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África

Crise no Mali: separatismo, golpe, terrorismo e intervenção

22 jan 2013 - 16h37
(atualizado em 23/1/2013 às 10h21)
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No dia 11 de janeiro de 2013, a França iniciou uma intervenção militar no Mali para conter o avanço de grupos terroristas atuantes no norte do país africano. A situação, que é vista com cuidado e apreensão pelas lideranças ocidentais, remonta não apenas ao passado recente de crise política malinense como também ao histórico da formação de movimentos islâmicos na África Ocidental.

Soldado francês comemora em cima de um tanque na localidade de Niono: intervenção com respaldo da ONU
Soldado francês comemora em cima de um tanque na localidade de Niono: intervenção com respaldo da ONU
Foto: AFP

Entenda os interesses da França no Mali

Fotos: veja a intervenção francesa no Mali

Ex-colônia francesa independente desde 1960, o Mali é um país pobre e sem acesso ao mar. Ele se divide basicamente em duas porções: a do sul, mais densamente urbanizada e povoada; e a do norte, predominantemente desértica e esparsamente ocupada. O norte é a região dos tuaregues, grupo étnico que possui um histórico separatista do governo central da capital Bamako, localizada ao sul, próximo à fronteira com a Guiné.

Embora o país viesse sendo elogiado pelo amadurecimento da democracia no final do século passado, o Mali passou por uma grave política em 2012. Setores do Exército rebelaram-se contra o governo do presidente Amadou Toumani Tourré e, em março, forçaram sua renúncia e declararam inválida a Constituição. Para conter a crise, os militares apoiaram a formação de um governo provisório, ainda sem sólido respaldo internacional.

A crise aprofundou o distanciamento e piorou a situação dos tuaregues em relação ao governo central. Foi neste ambiente que os separatistas do norte aproximaram-se de militantes islâmicos atuantes na região do Saara, que lhes forneceram apoio. A motivação do separatismo tuaregue repousa em critérios étnicos e tem objetivo a criação de um governo autônomo, mas o influxo islâmico mudou o perfil da situação.

Diversos grupos militantes islâmicos entraram em cena. O principal deles é a Al-Qaeda do Magreb Islâmico (AQIM na sigla em inglês): trata-se de uma milícia dotada de algumas centenas de membros que atua no Sahel, a região do deserto do Saara que compreende Mali, Mauritânia, Argélia, Líbia e Níger. Seus principais líderes teriam sido treinados no Afeganistão antes da invasão americana e teriam ainda raízes de atuação na Argélia pós-independência.

Estes grupos de terroristas apoiaram os tuaregues desamparados, mas têm motivações bem distintas das dos separatistas do Mali. Eles desejam livrar a África ocidental dos estrangeiros europeus e de seus costumes e determinar a imposição extremista rígido da sharia (a lei islâmica) em moldes similares ao fundamentalismo implantado no Afeganistão, marcado pela repressão das mulheres e de hábitos supostamente pecaminosos, como o fumo.

Foi esta frente separatistas fortalecida por terroristas que despertou a atenção da França, que, nos primeiros dias de 2013, decidiu intervir no Mali. Diversas cidades da região central do país já haviam sido parcial ou completamente tomadas pelos militantes islâmicos, nos quais já imperava um novo tipo de sociedade – distinta mesmo da desejada pelos tuaregues. De modo geral, a ação francesa está sendo bem recebida pelos malinenses que, somente amparados no seu frágil, velho e pobre Exército, nenhuma chance tinham contra o avanço dos terroristas.

Mas a ação francesa, que já conseguiu conter o avanço islâmico e mesmo libertou algumas cidades, acabou por provocar retaliações por parte destes grupos. Em reação à intervenção, um grupo da AQIM liderado pelo terrorista Mokhtar Belmokhtar invadiu um campo de exploração de gás na Argélia, fazendo cerca de 700 reféns. Belmokhtar, um dos fundadores da AQIM, pedia a saída das tropas francesas do Mali e a libertação de aliados detidos nos Estados Unidos sob a acusação de terrorismo. A crise dos reféns do complexo de In Amenas levou à ação do Exército da Argélia, que, em uma operação de resgate que se estendeu por três dias, provocou a morte de dezenas de reféns e militantes.

O Mali espera a chegada de um Exército de soldados da comunidade africana, cujos líderes temem o aumento da atividade terrorista na região. A intervenção francesa foi prontamente apoiada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Paris, Bamako e outros líderes africanos, como Alassane Ouattara – presidente da Costa Marfinense e da Comunidade Econômica dos Estados do Oeste Africano (Ecowas) – esperam contar com crescente apoio internacional no enfrentamento deste novo desafio do terrorismo do século XXI.

Fonte: Terra
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