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A fuga de 4 mil presos que levou Haiti a decretar emergência contra facções

Líderes das gangues dizem que querem forçar a renúncia do primeiro-ministro, Ariel Henry.

4 mar 2024 - 14h14
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Pneus foram queimados em frente à principal prisão da capital haitiana no último sábado
Pneus foram queimados em frente à principal prisão da capital haitiana no último sábado
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O governo do Haiti declarou estado de emergência por 72 horas no domingo (03/03), depois que integrantes armados de facções criminosas invadiram um importante presídio de Porto Príncipe, provocando a morte de pelo menos 12 pessoas e permitindo a fuga de cerca de 4 mil presos.

Os líderes das gangues dizem que querem forçar a renúncia do primeiro-ministro, Ariel Henry, que está em viagem ao exterior.

Os grupos que pretendem derrubá-lo controlam cerca de 80% de Porto Príncipe.

As guerras de gangues ultraviolentas mataram milhares de pessoas no país desde 2020.

Um comunicado do governo informou que duas prisões — uma na capital e outra em Croix des Bouquets — haviam sido invadidas no fim de semana.

O governo disse que os atos de "desobediência" eram uma ameaça à segurança nacional e anunciou que estava instituindo imediatamente um toque de recolher noturno, que começou às 20h (horário local).

Entre os detidos no presídio em Porto Príncipe, estavam membros de gangues acusados de ligação com o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021.

A recente escalada da violência começou na quinta-feira (29/02), quando o primeiro-ministro viajou para Nairobi para discutir o envio de uma força de segurança multinacional liderada pelo Quênia para o Haiti.

O líder de gangue Jimmy Chérizier, conhecido como "Barbecue", convocou um ataque coordenado para derrubá-lo.

"Todos nós, os grupos armados nas cidades das províncias e os grupos armados na capital, estamos unidos", declarou o ex-policial, que acredita-se estar por trás de vários massacres em Porto Príncipe.

O sindicato dos policiais do Haiti havia pedido ajuda aos militares para reforçar a segurança na principal prisão da capital, mas o complexo foi invadido na noite de sábado (02/03).

No domingo, as portas do presídio ainda estavam abertas, e não havia sinais de agentes penitenciários, informou a agência de notícias Reuters. Três presos que tentaram fugir estavam mortos no pátio, acrescentou a reportagem.

Um jornalista da agência de notícias AFP que visitou a prisão viu cerca de 10 corpos, alguns com sinais de ferimentos causados por balas.

Um funcionário penitenciário voluntário disse à Reuters que 99 prisioneiros —incluindo ex-soldados colombianos presos pelo assassinato do presidente Moïse — haviam optado por permanecer em suas celas por medo de serem mortos em meio ao fogo cruzado.

A violência tem sido frequente desde o assassinato do presidente Moïse, morto dentro de sua residência, em 2021. Ele ainda não foi substituído, e eleições não são realizadas no país desde 2016.

Por um acordo, Henry deveria ter deixado o cargo de primeiro-ministro em 7 de fevereiro. Mas as eleições planejadas não foram realizadas, e ele permanece no poder.

O Haiti não tem um único membro do governo eleito desde que o mandato dos últimos senadores expirou em janeiro de 2023.

Em conversa com a BBC, Claude Joseph — que era o primeiro-ministro em exercício quando o presidente Moïse foi assassinado, e que agora é líder do partido da oposição Comprometidos com o Desenvolvimento — disse que o Haiti estava vivendo um "pesadelo".

Segundo ele, Henry queria "permanecer no cargo o maior tempo possível".

"Ele concordou em sair em 7 de fevereiro. Agora ele decide ficar, apesar do fato de haver enormes protestos em todo o país pedindo a saída dele, mas é lamentável que agora esses criminosos estejam usando meios violentos para forçá-lo a renunciar", declarou.

Em janeiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que no ano passado mais de 8,4 mil pessoas no Haiti foram vítimas da violência de facções, incluindo assassinatos, ferimentos e sequestros — mais do que o dobro do número registrado em 2022.

A indignação diante dos níveis chocantes de violência, aliada ao vazio político, levou a vários protestos contra o governo, com os manifestantes exigindo a renúncia do primeiro-ministro.

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