5 perguntas sem respostas sobre avião da Alaska Airlines que perdeu porta em pleno voo
Parte da fuselagem usada para cobrir saída de emergência não utilizada caiu durante trajeto entre Portland e Oregon, nos Estados Unidos; ninguém se feriu.
O voo 1282 da Alaska Airlines fazia uma viagem de rotina entre Portland e Ontário, nos Estados Unidos, na última sexta-feira (5/1) quando uma de suas portas foi ejetada poucos minutos após a decolagem.
A parte que caiu do céu foi uma peça de 27 kg usada para fechar uma das saídas de emergência do avião.
A porta não estava sendo utilizada pela Alaska Airlines e não havia passageiros sentados imediatamente ao seu lado.
Depois que o objeto caiu, a cabine se despressurizou repentinamente, provocando uma rajada de ar que arrancou os fones de ouvido da tripulação e fez voar telefones e outros itens pessoais.
O caso gerou alarme e perplexidade, levando as autoridades aeronáuticas americanas a tomar medidas preventivas — como a suspensão temporária de centenas de aeronaves do mesmo modelo — enquanto são esclarecidas as causas do incidente.
No Brasil, a Agência Nacional de Aviação (Anac) também suspendeu temporariamente as operações aéreas com o Boeing 737 MAX 9. A panamenha Copa Airlines é a única companhia aérea a operar o modelo no país.
Mas muitas perguntas sobre o ocorrido com o avião da Alaska Airlines ainda precisam ser respondidas.
Confira cinco delas.
1. Como um avião novo pôde apresentar falhas?
O avião danificado foi entregue à Alaska Airlines em 31 de outubro de 2023 e tinha realizado apenas cerca de 100 voos por mês.
É improvável que o desgaste normal ou falhas de manutenção estejam entre os fatores que afetaram essa aeronave tão nova.
O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSF) dos Estados Unidos, que investiga o acidente, disse também não suspeitar de uma falha de design.
Na verdade, esse tipo de porta é utilizada nos Boeing 737 desde 2006 e nunca apresentou problemas graves.
Isso significa que o foco está agora em saber se a porta estava em boas condições e se foi parafusada corretamente.
A porta foi fabricada pela Spirit AeroSystems — fornecedora da Boeing — que já foi criticada no passado por graves falhas no controle de qualidade.
A própria Boeing já havia sido acusada de manter suas fábricas em más condições e de cortar custos na cadeia produtiva.
A empresa insiste que a segurança é sua prioridade.
Segundo especialistas, a porta que caiu é a chave para obter as informações necessárias para os investigadores saberem o que deu errado e por quê.
2. Por que o avião tinha uma porta não utilizada?
O modelo Boeing 737 Max 9 foi encomendado por muitas companhias aéreas diferentes.
A forma de utilização desses aviões nem sempre é a mesma, e existem modelos com números de assentos diferentes.
Já número de saídas de emergência depende do número de assentos.
Quando está mais vazio, o avião pode operar com quatro portas principais e quatro saídas menores na altura das asas.
Mas se estiver com lotação máxima, serão necessárias mais duas saídas no meio do caminho entre as asas e a cauda da aeronave.
Na verdade, a Boeing constrói todos os seus Max 9 com essas duas portas adicionais e, quando elas não são necessárias, são instaladas portas ou "plugs" não operacionais que ficam escondidos atrás do acabamento interno.
3. Por que o avião continuou voando após alertas de falha de pressurização?
Segundo a NTSB, pilotos relataram que as luzes de alerta sobre falhas de pressurização haviam sido acionadas em três voos anteriores com a mesma aeronave.
Essas luzes se acendem quando a pressão da cabine, que normalmente é regulada automaticamente, muda repentinamente.
A tripulação pode responder ajustando manualmente a pressão da cabine ou, em emergências, descer para uma altitude inferior.
No entanto, esse alerta também pode ser acionado devido a falhas menores.
No caso do avião da Alaska Airlines, a luz acendeu em vários voos em um curto período de tempo.
O problema foi comunicado à equipe de manutenção, cuja resposta foi ditada pelo manual do avião, um documento editado pela Boeing, mas ratificado por reguladores.
Naquele momento, restrições foram impostas sobre onde a aeronave poderia voar.
Segundo a NTSB, investigações adicionais também haviam sido planejadas, mas não chegaram a acontecer antes do acidente.
4. Por que algumas aeronaves foram autorizadas a voltar a voar?
Imediatamente após o incidente de sexta-feira, a Alaska Airlines suspendeu temporariamente os voos de toda a sua frota de 65 aeronaves 737 Max 9.
No entanto, no sábado (6/1), 18 aviões foram autorizados a voltar ao serviço por um breve período.
Essas aeronaves passaram recentemente por checagens amplas, incluindo inspeções nas portas.
Nenhum problema foi encontrado, e a empresa acreditava que eles eram seguros.
Mas, quando a Administração Federal de Aviação, emitiu uma diretiva proibindo as aeronaves afetadas de voar até que sejam realizadas averiguações específicas, a companhia aérea não teve outra opção se não suspender novamente os voos de todos os 18 aviões.
5. E agora?
A NTSB está conduzindo uma investigação completa.
O processo vai envolver a averiguação do próprio avião, da porta perdida (que foi encontrada num quintal no Oregon), dos dados do voo e dos registros de manutenção, bem como entrevistas com a tripulação, com funcionários de manutenção e com funcionários da Boeing e da Spirit AeroSystems.
O objetivo da investigação é descobrir o que deu errado e por quê, não apontar culpados.
No entanto, há um risco enorme para a Boeing.
O 737 Max é a aeronave mais vendida da empresa, favorita entre as companhias aéreas devido aos seus baixos custos operacionais e eficiência no uso de combustível.
No entanto, a sua reputação em termos de segurança já foi gravemente manchada por causa de dois acidentes ocorridos no final de 2018 e no início de 2019, nos quais 346 pessoas morreram.
A Boeing insiste que hoje é uma empresa diferente. Em uma mensagem enviada aos funcionários, o CEO da empresa, Dave Calhoun, disse que "quando ocorrem acidentes graves como este, é fundamental que trabalhemos de forma transparente com os nossos clientes e reguladores para compreender e abordar as causas do evento, e para garantir que não aconteçam de novo."