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África

Egito vive dia de mais violência e mortes; Mubarak ganha condicional

19 ago 2013 - 16h25
(atualizado às 16h47)
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Após os massacres da semana passada, o Egito viveu uma segunda-feira de mais violência. Vinte e quatro policiais e 37 presos islamitas foram mortos em menos de 24 horas no país, onde as forças de ordem reprimem com violência os partidários do presidente destituído Mohamed Mursi, que os consideram "terroristas".

Na península desértica do Sinai, base de retaguarda de vários grupos islamitas armados, os agressores atacaram com foguetes dois micro-ônibus da polícia, matando pelo menos 24 policiais que iam para Rafah. Esse ataque, o mais mortífero contra as forças de ordem em décadas, eleva para mais de cem o número de policiais mortos em cinco dias.

Na noite de domingo, em circunstâncias ainda não esclarecidas, 36 presos pertencentes à Irmandade Muçulmana, de Mursi, morreram asfixiados no furgão em que eram levados para uma prisão do Cairo, com a polícia mencionando uma tentativa de fuga. O campo de Mursi denunciou um "assassinato" e dois policiais foram presos no dia seguinte.

As autoridades anunciam regularmente, desde o início, manifestações pró-Mursi, a prisão de centenas de islamitas. Elas mantêm Mursi desde o dia 3 de julho em um local secreto. Nesta segunda, uma nova acusação foi apresentada contra ele: a de "cumplicidade em assassinato e tortura" contra manifestantes.

Enquanto isso, a justiça anunciou que o ex-presidente Hosni Mubarak, derrubado no início de 2011 por uma revolta popular, foi colocado em liberdade condicional à espera de julgamento em um caso de corrupção. Agora ele permanece detido por uma última acusação.

Massacre após golpe de Estado

Cerca de 900 pessoas, manifestantes pró-Mursi em sua grande maioria, foram mortas em seis dias em todo o país, incluindo cerca de 600 na quarta-feira quando as forças de ordem lançaram o primeiro ataque contra as mobilizações da Irmandade Muçulmana no Cairo. Cerca de 200 morreram depois durante um dia de manifestações na sexta-feira.

Mursi, primeiro chefe de Estado eleito democraticamente no Egito, foi destituído no dia 3 de julho. Desde então, seus partidários exigem o seu retorno ao poder e denunciam um golpe de Estado.

E esta violência sem precedentes na história recente do Egito pode aumentar, já que os dois lados estão reforçando suas posições. Os pró-Mursi convocaram novas manifestações no Cairo nesta segunda-feira e o comandante do Exército, Abdel Fattah al-Sissi, prometeu uma resposta "das mais enérgicas" aos islamitas que optarem pela violência.

"Nossa maior prioridade é a segurança nacional", ressaltou, por sua vez, o ministro das Relações Exteriores, Nabil Fahmy, admitindo que "há uma crise" no país. O "Egito está no bom caminho", considerou ele, afirmando que "o futuro sistema político será um regime democrático, aberto a todos, de acordo com as regras constitucionais que serão escritas em breve".

Qualquer um que recorrer à violência deverá responder por seus atos "conforme à lei" e não participará do futuro do Egito, ressaltou. No país, a imprensa e grande parte da população, que consideram os membros da Irmandade Muçulmana "terroristas", apoiam o método de uso da força do Exército, que suscitou uma onda de fortes críticas no exterior.

A Anistia Internacional denunciou um "massacre total", e lamentou as "fracas" reações internacionais, enquanto os países da União Europeia, que se disseram preparados para "reexaminar" suas relações com o Cairo, realizarão uma reunião ministerial na quarta-feira sobre o assunto.

O chefe da diplomacia saudita, o príncipe Saud al-Fayçal, alertou para que os países árabes estejam preparados para compensar qualquer queda na ajuda ocidental ao Egito. O Canadá se disse "fortemente preocupado" com a prisão de dois se seus cidadãos no Egito, exigindo explicações sobre as acusações contra eles.

Apesar de ter aumentado o tom com o governo egípcio, os Estados Unidos não suspenderão por enquanto sua ajuda militar e econômica, mas podem tomar uma decisão a respeito nas próximas semanas.

O secretário americano de Defesa, Chuck Hagel, pediu nesta segunda feria o fim do estado de emergência, mas reconheceu que a capacidade de influência de seu país é limitada. "A violência deve parar, o estado de emergência deve ser retirado", declarou Hagel, indicando que "todos os aspectos" da cooperação com o Cairo estão sendo reavaliados. Mas ele concluiu: "Nossa capacidade de influenciar os eventos é limitada. Está com o povo egípcio (...), é de sua responsabilidade resolver isto".

Dentro do país, lideranças da pequena comunidade católica copta egípcia consideraram que um ataque "terrorista" está sendo praticado contra o povo egípcio, mas negaram qualquer divisão entre cristãos e muçulmanos, depois de vários ataques terem atingido os coptas recentemente.

No domingo, os militantes favoráveis a Mursi cancelaram manifestações no Cairo, mencionando razões de segurança. Os manifestantes islâmicos temem se tornar alvos das forças de ordem, que são autorizadas a atirar nos manifestantes hostis, e de grupos de cidadãos armados que, há vários dias, atacam islamitas e jornalistas estrangeiros acusados de apoiar os pró-Mursi.

Em um aparente gesto de apaziguamento, o governo anunciou no domingo a proibição desses "comitês populares". Apesar de o estado de emergência e o cessar-fogo noturno permanecerem em vigor, o trânsito voltou a registrar seus habituais engarrafamentos nesta segunda-feira de manhã no Cairo. Os moradores voltaram ao trabalho, enquanto as lojas estavam abertas.

Tanques do Exército continuam posicionados em trechos importantes da capital, e o governo anunciou que as mesquitas serão fechadas fora das horas de oração, para tentar evitar mobilizações pró-Mursi. O presidente deposto foi acusado por seus críticos e por milhões de manifestantes de ter concentrado o poder em benefício dos islamitas e de ter arruinado de vez a economia.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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