Algumas mulheres relatam sem parar os horrores vividos durante seu sequestro pelo grupo jihadista Boko Haram, enquanto outras se assustam com a simples menção do grupo, ou se fecham no silêncio, relatam os especialistas que atendem as vítimas nigerianas.
Em Yola, no nordeste da Nigéria, para onde 275 mulheres e crianças libertadas de campos do Boko Haram foram levadas no último fim de semana, uma equipe médica tenta curar as feridas psicológicas das ex-reféns, muitas vezes vítimas de abusos sexuais e testemunhas de assassinatos.
Um assistente social, Mohammed Bello, passou a manhã de quarta-feira no acampamento de Malkohi, na periferia da cidade, ouvindo as histórias dessas mulheres.
Uma delas contou que seus dois filhos morreram de fome e sede diante de seus olhos.
"Os mais velhos gritavam por água e alimento. Os mais jovens era pequenos demais (para reclamar). Ela precisou tirar a camisa para cobrir os corpos de seus filhos", permanecendo nua até a sua libertação, revelou à AFP depois da sessão a portas fechadas com as vítimas.
Outra mulher descreveu como sua irmã morreu durante o parto, assim como seu bebê, enquanto ela tentava ajudar no nascimento sem assistência alguma no meio do mato.
"Essas histórias partem o coração", lamenta Bello. "Felizmente para elas, essas mulheres conseguiram escapar" da floresta de Sambisa, no estado vizinho de Borno, onde foram mantidas em cativeiro.
A ex-ministra da Educação da Nigéria e a vice- presidente da divisão da África do Banco Mundial participam de marcha organizada pelas mães das adolescentes sequestradas, em Abuja, em 30 de abril
Foto: AFP
Homem pede a libertação das estudantes sequestradass pelo Boko Haram, em Lagos, em 1º de maio
Foto: AFP
Sul-africanos protestam contra o rapto de centenas de estudantes na Nigéria pelo grupo extremista islâmico Boko Haram, durante uma marcha ao Consulado da Nigéria em Joanesburgo, na África do Sul, em 8 de maio
Foto: AP
Mulher participa de protesto exigindo a libertação das adolescentes sequestradas na aldeia de Chibok, em 14 de abril. No cartaz é possível ler a mensagem: "Já chega. Os sequestros precisam parar"
Foto: Reuters
Pessoas participam de protesto exigindo a libertação de meninas sequestradas na aldeia de Chibok, em Lagos, em 5 maio
Foto: Reuters
Manifestantes marcham em apoio às meninas sequestradas por membros do Boko Haram em frente à Embaixada da Nigéria, em Washington, em 6 de maio
Foto: Reuters
Ativista segura um cartaz com a frase: "E se isso acontecesse nos Estados Unidos?" durante uma manifestação em frente à embaixada da Nigéria em Washington, EUA, em 6 de maio
Foto: AFP
Foto mostra quatro alunas da escola secundária de Chibok que conseguiram fugir do grupo Boko Haram
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Vídeo mostra o líder do grupo extremista islâmico Boko Haram Abubakar Shekau. Ele ameaçou vender as centenas de estudantes sequestradas no norte da Nigéria por cerca de R$ 26 cada
Foto: AFP
Mulheres e crianças que sobreviveram a ataques do Boko Haram se abrigam em uma Igreja Católica em Wada Chakawa, na Nigéria, em 31 de janeiro de 2013
Foto: AP
Armas, munições e equipamentos do grupo Boko Haram apreendidos pela polícia são colocados em exposição em um quartel da Nigéria, em 1º de março de 2012
Foto: AP
Boko Haram exibe cadáveres de vítimas na cidade de Damaturu, na Nigéria, após uma série de ataques que deixaram ao menos 69 mortos, em novembro de 2011
Foto: AP
Menina muçulmana passa por uma casa queimada após ataque dos extremistas islâmicos do Boko Haram em Maiduguri, em 28 de janeiro
Foto: AP
Nigerianos se reúnem em torno de um carro queimado fora da Igreja Batista da Vitória em Maiduguri, em 25 de dezembro de 2010. Membros do grupo Boko Haram atacaram a igreja na véspera de Natal, matando o pastor, dois membros do coro e duas pessoas que passavam pelo local
Foto: AP
A ativista paquistanesa Malala segura um cartaz com a mensagem: "Tragam de volta as nossas meninas". Hashtag foi usada quase duas milhões de vezes durante 1 mês após o sequestro
Foto: Facebook / Reprodução
A primeira-dama americana Michelle Obama se manifestou na campanha "Bring back our girls". "Tal como milhões de pessoas em todo o planeta, meu marido (Barack Obama) e eu estamos indignados e arrasados em razão do sequestro de duzentas meninas nigerianas, retiradas de seus aposentos escolares, no meio da noite", afirmou a primeira-dama americana
Foto: Twitter
Mulheres francesas levantam cartazes onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, na terça-feira, 13 de maio
Foto: AP
As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy e Valerie Trierweiler se uniram a políticas e artistas durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, para pedir ajuda política do governo francês pela busca das meninas sequestradas na Nigéria no mês passado
Foto: AP
A ex-primeira-dama francesa Valerie Trierweiler segura um cartaz onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante manifestação em Paris, na terça-feira, 13 de maio
Foto: AP
As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy (esquerda) e Valerie Trierweiler (direita) acompanhadas de políticas e artistas em Paris pedem ajuda do governo na busca das jovens sequestradas na Nigéria
Foto: AP
