4 presidentes americanos mortos e 3 feridos em atentados - a longa história de violência política nos EUA
Trump se junta a um clube não tão exclusivo de presidentes, ex-presidentes e candidatos presidenciais dos EUA que foram alvo de atentados. Dos 45 presidentes americanos, quatro foram assassinados enquanto estavam no cargo.
O ataque ao ex-presidente Donald Trump durante um comício na Pensilvânia trouxe à tona o histórico de violência contra presidentes nos Estados Unidos.
Também reabriu o debate sobre o controle de armas, uma questão divisiva entre democratas e republicanos durante as eleições presidenciais.
Quatro dos 45 presidentes americanos em exercício foram assassinados: Abraham Lincoln (1865, por John Wilkes Booth), James A. Garfield (1881, por Charles J. Guiteau), William McKinley (1901, por Leon Czolgosz) e John F. Kennedy (1963, por Lee Harvey Oswald).
Além de Trump, dois foram feridos em tentativas de assassinato: Ronald Reagan, enquanto estava no cargo (1981, por John Hinckley Jr.), e o ex-presidente Theodore Roosevelt (1912, por John Schrank).
Em todos esses casos, os agressores utilizaram armas de fogo.
Reagan foi o último presidente dos EUA a sofrer um atentado a tiros, sendo gravemente ferido por um revólver calibre .22 disparado por John Hinckley Jr. enquanto ele deixava um hotel em Washington após um discurso.
Uma bala ricocheteou na limusine presidencial e atingiu Reagan abaixo da axila esquerda, levando-o a passar 12 dias no hospital antes de voltar à Casa Branca.
Alvejados, mas não feridos
Outros presidentes foram alvejados, mas não ficaram feridos.
Em 1933, um homem armado disparou cinco tiros contra o carro do então presidente eleito Franklin D. Roosevelt.
Roosevelt não foi atingido, mas o prefeito de Chicago, Anton Cermak, que estava conversando com Roosevelt depois que o recém-eleito presidente fez breves comentários ao público, foi ferido e morreu 19 dias depois.
Em setembro de 1975, o presidente Gerald Ford sobreviveu a duas tentativas separadas de assassinato — ambas por mulheres.
A primeira ocorreu em 5 de setembro, quando Lynette (Squeaky) Fromme, seguidora do líder de culto Charles Manson, tentou atirar em Ford enquanto ele caminhava por um parque em Sacramento, Califórnia, mas sua arma falhou e não disparou.
Em 22 de setembro, Sara Jane Moore, uma mulher com vínculos a grupos radicais de esquerda, disparou um tiro contra Ford quando ele saía de um hotel em San Francisco, mas errou o alvo.
Candidatos à presidência também não foram poupados, incluindo o senador Robert F. Kennedy, morto em 1968, e George Wallace, baleado e paralisado em 1972.
Em 1912, o ex-presidente Theodore Roosevelt foi atingido no peito por uma bala de calibre .38 enquanto fazia campanha para recuperar a Casa Branca.
No entanto, a maior parte do impacto da bala foi absorvida por objetos no bolso do peito do casaco de Roosevelt.
Mesmo ferido, Roosevelt prosseguiu para fazer um discurso de campanha com a bala ainda em seu peito.
Outras figuras com poder político significativo — embora não eleitas — também tiveram suas vidas interrompidas por tiros, especialmente Martin Luther King Jr. em 1968, apenas alguns meses antes da morte de Robert Kennedy.
"Em um país com mais armas do que pessoas, e onde as armas de fogo estão facilmente disponíveis, não é surpreendente que os ataques a tiros sejam o meio preferido para assassinar ou tentar assassinar detentores de cargos políticos", diz Thomas Klassen, professor da Escola de Política Pública e Administração da Universidade York no Canadá, em artigo no site acadêmico The Conversation.
Segundo o historiador James W. Clarke, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, a maioria dos perpetradores de tentativas de assassinato contra presidentes tinha motivações políticas e era considerada mentalmente sã, enquanto o manual jurídico do Departamento de Justiça sugere que uma grande maioria era insana.
Alguns assassinos, especialmente os com problemas mentais, agiram sozinhos, enquanto os com motivações políticas frequentemente agiram em grupo.
A maioria dos perpetradores foi presa e condenada à execução ou detenção prolongada em prisões ou hospitais psiquiátricos.
