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'18 anos e vacinada': brasileiros em Israel contam como é viver em país com maior taxa de vacinação contra covid-19

Em entrevista à BBC News Brasil, eles elogiam rapidez e simplicidade do processo de imunização; Israel já vacinou mais da metade de sua população.

8 mar 2021 - 12h09
(atualizado às 12h17)
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Juliana Ajbeszyc tem 18 anos e já recebeu as duas doses contra a covid-19
Juliana Ajbeszyc tem 18 anos e já recebeu as duas doses contra a covid-19
Foto: Juliana Ajbeszyc/BBC / BBC News Brasil

Aos 18 anos e preparando-se para ingressar no serviço militar obrigatório israelense, a paulistana Juliana Ajbeszyc tomou na sexta-feira (05/03) a segunda dose da vacina contra a covid-19. Juliana e sua família, de origem judaica, se mudaram há quase meia década para Israel, país com a maior taxa de vacinação do mundo.

"Foi um processo muito simples. Fiz o agendamento pelo aplicativo e não demorou nada", diz ela, que mora em Ra'anana, cidade a cerca de 20 quilômetros de Tel Aviv e considerada "a capital" dos brasileiros que vivem em Israel — são mais de 300 famílias na localidade.

"Toda a minha família já se vacinou com exceção do meu irmão gêmeo, porque ele pegou coronavírus e só vai poder se vacinar daqui a dois meses", conta Juliana por telefone à BBC News Brasil.

Ela agora se prepara para passar os próximos dois anos nas Forças Armadas — em Israel, o serviço militar é obrigatório para homens e mulheres.

Segundo dados da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford (Reino Unido), Israel tem hoje a maior taxa de vacinação do mundo, com 98,85 doses administradas por cada 100 habitantes. A população do país é de cerca de 9 milhões de pessoas. Praticamente todos os idosos já tomaram pelo menos uma dose da vacina.

A título de comparação, a taxa brasileira é de 4,58 doses administradas por cada 100 habitantes.

Um estudo recente feito por pesquisadores israelenses com base em estatísticas oficiais demonstrou a eficácia da campanha de imunização no combate à pandemia de covid-19. Segundo os cientistas, a vacinação em massa evitou que pessoas ficassem gravemente doentes.

Até agora, Israel teve 791 mil casos confirmados do novo coronavírus, com 5,8 mil mortes.

Primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu decretou lockdown e incentiva uso de máscara, além de fazer campanha pela vacinação
Primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu decretou lockdown e incentiva uso de máscara, além de fazer campanha pela vacinação
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, se envolveu pessoalmente na campanha de vacinação. Em um vídeo de marketing do governo que viralizou nas redes sociais, Netanyahu aparece com um megafone convocando a população a se vacinar contra o coronavírus. Na sequência, aparecem personagens negando a vacinação — como um palhaço e um homem vestido com teclados de computador, em alusão à fake news.

O premiê, então, começa a desmentir as notícias falsas sobre a vacinação e dizer que a vacina é segura e foi pesquisada pelos maiores especialistas do mundo.

No fim, e após algumas piadas de Netanyahu, os personagens do vídeo decidem se vacinar.

Nas redes sociais, usuários brasileiros aproveitaram o vídeo para zombar da postura do presidente Jair Bolsonaro, aliado de Netanyahu.

Diferentemente do premiê israelense, Bolsonaro sempre se posicionou contra o lockdown — Israel implementou três confinamentos desde o início da pandemia da covid-19. Netanyahu também sempre aparece usando máscara em eventos oficiais.

No sábado (6), uma comitiva liderada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, partiu rumo a Israel. O objetivo é visitar uma instituição israelense, o centro médico Ichilov, que está desenvolvendo um spray para o tratamento da covid-19.

Na terça-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro disse que o medicamento israelense "parece um produto milagroso", mas a droga ainda está em fase de testes.

Usuários também notaram que a comitiva posou para foto sem máscara antes do embarque. Mas, na chegada a Israel, apareceu em nova imagem usando o equipamento de proteção.

'Passaporte verde'

Uma semana depois de tomar a segunda dose, os vacinados em Israel recebem o chamado 'passaporte verde', um documento eletrônico que permite acesso a restaurantes, academias de ginástica, teatros, cinemas e outros estabelecimentos — recentemente, o país deu início a uma reabertura gradual após o terceiro confinamento.

