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África

Droga contra ebola é 100% eficaz em testes com animais

Todos os 18 macacos que participaram do teste sobreviveram, incluindo animais que já apresentavam estado avançado da doença

29 ago 2014 - 20h19
(atualizado às 20h20)
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Médicos em treinamento contra o ebola; medicamento ZMapp é o principal coquetel disponível para tratá-lo
Médicos em treinamento contra o ebola; medicamento ZMapp é o principal coquetel disponível para tratá-lo
Foto: AP

Os únicos resultados de testes clínicos feitos até agora com a droga experimental ZMapp, cuja finalidade é combater a infecção pelo vírus ebola, mostram que ela teve 100% de eficácia em macacos, mesmo em casos avançados de infecção.

Os pesquisadores responsáveis pelo estudo, cujos detalhes foram divulgados na revista Nature, disseram que se trata de "um importante passo adiante". Eles agora querem iniciar testes clínicos em pessoas para entender melhor os efeitos da droga.

O ZMapp ainda está em estágio inicial de desenvolvimento. Até agora, não havia dados sobre sua eficácia.

Médicos vêm recorrendo a ele - mesmo sem que ele tenha recebido aprovação para uso em pessoas - pelo fato de o ebola não ter cura. A doença matou mais de 1,5 mil pessoas na atual epidemia, iniciada na Guiné, no oeste da África.

No entanto, mesmo que a eficácia do remédio em humanos seja comprovada, os limitados suprimentos da droga não serão capazes de ajudar as 20 mil pessoas que, segundo estimativas, ainda devem ser infectadas na atual epidemia no oeste da África.

Além disso, sabe-se que duas em cada sete pessoas que já receberam o medicamento acabaram morrendo em decorrência do vírus.

Anticorpos

Pesquisadores têm investigado diferentes combinações de anticorpos como terapia contra a doença.

Combinações prévias obtiveram algum sucesso em estudos com animais. E o ZMapp é o coquetel mais recente, contendo três anticorpos.

Os testes desse coquetel, feitos em 18 macacos infectados com o ebola, mostraram que 100% deles sobreviveram - inclusive animais que receberam a droga até cinco dias após a infecção, ou seja, já em estado avançado da doença e três dias antes de ela se tornar fatal nos animais.

Os cientistas dizem que trata-se de um feito significativo, já que medicamentos prévios só serviam se fossem ingeridos antes mesmo que os sintomas surgissem.

Um dos pesquisadores, Gary Kobinger, da Agência de Saúde Pública do Canadá, disse que esse é um grande avanço em relação a combinações prévias de anticorpos.

"O nível de avanço superou minhas próprias expectativas e me surpreendi com o fato de (o coquetel) resgatar animais até o quinto dia (de infecção); é uma notícia fantástica", diz ele.

No entanto, cientistas costumam ser cautelosos quanto a interpretar implicações para humanos de testes animais.

Um médico liberiano e um padre espanhol morreram de ebola, mesmo sendo tratados com o ZMapp. Em contrapartida, dois médicos americanos que se conseguiram se recuperar também receberam o ZMapp.

O curso da infecção é mais lento em humanos do que nos macacos. Por isso, estima-se que o ZMapp só seja eficaz em humanos se ingerido até o nono ou 11º dia da infecção.

Mas, segundo Kobinger, "sabemos que há um ponto sem volta, em que os órgãos principais do corpo sofrem muitos danos, então há um limite (ao medicamento)".

Testes em humanos

O virólogo britânico Jonathan Ball, da Universidade de Nottingham, comentou o resultado da pesquisa dizendo que, antes dela, "o ZMapp era um mistério total".

"Trata-se de uma melhora incrível quanto aos coquetéis prévios - 100% de sucesso e, sobretudo, após os primeiros sintomas da infecção", agrega ele.

O professor Peter Piot, diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, afirmou nunca ter imaginado, "40 anos após eu ter me deparado com minha primeira epidemia de ebola, que a doença continuaria a provocar mortes em uma escala tão devastadora".

"Esse bom teste em não-humanos oferece a evidência mais convincente até agora de que o ZMapp pode ser um tratamento efetivo às infecções de ebola em humanos", afirma. "É crucial que testes em humanos comecem o mais rápido possível."

Foto: Arte Terra

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