Acusação sem provas contra DiCaprio gera críticas e piadas contra Bolsonaro
Presidente acusou o ator americano e ambientalista Leonardo DiCaprio e a ONG WWF de financiarem queimadas criminosas no Brasil.
A acusação que Jair Bolsonaro fez ao ator americano e ambientalista Leonardo DiCaprio levou o presidente brasileiro a ocupar espaço na imprensa internacional. A declaração também virou motivo de críticas e piadas nas redes sociais.
Em transmissão ao vivo em rede social, Bolsonaro acusou DiCaprio e a ONG WWF de financiarem queimadas criminosas no Brasil.
"O pessoal da ONG, o que eles fizeram? O que é mais fácil? Botar fogo no mato. Tira foto, filma, a ONG faz campanha contra o Brasil, entra em contato com o Leonardo DiCaprio, e então o Leonardo DiCaprio doa US$ 500 mil para essa ONG. Uma parte foi para o pessoal que estava tocando fogo, tá certo? Leonardo DiCaprio tá colaborando aí com a queimada na Amazônia, assim não dá", disse.
DiCaprio rebateu a acusação do presidente Jair Bolsonaro de que ele teria financiado queimadas criminosas no Brasil. Ele disse que "embora certamente mereçam apoio", ele não financia as organizações "que estão atualmente sob ataque".
"O futuro desses ecossistemas insubstituíveis está em jogo e tenho orgulho de fazer parte dos grupos que os protegem", afirmou o ator, que também elogiou "o povo do Brasil que trabalha para salvar seu patrimônio natural e cultural".
A ONG WWF também declarou que não recebeu doações do ator.
Na imprensa estrangeira
A declaração de Bolsonaro foi publicada por jornais de diversos países. O britânico The Guardian e o americano The New York Times divulgaram reportagens na sexta-feira (29) em que afirmam que a acusação de Bolsonaro contra DiCaprio foi falsa.
O francês Le Figaro também publicou reportagem sobre o assunto, que menciona inclusive as imagens de DiCaprio com um lança-chamas no filme 'Era Uma Vez Em... Hollywood'.
A repercussão internacional levou o presidente a falar novamente sobre o ator. "Quando eu falei que há suspeitas de ONGs, o que a imprensa fez comigo? Agora, o Leonardo DiCaprio é um cara legal, não é? Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia", disse a apoiadores.
Redes sociais
Apoiadores do presidente usaram as redes sociais para reforçar a crítica feita por Bolsonaro. Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro escreveu no Twitter, também sem mostrar provas, que DiCaprio doou US$ 300 mil para "a ONG que tocou fogo na Amazônia".
Já o líder da oposição no Senado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), usou as redes sociais para criticar a gestão e a posutra de Bolsonaro.
"Quanto desespero! O omisso e incompetente presidente, responsável pelo desmonte ambiental sem precedentes no país, culpa até Dicaprio mas não responsabiliza sua gestão que é incapaz de dar um passo sem destruir algo. Parece piada!", escreveu o parlamentar.
No entanto, o que chamou atenção na internet foram as montagens que circularam com imagens do ator incendiando florestas com um lança-chamas.
O ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, publicou uma imagem em que aparece ao lado de DiCaprio e escreveu: "Juro que nesse dia ele não me disse nada sobre esse negócio de incêndio", com a hashtag "#tozoando".
Alter do chão
Na fala em que acusou DiCaprio, o presidente fazia referência a uma operação da Polícia Civil do Pará que prendeu quatro voluntários da Brigada de Incêndio de Alter do Chão e apreendeu documentos da organização não-governamental Projeto Saúde e Alegria (PSA), que tem gerado protestos de ativistas, entidades indígenas e grupos que atuam na Floresta Amazônica
A Brigada de Alter do Chão é um grupo de voluntários formado em 2018 pelo Instituto Aquífero Alter do Chão para ajudar no combate às queimadas na floresta e que atua em parceria com o Corpo de Bombeiros. Já a ONG PSA, fundada por médicos, atua há 30 anos na floresta fornecendo ajuda e serviços de saúde para a população local.
As prisões e a busca e apreensão na sede da ONG fizeram da parte de Operação Fogo de Sairé, lançada pela polícia para investigar incêndios em Alter do Chão. A Polícia Civil pediu a prisão preventiva dos voluntários e os acusa de iniciar focos de incêndio para depois combatê-los e arrecadar fundos enviados por entidades internacionais.
A detenção dos brigadistas gerou mobilização de grupos indígenas, movimentos sociais e ativistas pelo meio ambiente, que dizem que as prisões tiveram motivação política e são uma tentativa de criminalizar as ONGs, em meio à tensões fundiárias e pressões imobiliárias crescentes na região — que é valorizada por ser um dos principais destinos turísticos da Amazônia.