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África

Irmandade Muçulmana nomeia chefe interino após prisão no Egito

21 ago 2013 - 00h10
(atualizado às 00h42)
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A Irmandade Muçulmana do Egito nomeou nesta terça-feira um chefe interino para substituir seu líder espiritual, Mohamed Badie, detido na véspera pelo governo instaurado pelos militares, que depuseram o presidente islamita Mohamed Mursi.

Badie foi colocado em prisão preventiva por um período de 15 dias por "incitação ao assassinato" de manifestantes, segundo a rede de televisão oficial egípcia.

A detenção desfere um duro golpe no movimento islamita, criado há 85 anos e que há seis dias protagoniza uma sangrenta demonstração de força contra a Polícia e o Exército, que deixou até agora mais de 900 mortos, em sua maioria manifestantes pró-Mursi, e centenas de detidos.

"Mahmud Ezzat, chefe adjunto da Irmandade Muçulmana, assumirá a função de guia supremo do grupo de forma temporária depois que as forças de segurança do sangrento golpe militar detiveram o guia supremo Mohamed Badie", indicou o site do Partido da Justiça e da Liberdade (PJL), formação política da Irmandade Muçulmana.

Para Karim Bitar, diretor de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), de Paris, Ezzat "tem a reputação de ser um falcão". "Pode ser um sinal para mostrar que se deve responder ao autoritarismo com autoritarismo", acrescentou.

A Irmandade Muçulmana já havia indicado que Badie "era apenas um indivíduo entre os milhares que se opõem ao golpe de Estado", dando a entender que o movimento manterá sua mobilização contra a destituição e a detenção de Mursi pelo Exército, no dia 3 de julho.

As redes de televisão locais, que aderiram à causa do Exército e defendem o uso da força contra o "terrorismo da Irmandade Muçulmana", exibiram imagens nas quais era possível ver Mohamed Badie prostrado e vestindo uma galabiya, a longa túnica branca tradicional egípcia.

A Casa Branca criticou nesta terça-feira a prisão do líder espiritual, considerando que o governo havia traído "seu compromisso por um processo político de união".

Badie, de 70 anos e que só apareceu em público uma vez desde a deposição de Mursi, foi detido na madrugada desta terça-feira em um apartamento do Cairo e levado à prisão de Tora, onde estão seus dois assessores, Khairat al-Shater e Rashad Bayumi, com quem será julgado no domingo por "incitação ao assassinato" de manifestantes anti-Mursi.

Desde o início das manifestações pró-Mursi, milhares de membros da Irmandade Muçulmana foram detidos, entre eles algumas lideranças, como o líder do braço político da Irmandade, o Partido da Justiça e da Liberdade, e ex-presidente do Parlamento Saad al-Katatni.

Na prisão de Tora também se encontra detido Hosni Mubarak, o presidente expulso do poder por uma revolução popular no início de 2011. Ele está na prisão apenas por um caso de corrupção, depois de ter obtido a liberdade condicional em outros três.

Quanto a Mursi, mantido em detenção pelo Exército em um local secreto desde a sua deposição, ele foi acusado de "cumplicidade de assassinato" e de "torturas" contra manifestantes na segunda-feira.

Os Estados Unidos criticaram a prisão de Badie por considerá-la contrária aos compromissos assumidos pelos militares para promover "um processo político inclusivo".

O presidente americano, Barack Obama, discutiu na noite desta terça-feira a ajuda dos Estados Unidos ao Egito (1,5 bilhão de dólares por ano) com sua equipe de segurança nacional.

O primeiro-ministro interino do Egito, Hazem el Beblawi, advertiu que será um erro se os Estados Unidos cortarem sua ajuda militar, mas insistiu que o Cairo pode sobreviver sem ela.

Uma eventual decisão de Washington de paralisar sua entrega de armas e outro tipo de assistência ao Egito "seria um sinal ruim e afetaria gravemente as forças militares por algum tempo", disse Beblawi, advertindo que o Cairo adquiriu armas da Rússia no passado.

"Não esqueçamos de que o Egito recorreu às forças militares russas e sobrevivemos, de modo que não é o fim do mundo. Podemos viver em circunstâncias diferentes", garantiu.

Nada parece deter o exército em sua repressão contra a Irmandade Muçulmana. que desde 2011 venceu as primeiras eleições legislativas e presidenciais livres do país. Isto pode levar novamente os islamitas à clandestinidade e provocar um retorno aos anos negros de 1990 com sua sangrenta violência.

Nos últimos dias, a espiral de violência se acelerou com a morte em menos de 24 horas de 25 policiais no atentado mais sangrento dos últimos anos contra as forças de segurança na península do Sinai e de 37 detidos da Irmandade Muçulmana, asfixiados por bombas de gás lacrimogêneo em um furgão penitenciário.

As manifestações dos partidários de Mursi são reprimidas violentamente desde que as forças de segurança desalojaram no dia 14 de agosto seus dois acampamentos no Cairo, deixando 600 mortos em todo o país no dia mais sangrento desde a revolta de 2011.

Nesta terça-feira, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos declarou querer enviar observadores para avaliar a situação no Egito.

"Estamos alarmados pela continuação da violência no Egito", declarou a porta-voz da instituição. "Pedimos às autoridades egípcias que nos permitam enviar observadores de direitos humanos de forma que possamos avaliar a situação no terreno", declarou.

O Alto Comissariado quer recolher informações com base em testemunhas de organizações não-governamentais e outras fontes, acrescentou.

O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Políticos, Jeffrey Feltman, chegou ao Cairo nesta terça para se reunir com as autoridades egípcias e com dirigentes da Irmandade Muçulmana.

O objetivo da visita é tentar "definir a melhor maneira de apoiar as iniciativas para restaurar a paz e promover a reconciliação no Egito", disse o porta-voz Martin Nesirky.

Após as condenações da comunidade internacional, o chefe do exército e novo homem forte do Egito, o general Abdel Fatah al-Sissi, insistiu no domingo que seu país não cederia ante os terroristas.

Os países da União Europeia, que disseram estar dispostos a reexaminar suas relações com o Cairo, realizarão na quarta-feira uma reunião ministerial.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, outro aliado do ex-presidente islamita, afirmou que Israel está por trás de sua destituição, em declarações "sem fundamento", segundo o governo interino egípcio, que alertou que a "paciência do Egito chega ao seu limite".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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