedido semelhante de socorro à Rússia, feito por separatistas no leste da Ucrânia, serviu de pretexto para a invasão do país.
Em um discurso, o presidente da Transnístria teria acusado Quichinau, segundo relatos da imprensa local, de praticar uma "política do genocídio" ao pressioná-los economicamente, "psiquicamente", juridicamente e linguisticamente.
Prevenir um suposto "genocídio" contra a população russa que habita o leste da Ucrânia foi justamente uma das linhas de propaganda usadas por Putin para justificar a guerra.
Uma porta-voz russa do Ministério do Exterior negou que o país tenha a intenção de anexar a Transnístria, acusando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de tentar fazer da Moldávia "uma segunda Ucrânia".
Diante do contexto da guerra, observadores apontam que a Rússia possa estar querendo usar a Transnístria como base para um ataque de peso à cidade portuária ucraniana de Odessa, a poucas dezenas de quilômetros dali.
"Dado o papel cada vez mais agressivo da Rússia na Europa, estamos acompanhando muito atentamente as ações da Rússia na Transnístria e a situação como um todo", reagiu nesta quinta-feira um porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos, principal aliado militar da Ucrânia.
A Casa Branca também se pronunciou em apoio "à soberania e integridade internacional da Moldávia dentro de suas fronteiras internacionalmente conhecidas".
Separatistas controlam região desde 1992
Ocupando uma área menor que o Distrito Federal, a Transnístria é uma estreita faixa de terra com cerca de 465 mil habitantes que oficialmente pertence à Moldávia, país que aspira integrar a União Europeia (UE).
Após declarar-se independente em 1992 na esteira de uma guerra civil, a região passou ao controle de forças pró-russas, adotando moeda e passaportes próprios. Apesar de a emancipação do território não ser reconhecida internacionalmente, nem mesmo pela Rússia, o país mantém soldados ali há décadas e abastece os separatistas gratuitamente com gás.
Tensões crescentes
Em 2022, várias explosões de origem desconhecida abalaram a Transnístria. Em março de 2023, separatistas acusaram a Ucrânia de um atentado fracassado contra seu líder. Na semana passada, o Ministério da Defesa russo acusou, sem apresentar provas, a Ucrânia de planejar um ataque militar à Transnístria.
O governo moldavo e a UE afirmam que a Rússia age para desestabilizar a Moldávia - o país, que antes vivia sob a influência de Moscou, passou a se aproximar do Ocidente.
ra (dpa, AFP, Reuters)