Polarização partidária
O atentado a Trump ocorre em um momento de intensa polarização política nos Estados Unidos.
Peter Baker, correspondente-chefe da Casa Branca do New York Times, observa que a violência política no país, especialmente abaixo do nível presidencial, está se tornando "cada vez mais partidária".
Exemplos incluem os ataques à deputada democrata Gabrielle Giffords, gravemente ferida em 2011, e ao deputado Steve Scalise em 2017, ambos vítimas de atiradores.
Em 2022, um homem armado foi preso próximo à residência do juiz Brett Kavanaugh, da Suprema Corte. Ele contou às autoridades que sua intenção era assassinar Kavanaugh devido às suas opiniões conservadoras sobre aborto e controle de armas.
Mais tarde naquele ano, outro homem armado invadiu a casa de São Francisco da então presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, e agrediu seu marido, Paul Pelosi, com um martelo.
O caso mais notório de violência política recente foi o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores de Trump tentando impedir a certificação da vitória eleitoral de Biden.
A Polícia do Capitólio investigou mais de 8 mil casos de ameaças envolvendo membros do Congresso no ano passado, um dos totais mais altos na história do departamento.
Baker observa que muitos desses incidentes recentes resultaram em "atribuições de culpa" em vez de uma "reflexão profunda sobre as causas".
Após o ataque a Giffords, os democratas criticaram Sarah Palin por causa de um mapa divulgado por seu comitê de ação política, que destacava distritos, incluindo o de Giffords, como alvos potenciais, embora não houvesse evidências de que o atirador tivesse visto o mapa ou fosse motivado por ele.
Os democratas também acusaram Trump de incitar o ataque ao Capitólio com sua retórica inflamatória, citando diversos exemplos de seu histórico de encorajamento à violência.
Trump incentivou seus apoiadores a agredirem manifestantes em comícios, aplaudiu um congressista republicano por atacar um repórter, sugeriu que saqueadores e ladrões fossem mortos, ridicularizou o ataque contra Pelosi e prometeu perdões aos manifestantes envolvidos no incidente de 6 de janeiro.
Agora, depois do atentado a Trump, foi a vez de os republicanos reagirem, argumentando que Biden também contribui para o ambiente polarizado com sua linguagem agressiva.
J.D. Vance, senador republicano de Ohio e possível candidato a vice-presidente com Trump, afirmou que Biden centralizou sua campanha em retratar Trump como "um fascista autoritário" que precisa "ser detido a todo custo", sugerindo que essa retórica contribuiu diretamente para o ataque contra o ex-presidente.
Scalise, vítima de um ataque em 2017, também criticou os líderes democratas.
"Durante semanas, líderes democratas têm alimentado uma histeria absurda de que a reeleição de Donald Trump significaria o fim da democracia na América", disse ele.
"Claramente, já vimos lunáticos da extrema esquerda agirem com base em retórica violenta no passado. Essa retórica incendiária deve parar", afirmou ele.
Alguns líderes republicanos, no entanto, adotaram uma abordagem mais moderada, como o presidente da Câmara, Mike Johnson, que criticou tanto Biden quanto Trump pela linguagem provocativa.
Biden, por sua vez, condenou veementemente o ataque contra Trump e enfatizou a necessidade de reduzir a temperatura política no país.
"A política nunca deve ser um campo de batalha literal, e muito menos um campo de matança", disse ele em um raro discurso no Salão Oval.
Normalização da violência?
Para muitos observadores, esses eventos recentes levantam a preocupação de que a violência política esteja se tornando normalizada como parte das divisões partidárias nos Estados Unidos.
Um estudo realizado em maio destacou que uma minoria significativa de americanos justifica a violência para alcançar objetivos políticos, sublinhando a importância de uma maior intolerância à violência política como norma na sociedade americana.
No entanto, em entrevista ao New York Times, Garen J. Wintemute, diretor do Programa de Prevenção da Violência da Universidade da Califórnia, Davis, e principal autor do estudo, enfatizou que a maioria dos americanos rejeita a violência política.
"É crucial para essa maioria expressar suas opiniões de maneira repetida e pública", afirmou.
"Um clima de intolerância à violência reduz significativamente as chances de ocorrência de atos violentos. Como nação, enfrentamos a questão de se a violência se tornará parte da política americana. Cada um de nós, individualmente, deve responder: 'Não, se pudermos evitar'", concluiu.