"A ideia é que todo mundo que já tomou as duas doses ou teve o coronavírus vai poder circular em vários espaços que estavam fechados", diz a gaúcha Aline Szewkies, guia de turismo e youtuber do canal 'Israel com a Aline', com 280 mil seguidores.

"A vacinação aqui não é obrigatória, ou seja, isso é um incentivo para as pessoas se vacinarem", acrescenta.

Aline tem 31 anos dos quais 11 em Israel. Ela conta que foi a primeira da família a ser vacinada.

"Tenho uma irmã que mora na Suíça, tios e primos nos Estados Unidos, mas a maior parte da família no Brasil — e fui a primeira a ser vacinada", diz.

Assim como Juliana, ela elogia a facilidade do processo de vacinação.

"Fui vacinada num estádio de basquete perto da minha casa. Você chega lá, responde a algumas perguntas básicas, toma a vacina e depois aguarda numa sala de espera por 15 minutos", conta.

Ela destaca que, diferentemente do Brasil, Israel implementou lockdowns nacionais rígidos.

"Era comum ver muitos policiais nas ruas verificando aonde as pessoas estavam indo e distribuindo multas", diz.

"Desde que vim morar aqui, foi a primeira vez que não pude entrar na Cidade Velha de Jerusalém, onde estão os locais sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos", acrescenta.

Aline diz agora estar esperançosa com a reabertura do país para que possa retomar em breve suas atividades.

"Israel já fechou acordos com a Grécia e com o Chipre. O turismo foi um dos setores mais afetados, assim como o comércio", explica.

Preocupação com a família no Brasil

Desde maio de 2018 vivendo em Israel com a mulher e os filhos, o carioca Marcos Homsani, de 38 anos, também já foi vacinado. Ele diz que muitos parentes no Brasil se sentem "injustiçados" por não terem acesso às vacinas.

"Me impressionou muito a rapidez com que o processo de vacinação se desenrolou aqui. Somos um país acostumado a emergências nacionais, inclusive pela nossa situação geopolítica", diz.

"Até o Mossad (serviço secreto de Israel) se envolveu em trazer vacinas para o país", acrescenta.

Para a autônoma Leila Perez, de 62 anos e há 43 vivendo em Israel, a situação de sua família no Brasil também a preocupa. Ela tomou as duas doses da vacina em janeiro.

"Eu morro de medo (do impacto da pandemia no Brasil). Tenho uma mãe de 82 anos e que está lutando contra um câncer bem invasivo e tenho um irmão com comorbidades. Eles estão confinados em casa no interior de São Paulo. O Brasil é uma catástrofe".

Quando conversou com a BBC News Brasil, Leila estava tentando viajar ao Brasil a tempo da cirurgia da mãe, mas ainda há restrições para voos no aeroporto internacional de Israel.

Ela também lembra que, assim como no Brasil, há muitos grupos contra a vacinação no país.

"O movimento antivax (antivacina) também existe aqui e, apesar de pouco numeroso, 'grita' muito", ressalva.

Em meio à preocupação com os familiares que vivem no Brasil, Aline compartilha uma mensagem de esperança.

"Em hebraico, temos a expressão gam zeh ya'avor, ou, "também isso vai passar". O mundo todo passa por um momento difícil. Aqui em Israel, estamos um passo adiante na vacinação e na volta à normalidade, mas tenho certeza de que em breve vamos lembrar a pandemia como parte do passado", diz.

Vacinação de palestinos

Em meio a críticas sobre baixo número de imunizações na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, o governo israelense disponibilizou 130 mil doses a trabalhadores palestinos que atuam em Israel e nos territórios ocupados.

Gabi Barbash, diretor-geral do Centro Médico Tel Aviv Sourasky e ex-responsável pela estratégia de combate à covid-19 em Israel, acredita ser um "grande erro" que o país não tenha vacinado os palestinos até agora.

"O coronavírus não reconhece fronteiras. Judeus e palestinos vivem juntos ali e o vírus continua a circular", diz ele à BBC News Brasil, em referência à Cisjordânia.

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