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Moro mira alianças com Centrão e faz maratona de reuniões

Ex-ministro de Bolsonaro, general Santos Cruz vai se filiar ao Podemos nesta quinta e é cotado para vice na chapa

24 nov 2021 - 17h53
(atualizado às 18h00)
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O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos) intensificou a busca por apoios na disputa de 2022. Embora haja uma profusão de nomes apresentados para concorrer à Presidência da República, o ex-juiz da Lava Jato tem procurado investir em partidos que ainda não puseram uma candidatura própria à mesa, do Centrão à terceira via. 

Nos últimos dias, por exemplo, Moro e dirigentes do Podemos conversaram com Republicanos, Patriota, Novo, Cidadania e União Brasil, legenda que será resultado da fusão do DEM com o PSL. Ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o Republicanos integra o Centrão e está na base do presidente Jair Bolsonaro no Congresso. Tem o deputado licenciado João Roma no comando do Ministério da Cidadania e Bolsonaro espera contar com o apoio do partido na campanha da reeleição, em 2022.

Sergio Moro participa de painel durante o segundo dia Congresso Nacional do MBL, em São Paulo
Sergio Moro participa de painel durante o segundo dia Congresso Nacional do MBL, em São Paulo
Foto: BRUNO ROCHA/ENQUADRAR / Estadão

Mesmo assim, líderes do Republicanos não fecham a porta para Moro. O deputado Marcos Pereira, que comanda o partido, e sua colega de Câmara Renata Abreu, presidente do Podemos, são aliados de longa data.

Moro também tem conseguido adesões na área militar. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, vai se filiar nesta quinta-feira, 25, ao Podemos. Nos bastidores há uma articulação para Santos Cruz ser vice de Moro. Alvo de uma rede de intrigas envolvendo o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o general foi demitido em junho de 2019, no primeiro ano de mandato do presidente.

Na prática, o ex-juiz da Lava Jato está ampliando cada vez mais o leque de conversas em busca de apoio para sua candidatura ao Planalto. Nesta terça-feira, 23, por exemplo, ele jantou com a bancada do Cidadania na Câmara. Organizador do encontro, o líder do partido, deputado Alex Manente (SP), fez elogios a Moro e disse ter "identidade" com as pautas que ele apresenta.

"Dialogamos com todas as forças da terceira via, tentando buscar uma unidade capaz de vencer Bolsonaro e o ex-presidente Lula. O Moro, na minha opinião, é o pré-candidato mais afirmativo desse campo", avaliou Manente. O partido tem o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) como pré-candidato ao Palácio do Planalto, mas ele mesmo já garantiu abrir mão da disputa em nome de um concorrente com mais chances de enfrentar Lula e Bolsonaro.

Em São Paulo, o Cidadania é aliado do PSDB, partido que tem o governador João Doria como um dos pré-candidatos à Presidência - as prévias que vão escolher o concorrente tucano ao Planalto foram suspensas por um problema no aplicativo de votação.

Quando perguntado sobre Moro, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, costuma dizer que o ex-juiz da Lava Jato é "mais um" entre os nomes apresentados pela terceira via. "É natural que cada um tenha sua preferência", desconversou Manente.

Moro almoça com Romeu Zema

Nesta quarta-feira, 24, Moro esteve em Minas Gerais e participou de um almoço com o governador Romeu Zema (Novo). O líder do Podemos na Câmara, Igor Timo (MG), também compareceu à reunião e se mostrou esperançoso com a possibilidade de Zema abrir palanque para o ex-ministro. "Para ganhar o Brasil tem que ganhar Minas", disse o deputado numa referência ao fato de o Estado ser o segundo maior colégio eleitoral do País, depois de São Paulo.

O Novo lançou a candidatura do cientista político Luiz Felipe d'Ávila à Presidência. Timo avalia, no entanto, que isso não deve impedir Moro de ter palanque em Minas. "Existe uma convergência de bandeiras e ideais. Aos poucos as coisas vão se encaixando", afirmou o deputado sobre a possibilidade de aliança entre o governador e Moro.

Na tentativa de avançar nesses acordos, Moro e Renata Abreu estiveram em um jantar, no começo deste mês, com Ovasco Resende, presidente do Patriota. O partido tem apenas seis deputados federais, mas, se fizer parte da coligação de Moro, contribui com tempo de rádio e TV, além de verba para campanha.

A exemplo dos outros partidos, Resende não fechou as portas para o ex-juiz da Lava Jato, mas também não se comprometeu a aderir à campanha dele. "A questão é o tempo, porque estamos reestruturando o partido em nível nacional. E ele também está fazendo sua estrutura para presidente da República", afirmou.

Uma ala do Patriota também tentou filiar Bolsonaro, mas a disputa interna na legenda impediu que o plano fosse adiante. Antes, o senador Flávio Bolsonaro, disposto a ajudar o pai, já havia entrado no Patriota. Flávio vai sair do partido, porém, logo depois que o presidente se filiar ao PL de Valdemar Costa Neto. A cerimônia está prevista para a próxima terça-feira, 30, em Brasília.

Muito antes de Moro se filiar ao Podemos o União Brasil já acompanhava seus movimentos. Nas fileiras do DEM o aliado do ex-juiz é o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). Os dois trabalharam juntos no governo Bolsonaro e viraram rivais do presidente.

Mandetta também é apontado como possível concorrente de Moro

Mandetta também é apontado como possível concorrente à Presidência, mas admite sair do páreo se houver um nome com mais chances na terceira via. Nesse caso, ele disputaria o Senado pelo Mato Grosso do Sul. Para Mandetta, a pré-candidatura de Moro "está no radar de todo mundo".

A ideia é que partidos como União Brasil (fusão de DEM com PSL), Podemos, PSDB, MDB, Cidadania e Novo construam uma candidatura única, do chamado "centro expandido" - que abriga setores da direita -, para disputar o Planalto, em 2022. "Agora está todo mundo aguardando as prévias do PSDB.Temos de respeitar também esse momento", observou Mandetta.

Quando era o juiz responsável pela Lava Jato, Moro foi a personificação da antipolítica. Agora, ele tenta equilibrar sua atuação no julgamento de casos de corrupção com a recente entrada na vida partidária. Mas, apesar de crescer nas pesquisas de intenção de voto, o ex-ministro de Bolsonaro também enfrenta resistências no mundo político e jurídico. Neste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou Moro parcial ao condenar Lula.

No último sábado, 20, em ato do Movimento Brasil Livre (MBL), o ex-juiz disse que há pessoas boas em todos os segmentos da política e procurou dissipar a imagem de que agora vai se aliar ao Centrão. "Para governar e se ter um projeto que possa ser realizado, o diálogo é necessário. Então, tem que conversar com todo mundo. E em todos os partidos, esquerda, direita, centro, Centrão, tem pessoas boas, tem pessoas com as quais se pode conversar e construir um projeto", argumentou Moro.

Estadão
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