A cidade sagrada do Tibete atingida por terremoto que matou dezenas de pessoas
Terremoto atingiu a sagrada cidade de Shigatse na manhã de terça-feira (07/01, horário local) e foi um dos mais mortais a afetar a China nos últimos anos.
Pelo menos 126 pessoas foram confirmadas como mortas e 188 ficaram feridas após um grande terremoto atingir uma região remota e montanhosa do Tibete, próxima ao Monte Everest, segundo a mídia estatal chinesa.
Mais de 3.000 casas e edifícios foram danificados.
O terremoto, que atingiu a sagrada cidade de Shigatse na manhã de terça-feira (07/01, horário local), teve uma magnitude de 7,1 e profundidade de 10 quilômetros, de acordo com dados do Serviço Geológico dos EUA (USGS). O órgão também registrou uma série de tremores secundários na área.
A mídia estatal chinesa informou que o terremoto teve uma magnitude ligeiramente inferior, de 6,8.
Tremores foram sentidos no Nepal e em partes da Índia, países vizinhos do Tibete.
Terremotos são comuns na região, localizada em uma importante falha geológica, mas o desta terça-feira está entre os mais mortais que a China vivenciou nos últimos anos.
Vídeos divulgados pela emissora estatal chinesa CCTV mostram casas destruídas e prédios desabados, enquanto equipes de resgate atravessam os escombros e distribuem cobertores aos moradores.
As imagens também mostram sobreviventes recebendo atendimento médico.
No condado de Tingri, próximo ao epicentro do terremoto, nos contrafortes ao norte do Himalaia, as temperaturas estão em torno de -8 °C e devem cair para -18° C durante a noite, de acordo com a Administração Meteorológica da China.
Os serviços de energia elétrica e abastecimento de água na região foram interrompidos. Mais de 40 tremores secundários foram registrados nas primeiras horas após o terremoto.
Shigatse é considerada uma das cidades mais sagradas do Tibete, que foi anexado pela China na década de 1950.
Desde então, o país mantém um controle rigoroso sobre a região, incluindo restrições à mídia e ao acesso à internet.
Jiang Haikun, pesquisador do Centro de Redes de Terremotos da China, disse à CCTV que, embora outro terremoto de magnitude em torno de 5 ainda possa ocorrer, "a probabilidade de um tremor mais forte é baixa".
Um hóspede de hotel em Shigatse contou ao jornal chinês Fengmian News que foi despertado por uma onda de tremores. Ele relatou ter pegado as meias rapidamente e corrido para a rua, onde viu helicópteros sobrevoando a área.
"Parecia que até a cama estava sendo levantada", afirmou, acrescentando que imediatamente soube que era um terremoto, já que o Tibete vinha registrando vários tremores menores recentemente.
Situado ao pé do Monte Everest, que separa o Nepal da China, o condado de Tingri é um ponto popular para alpinistas que se preparam para escalar o pico mais alto do mundo.
Os passeios turísticos ao Everest em Tingri, programados originalmente para a manhã de terça-feira, foram cancelados, informou um funcionário do setor de turismo à mídia local, acrescentando que a área turística foi completamente fechada.
A região de Shigatse, lar de 800.000 pessoas, é a sede tradicional do Panchen Lama — uma figura central do budismo tibetano cuja autoridade espiritual é superada apenas pela do Dalai Lama, que afirmou estar profundamente entristecido com as notícias do terremoto.
"Ofereço minhas orações por aqueles que perderam suas vidas e envio meus votos de rápida recuperação a todos os feridos", disse o Dalai Lama em um comunicado.
O atual Dalai Lama fugiu do Tibete para a Índia em 1959 e, desde então, tem sido visto como uma fonte alternativa de poder para os tibetanos que rejeitam o controle de Pequim sobre a região. Muitos acreditam que a China escolherá seu próprio Dalai Lama quando o atual falecer.
Gedhun Choekyi Niyima, identificado como a reencarnação do Panchen Lama, desapareceu na China quando tinha seis anos de idade. A China então escolheu seu próprio Panchen Lama.
A força aérea chinesa iniciou operações de resgate e enviou drones para a área afetada.
O presidente chinês, Xi Jinping, também pediu esforços máximos de busca e resgate para minimizar as perdas humanas e realocar os moradores afetados.
Embora fortes tremores tenham sido sentidos no Nepal, nenhum dano significativo ou vítimas foram relatados, disse um funcionário do Centro Nacional de Operações de Emergência à BBC Newsday - apenas "danos menores e rachaduras em casas".
A região, localizada próxima a uma importante falha geológica entre as placas tectônicas indiana e eurasiática, é frequentemente atingida por atividades sísmicas. Em 2015, um terremoto de magnitude 7,8 próximo a Katmandu, capital do Nepal, matou quase 9.000 pessoas e feriu mais de 20.000.
Os tremores da manhã de terça-feira, que fizeram muitos moradores de Katmandu correrem para fora de suas casas, trouxeram de volta memórias desse desastre mortal.
"Em 2015, quando o terremoto aconteceu, eu não conseguia nem me mexer", disse Manju Neupane, dono de uma loja em Katmandu, à BBC Nepali.
"Hoje, a situação não foi tão assustadora. Mas tenho medo de que outro grande terremoto nos atinja e fiquemos presos entre os prédios altos."