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África

Egito: "havia cadáveres por todos os lados", diz voluntária

16 ago 2013 - 09h10
(atualizado às 09h39)
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"O mais terrível é não ser capaz de ajudar as pessoas. Quando se é inútil. E ontem (quarta-feira) foi o pior dia de que me lembro", contou Salma Bahgat, voluntária do Crescente Vermelho no Egito.
"O mais terrível é não ser capaz de ajudar as pessoas. Quando se é inútil. E ontem (quarta-feira) foi o pior dia de que me lembro", contou Salma Bahgat, voluntária do Crescente Vermelho no Egito.
Foto: Crescente Vermelho do Egito / BBC News Brasil

De todos os voluntários da equipe de ação da Cruz Vermelha egípcia (também chamada em alguns países de Crescente Vermelho) que habitualmente atuam nas ruas do Cairo, na quarta-feira só dez apareceram para trabalhar. E dos dez, apenas uma mulher: Salma Bahgat.

Era um dia complicado. Naquela madrugada as forças de segurança do Egito haviam começado a desmantelar os grandes acampamentos de apoiadores do presidente deposto Mohamed Mursi, criando um verdadeiro campo de batalha. Os voluntários são os encarregados de prestar os primeiros socorros aos feridos nos protestos, grupo cuja maioria é formada por profissionais da saúde, como médicos, dentistas e enfermeiros.

Salma é dentista e desde 2011 faz parte da equipe. A primeira regra para ela, como voluntária da Cruz Vermelha, é ser imparcial, podendo somente contar com sua experiência profissional, sem tomar partido de nenhum dos lados do conflito.

A socorrista viu muitas coisas durante a recente crise no Egito, o que ela contou em depoimento à BBC, sendo uma das poucas a presenciar os acontecimentos de quarta-feira. "(Em ocasiões anteriores) estivemos na praça Tahir ou na área (do bairro de) Mohamed Mahmud, onde havia muitos mortos e e feridos, porém nunca como o que vimos ontem (quarta)", relembra a socorrista, que está baseada no Cairo, em entrevista por telefone à BBC.

Cenário de guerra

"Tínhamos pacientes a cada minuto. Explodiam bombas e se ouviam disparos. Tivemos que sair dali (da rua) e nos deslocarmos par um local mais seguro. Abriram uma escola para que pudéssemos atender. De imediato cada um de nós começou a atender a cinco ou seis feridos de uma vez". 

Os dez voluntários que chegaram se dividiram em dois grupos. A eles coube a tarefa de trabalhar na área da mesquita de Rabaa al-Adawiya, local onde havia um dos alojamentos desmantelados pelas forças de segurança e que se tornou foco dos mais violento enfrentamento. Chegaram às 13h (hora local) em Rabaa al-Adawiya e mantiveram-se, desde então, nas ruas.

Daí em diante a situação somente se deteriorou. "O ambiente era completamente desumano, havia cadáveres por todas as partes", conta a voluntária. Em apenas duas horas que ficaram na escola, Bahgat calcula que atendeu em torno de 100 pessoas, todos homens adultos, a maioria entre 20 e 30 anos.

A retirada dos apoiadores do presidente deposto Mursi na quarta-feira deixou mais de 600 mortos e milhares de feridos.

"O mais terrível é não ser capaz de ajudar as pessoas, quando se é inútil. E ontem (quarta-feira) foi o pior dia de que me lembro. As ambulâncias não podiam chegar onde estávamos e os doentes não podiam ser levados ao hospital", contou Salma. Ela confirmou quatro mortes durante o atendimento.

"Eu estava fazendo respiração cardiopulmonar numa vítima, porém no final tinha que (parar) e decidir salvar outras pessoas. Como socorrista você tem prioridades e em casos como este escolhemos os que têm possibilidades de sobreviver", explica.

Depois de passadas duas horas de atendimento na escola, o grupo voltou às ruas para atender os feridos por outras quatro horas. Pouco antes das 18h (hora local) o governo egípcio decretou estado de emergência.

"Se pensasse demais, não estaria aqui"

Dentre os feridos que atendeu, um em especial ficou gravado na memória de Salma: um rapaz de aparentemente 25 anos, com o ombro destruído por um disparo.

"Era um médico que tinha ido ali somente para ajudar a gente e terminou ferido. Não queria ir ao hospital, queria ir ver sua esposa. Nós, como membros da Cruz Vermelha, não podemos levar os pacientes para suas casas, assim tivemos que pedir a outras pessoas que o fizessem", relembra a socorrista.

Tal como seu colega, Bahgat está exposta constantemente ao risco de receber um disparo perdido em meio aos enfrentamentos entre manifestantes e a polícia egípcia. "Estou totalmente consciente, mas não penso muito nisso. Se pensasse demais, não estaria aqui."

No entanto ela está. A dentista de 29 anos segue ajudando as pessoas nas ruas, assim como quando entrou para o time de voluntários, em 2011.

Fonte: Terra
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