As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy (esquerda) e Valerie Trierweiler (direita) acompanhadas de políticas e artistas de seguram uma bandeira onde se lê: "Líderes, tragam de volta as nossas meninas", durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, nesta terça-feira, 13 de maio. As mulheres se reuniram para pedir os líderes do governo na ajuda da busca das mais de 200 estudantes que foram sequestradas por militantes do Boko Haram em uma escola secundária em Chibok, nordeste da Nigéria em abril
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A ex-primeira-dama francesa Valerie Trierweiler segura um cartaz onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante manifestação em Paris, na terça-feira, 13 de maio
Foto: AP
A ex-primeira-dama francesa, Carla Bruni-Sarkozy (centro), entre as políticas Nathalie Kosciusko-Morizet e Valerie Pécresse, durante a manifestação "Bring Back our girls", em Paris, nesta terça-feira, 13 de maio. Mulheres francesas se reuniram para pedir aos líderes do governo francês ajuda na busca das mais de 200 estudantes que foram sequestrados por militantes do Boko Haram em uma escola secundária em Chibok, nordeste da Nigéria em 14 de abril
Foto: AP
A atriz Julie Gayet (direita) e a diretora Lisa Azuelos seguram um cartaz onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas" no tapete vermelho no 67 º Festival de Cannes em Cannes neste sábado
Foto: Reuters
A atriz Julie Gayet (direita) e a diretora Lisa Azuelos seguram um cartaz onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas" no tapete vermelho no 67 º Festival de Cannes neste sábado; as meninas foram sequestradas no dia 14 de abril em uma escola da Nigéria pelo grupo Boko Haram
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Celebridades posam ao lado da atriz Selma Hayek Pinault para a exibição de Saint-Laurent no 67º Festival Internacional de Cinema de Cannes, no sul da França, neste sábado, 17 de maio
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A atriz e produtora Salma Hayek segura um cartaz no Festival de Cannes onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas"; ela posa no tapete vermelho do evento neste sábado
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A atriz Salma Hayek, centro, segura um cartaz com o pedido "tragam de volta as nossas meninas", uma campanha que tem sido realizada por diversas celebridades ao redor do mundo, em que pedem a libertação de cerca de 300 estudantes nigerianas sequestradas pelo grupo extremista islâmico nigeriano Boko Haram; a atriz participa do Festival Internacional de Cinema em Cannes, sul da França, neste sábado; da esquerda para a direita os diretores Paul Brizzi, Roger Allers, Joan C. Gratz e Gaetan Brizzi
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As ex-reféns não sabem por quanto tempo vão permanecer no acampamento de As localidades do nordeste da Nigéria onde viviam foram quase todas retomadas do Boko Haram nos últimos meses graças a uma operação conjunta do exército nigeriano e os exércitos de países vizinhos, mas estão em ruínas.
No acampamento, as equipes tratam as lesões físicas e tentam trazer apoio psicológico, mas os traumas, profundos, requerem um trabalho demorado e as vítimas são muitas.
Segundo a Anistia Internacional, mais de 2.000 mulheres e meninas foram sequestradas desde o início de 2014.
Cerca de 700 mulheres e crianças foram libertadas da floresta de Sambisa na semana passada e 25 outras na terça-feira.
Uma primeira sessão a portas fechadas reuniu na quarta-feira 30 médicos, assistentes sociais e psicólogos experientes com algumas das vítimas de Malkohi.
Nigerianos buscam refúgio para fugir do grupo Boko Haram:
"A maioria delas atravessou várias formas de violência, como mulheres, não uma, mas muitas vezes", explica o psicólogo Christian Macaulay Sabum.
ONGs estrangeiras também estão presentes para lidar com os traumas das crianças, acrescenta Sabum. Regina Mousa, uma psicóloga da Universidade Americana da Nigéria em Yola, tira de sua própria experiência para compartilhar a dor dessas mulheres.
A filha de Mousa, Nancy, desapareceu aos 12 anos, por três anos, durante a guerra civil em Serra Leoa, de onde eram originárias, na década de 90."Este trauma, eu atravessei com a minha família", explica Mousa.
"Levará algum tempo, seis meses, talvez um ano, de acordo com o grau de trauma por que passaram, especialmente quando envolve filhos", acrescenta.
Os grupos de acompanhamento são responsáveis por definir as necessidades específicas de cada um.
Algumas mulheres já tiveram prescritos antidepressivos e sessões de acompanhamento psicológico."Uma mulher, especialmente, tem sobressaltos a cada menção do Boko Haram", diz Bello.
"Outras parecem estar bem, dizem que estão felizes e aliviadas, mas não podemos esquecer a extensão do golpe", adverte Mousa, uma vez que o choque pós-traumático pode assumir a forma de pesadelos particularmente violentos.
"Algumas delas ainda não saíram de seu quarto. Elas só saem quando são convidadas. Estas são as que eu me interesso particularmente. Aquelas que são silenciosas são as mais perigosas. Devem estar em tratamento ".
Conheça o líder do grupo que sequestrou estudantes na Nigéria:
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