5 pontos para acompanhar no histórico encontro entre os líderes das Coreias
O encontro entre dois mandatários do país ocorre após 11 anos e pode ser um legado de Moon Jae-in na liderança da Coreia do Sul.
Kim Jong-un, líder norte-coreano, se reúne nesta sexta-feira pela primeira vez desde que assumiu, em 2011, com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in.
O encontro será parcialmente transmitido pela televisão.
Esta é também a primeira vez que Kim - à frente de um país fechado, com relações diplomáticas com poucos países - será publicamente visto em uma situação desse tipo. Recentemente, o líder norte-coreano reuniu-se com o presidente chinês, Xi Jinping, mas as conversas ocorreram de forma secreta e não foram relatadas até que terminassem.
A reunião crucial será a primeira de alto nível entre os líderes das duas Coreias em mais de uma década, e há muito em jogo.
Depois de um ano de crescentes tensões, a situação da península coreana se acalmou, e já se fala sobre a desnuclearização ou um acordo de paz que ponha fim oficialmente à guerra que opôs as Coreias e terminou em 1953 com um armistício.
A situação, no entanto, é difícil. Aqui, contamos algumas das coisas que você pode esperar deste encontro histórico:
1- Kim atravessa para o Sul
Embora não seja a primeira reunião de líderes de ambas as Coreias desde a guerra na península, será a primeira vez que o líder norte-coreano cruza para o Sul.
Kim Jong-il, pai e antecessor do atual líder norte-coreano, reuniu-se com presidentes do Sul em duas ocasiões: primeiro com Kim Dae-jung, em 2000, e depois com Roh Moo-hyun, em 2007, e ambos os encontros ocorreram em Pyongyang.
Nesta ocasião, espera-se que às 9h30 do horário local (21h30 em Brasília), Kim Jong-un vá para a Zona Desmilitarizada na fronteira intercoreana e atravesse a pé a linha de demarcação que divide os dois países.
Lá, o estará aguardando o presidente Moon Jae-in e ambos serão escoltados por uma guarnição de honra para a chamada "Casa da Paz", o pavilhão onde a cúpula será realizada, no lado sul-coreano daquela parte da fronteira.
As conversas formais começarão uma hora depois, às 10h30 do horário local, de acordo com o Sul. Ambos comerão separadamente, plantarão uma árvore de forma simbólica e depois continuarão as discussões.
2- A irmã
Na equipe que acompanhará o jovem líder norte-coreano destaca-se sua irmã, Kim Yo-jong.
Kim Yo-jong ocupa o cargo de diretora de propaganda do governo e, no ano passado, teve um papel de destaque na agenda política do regime.
Ela foi encarregada de viajar para a Coreia do Sul em fevereiro durante as Olimpíadas de Inverno, com o objetivo de abrir caminho para que a cúpula de líderes pudesse ser realizada.
O presidente sul-coreano vai realizar um jantar em homenagem a Kim na sexta-feira e, embora eles saibam até os detalhes do cardápio, a presença das esposas dos líderes ainda é uma incógnita.
3 - Armas nucleares
A desnuclearização da Coreia do Norte será uma das questões mais importantes na mesa.
Desde 2006, Pyongyang realizou seis testes atômicos - o último e mais poderoso foi em setembro de 2017. Logo depois, o regime norte-coreano declarou que havia completado seus objetivos nucleares.
Kim Jong-un mostrou disposição para falar sobre a desnuclearização, mas analistas receberam esse sinal com ceticismo.
"Eu acho que este será um bom jogo para ambos os líderes. Mas se isso realmente vai levar à desnuclearização, ainda não está tão claro", disse James Kim, diretor do Instituto Asan de Estudos Político, à jornalista da BBC na Ásia, Virginia Harrison.
Na semana passada, o líder norte-coreano anunciou a suspensão dos testes nucleares e balísticos, além do fechamento do centro de testes nucleares no norte do país, que foi seriamente danificado após o teste de setembro.
No entanto, especialistas consideram essa declaração uma oferta simbólica, que pode ser revogada a qualquer momento e que mostra um país seguro, disposto a mostrar que atingiu suas metas e não precisa mais realizar testes.
Como moeda de troca, o presidente sul-coreano fez menção ao complexo de Kaesong, um dos raros pontos de cooperação entre as Coreias, onde milhares de trabalhadores norte-coreanos são empregados por fábricas sul-coreanas.
O complexo foi fechado em 2016 por iniciativa de Seul, sob o argumento de que o Norte estava confiscando os salários pagos a funcionários norte-coreanos para investir em seu programa nuclear, e Moon disse que está disposto a reabri-lo caso ocorra algum progresso em direção à desnuclearização.
4 - Acordo de Paz?
Outro dos pontos destacados por Seul é a possibilidade de estabelecer uma paz permanente entre as duas Coreias.
Seul e Pyongyang seguem tecnicamente em guerra, pois o conflito entre os dois países acabou em 1953 com um cessar-fogo, mas não com um acordo formal de paz.
"As esperanças de Moon para esse encontro são claras", diz Harrison.
O presidente sul-coreano diz que "um acordo de paz deve ser buscado" para finalmente pôr fim ao conflito iniciado em 1950.
O armistício que interrompeu a guerra foi assinado pela Coreia do Norte, seus aliados chineses e o comando da ONU liderado pelos Estados Unidos, que apoiou o Sul nos combates.
"Não há nenhuma dúvida de que Moon deseja que a reconciliação seja parte de seu legado", diz Ji-Young Lee, professor assistente da escola de estudos internacionais da Universidade Americana, em Washington.
Entre outras questões, encontros entre famílias coreanas separadas pela guerra, que estavam suspensos desde 2015, podem ser retomados.
5 - O Twitter de Trump
O presidente Donald Trump será uma das figuras levadas em conta na sexta-feira, mesmo que não participe do encontro diretamente.
O mandatário acompanhará de perto o que vai ocorrer na península coreana e, de acordo com o governo de Seul, o presidente Moon vai telefonar para Trump logo após o fim do encontro.
Espera-se que o presidente americano, acostumado a emitir opiniões pelo Twitter, se reúna com o próprio Kim Jong-un em meados de maio ou início de junho - ainda não se sabe a data ou local onde o encontro pode ocorrer.
Caso se confirme, será a primeira reunião entre um presidente americano e um líder norte-coreano desde 2009, quando Bill Clinton visitou Kim Jong-il em Pyongyang em busca de um acordo para libertar dois jornalistas americanos presos pelo regime.
De acordo com o especialista do Instituto Asan, a Coréia do Norte vê sua relação com a Coreia do Sul como "a única maneira de Washington falar com eles" sobre questões como as sanções que pesam sobre o país, por causa de seus numerosos testes nucleares e de mísseis.
Por outro lado, o professor Lee da Universidade Americana acredita que o mandatário norte-coreano quer ser tratado como um líder "igual aos americanos".
"Normalmente pensamos que os ditadores podem fazer o que quiser, mas na realidade eles também ficam sob pressão. Kim pode estar preocupado com sua própria legitimidade na Coreia do Norte", diz.