400 pessoas presas em hospital em Mariupol: entenda o 20º dia da guerra na Ucrânia
Três primeiros-ministros visitam Kiev, enquanto funcionários de um hospital em Mariupol dizem que estão sendo mantidos 'como reféns'.
No vigésimo de invasão da Rússia à Ucrânia, a artilharia e os aviões de guerra russos continuaram a atacar cidades e vilas em todo o país.
Em Mariupol, uma importante cidade portuária no sudeste, centenas de pessoas amontoadas no porão de um grande edifício público estão ficando sem comida, e muitas também precisam de ajuda médica urgente, informou o jornalista brasileiro Hugo Bachega, da BBC, reportando de Lviv.
"Alguns desenvolveram sepse [infecção generalizada] devido a estilhaços no corpo", disse Anastasiya Ponomareva, uma professora de 39 anos que fugiu da cidade no início da guerra, mas mantém contato com amigos lá. "As coisas estão muito sérias."
Os amigos dela estão com outras famílias que passam a maior parte do dia no porão. De vez em quando eles acessam os andares superiores do prédio para tomar sol, mas raramente podem sair. Todos eles deixaram casas que não são mais seguras ou não estão mais em pé.
Em um hospital de terapia intensiva na periferia oeste da cidade, funcionários descreveram ser tratados "como reféns" pelas forças russas.
Um funcionário disse que as tropas russas "forçaram 400 pessoas de casas vizinhas a virem ao nosso hospital", acrescentando: "Não podemos sair".
O governador regional, Pavlo Kyrylenko, disse que a instalação foi praticamente destruída por bombardeios nos últimos dias, mas que a equipe continuou a tratar pacientes no porão.
Cerca de 2 mil veículos conseguiram deixar Mariupol através de um "corredor humanitário", segundo autoridades da cidade. Antes da guerra, cerca de 400 mil pessoas viviam na cidade, que sofreu intenso bombardeio pelas forças russas. O conselho da cidade diz que mais de 2 mil civis morreram.
Três primeiros-ministros encontram Zelensky
Nesta terça-feira (15/3), moradores de Kiev foram colocados sob um toque de recolher de 35 horas — mas isso não impediu os primeiros-ministros da Polônia, Eslovênia e República Tcheca de viajarem de trem à capital ucraniana.
Os líderes decidiram ir de trem a partir de Varsóvia, na Polônia, porque voar num jato militar polonês — país que é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) —, poderia ser percebido pela Rússia como uma provocação, informou a editora da BBC Europa, Katya Adler.
O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, disse que a história está sendo feita em Kiev.
"É aqui que a liberdade luta contra o mundo da tirania. É aqui que o futuro de todos nós está na balança", tuitou. Morawiecki acrescentou que a Ucrânia pode contar com a ajuda de seus amigos.
Os primeiros-ministros sentaram-se para uma reunião com o primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmyhal, e o presidente Volodymyr Zelensky, que agradeceu o "poderoso" gesto de apoio.
Eles foram acompanhados à Ucrânia por Jaroslaw Kaczynski, líder do partido governista Lei e Justiça da Polônia.
Cinegrafista e jornalista mortos em Kiev
Um cinegrafista e uma jornalista que trabalhavam para a Fox News foram mortos quando seu veículo foi atingido por um tiroteio nos arredores da capital ucraniana, Kiev, disseram funcionários da rede norte-americana de televisão.
A diretora-executiva da Fox News, Suzanne Scott, descreveu as mortes de Pierre Zakrzewski, 55, e Oleksandra Kuvshinova, 24, como "de partir o coração".
Um colega deles, Benjamin Hall, de 39 anos, também foi ferido no incidente e levado ao hospital.
O ataque ocorreu após a morte no domingo do jornalista norte-americano Brent Renaud, de 50 anos, que foi baleado e morto na cidade ucraniana de Irpin.
Jornalista russa interrogada por 14 horas
A jornalista russa que protestou contra a guerra na Ucrânia em um programa de televisão ao vivo e compartilhou um vídeo descrevendo a invasão como um crime foi multada em 30 mil rublos (R$ 1,4 mil).
Marina Ovsyannikova, editora do Canal 1, emissora controlada pelo Estado russo, foi detida na segunda-feira (14/3) depois de entrar no set segurando uma placa dizendo "não à guerra".
As imagens do protesto circularam o mundo, gerando preocupações quanto à segurança da jornalista, que passou horas desaparecida após o episódio.
Nesta terça-feira, no entanto, ela compareceu a uma audiência num tribunal.
Depois da audiência, Ovsyannikova disse a repórteres que passou dois dias sem dormir, foi interrogada por mais de 14 horas e não teve acesso a ajuda legal.
Rússia trará astronauta americano de volta à Terra
Os temores de que o astronauta norte-americano Mark Vande Hei — que está no espaço há 355 dias — pudesse perder sua carona de volta à Terra a bordo de uma cápsula russa foram, felizmente, eliminados nesta terça-feira, quando foi confirmado que ele realmente fará a viagem de volta.
O americano e dois cosmonautas russos serão trazidos de volta, desembarcando no Cazaquistão.
Joel Montalbano, gerente do programa ISS da Nasa, disse: "Posso dizer com certeza que Mark está voltando para casa. Estamos em comunicação com nossos colegas russos. Não há dúvidas quanto a isso."
Biden impedido de entrar na Rússia
Enquanto diversos países impõem mais restrições à Rússia, Moscou retaliou nesta terça-feira aplicando sanções ao presidente dos EUA, Joe Biden, e a outras 12 autoridades americanas.
A lista inclui o secretário de Estado Antony Blinken, o secretário de Defesa Lloyd Austin, a secretária de imprensa Jen Psaki e outros membros do governo.
Também houve algumas surpresas na lista, como a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e o filho de Biden, Hunter.
As medidas bloqueiam sua entrada na Rússia e congelam quaisquer ativos mantidos no país.
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