O movimento 6 de Abril, de Ahmed Maher, ajudou a liderar o levante que derrubou Hosni Mubarak em 2011. Com Mubarak livre da cadeia, o ativista considera que a revolução voltou à estaca zero, e pode precisar de uma nova geração para voltar a prevalecer.
Depois da semana mais violenta na história moderna do Egito, Maher teme as consequências do ódio que dividiu o país em dois campos rivais: o Estado liderado pelas Forças Armadas e seus simpatizantes e os islamistas que os militares retiraram do poder em 3 de julho.
"Nosso problema é que há uma onda de loucura. As pessoas dizem a você: ‘Temos que erradicá-los'", afirmou Maher, dizendo que tais atitudes surgiram em ambos os lados. "Precisa haver uma terceira voz".
A avaliação de um dos ativistas mais conhecidos do Egito destaca o sombrio futuro para o país, cujo levante em 25 de janeiro de 2011 inspirou revoltas pró-democracia em todo o mundo árabe.
Maher, de 32 anos, diz que agora pode levar outra geração até que os objetivos da revolução --liberdade, justiça social e dignidade-- sejam garantidos.
Egípcios voltam às ruas para "Sexta-feira dos Mártires":
Ele concedeu a entrevista em um escritório em ruínas no Cairo, onde as paredes estavam cobertas de adesivos testemunhando o ativismo contínuo desde 2011: as campanhas primeiro contra os generais que substituíram Mubarak, e depois contra o governo eleito liderado pela Irmandade Muçulmana.
O próprio trabalho de protestar está se tornando uma vítima da violência: o 6 de Abril cancelou um comício na sexta-feira contra a libertação de Mubarak, temendo que pudesse provocar violência.
"Nós nos vemos de volta à estaca zero, porque o que está acontecendo agora pode ser mais perigoso, mais complicado do que havia antes de 25 de janeiro de 2011", disse Maher.
"Não entendemos completamente o que está acontecendo no novo regime", disse. "Há temores da volta ao antigo regime, sua gente e métodos. Também há grupos armados radicais e extremistas".
O 6 de Abril foi um dos movimentos juvenis que lideraram os egípcios durante o levante de 18 dias que terminou quando o Exército afastou Mubarak do poder, em 11 de fevereiro de 2011.
Mas, como a maioria dos grupos seculares, não conseguiu deixar uma marca política quando Mubarak foi derrubado -- um fracasso que ajudou os islamistas a vencerem eleição após eleição, culminando com a votação presidencial do ano passado que levou Mohamed Mursi ao poder.
O movimento apoiou Mursi naquela eleição, mas depois colocou sua rede ativista nacional contra ele, repetindo críticas de que a Irmandade Muçulmana buscava consolidar o poder mesmo quando não era bem-sucedida no governo.
A militância reuniu 2 milhões de assinaturas para uma campanha que ajudou a mobilizar protestos contra Mursi.
"Quando os militares subiram ao poder depois de 25 de janeiro, a alternativa era a Irmandade. Aí a Irmandade veio, e a alternativa eram os militares", disse. "O problema foi essa equação de dois lados desde o início. Deve haver uma alternativa".
14 de agosto - Policiais egípcios detêm manifestante pró-Mursi em meio à repressão contra mobilização de simpatizantes do presidente deposto; segundo os últimos dados disponíveis até o início da tarde desta quarta-feira, ao menos 149 pessoas haviam morrido e 1,4 mil ficado feridas durante a ação de repressão das forças de seguranças egípcias
Foto: AP
14 de agosto - Soldado das forças de segurança chuta manifestante pró-Mursi em meio aos confrontos com as forças de segurança perto de acampamentos da Universidade do Cairo, no distrito de Gizé
Foto: AP
14 de agosto - Manifestante pró-Mursi chora ao lado de mulher em meio aos confrontos com as forças de segurança perto de acampamentos da Universidade do Cairo, no distrito de Gizé
Foto: AP
14 de agosto - Manifestante pró-Mursi beija testa de amigo militante morto pelas forças de segurança egípcias em hospital improvisado em Rabaah Al-Adawiya
Foto: AP
14 de agosto - Egípcia tenta impedir o avanço de uma retroescavadeira para proteger um homem ferido durante os confrontos registrados em um acampamento próximo da mesquita Rabaa al-Adawiya, no Cairo
Foto: AFP
14 de agosto - Manifestante ferido pede ajuda durante confronto gerado pela remoção de acampamento pró-Mursi na praça Al-Nahda
Foto: AFP
14 de agosto - Simpatizante da Irmandade Muçulmanda e do presidente deposto Mohamed Mursi gesticula durante confronto com a polícia no Cairo
Foto: AFP
14 de agosto - Mulher com um pedaço de pau nas mãoes conversa com policial em acampamento pró-Mursi
Foto: AP
14 de agosto - Manifestantes atiram viatura da polícia de ponte no Cairo em protesto contra a ação da polícia
Foto: AP
14 de agosto - Incêndio consome acampamento pró-Mursi na praça Al-Nahda
Foto: AFP
14 de agosto - Policial ferido recebe ajuda de colega durante confronto com seguidores de Mursi
Foto: AP
14 de agosto - Policial puxa mangueira durante tentativa de limpar área em que seguidores de Mursi estavam acampados
Foto: AP
14 de agosto - Manifestante grita palavras de ordem contra as autoridades militares na área de Mohandessin, no Cairo
Foto: AP
14 de agosto - Corpos de seguidores da Irmandade Muçulmana são vistos enfileirados em necrotério improvisado nos arredores mesquita Rabaa al-Adawiya
Foto: Reuters
14 de agosto - Mulher tenta parar o avanço de escavadeira durante confronto nas proximidades da mesquita Rabaa al-Adawiya, no Cairo
Foto: AFP
14 de agosto - Seguidores de Mursi reagem ao avança de escavadeira do Exército egípcio sobre acampamento na praça Al-Nahda
Foto: AFP
14 de agosto - Simpatizantes de Mursi fogem de gás lacrimogêneo disparado pela polícia durante ofensiva no Cairo
Foto: AFP
14 de agosto - Manifestantes reunidos em acampamento na Cidade de Nasr, no Cairo, atiram pedras contra as forças de segurança
Foto: AP
14 de agosto - Manifestante ferido é ajudado por um companheiro, um policial e um fotógrafo
Foto: AFP
14 de agosto - Policiais carregam colega ferido durante o confronto na Cidade Nasser, nos subúrbios do Cairo
Foto: AP
14 de agosto - Egípcios ajudam mulher afetada pelo gás lacrimogêneo durante a ofensiva contra o acampamento pró-Mursi no Cairo
Foto: AFP
14 de agosto - Policial disparar tiro de gás lacrimogêneo contra manifestantes em praça de Giza
Foto: Reuters
14 de agosto - Manifestante carrega companheiro ferido nas proximidades da praça Rabaa al-Adawiya, no Cairo
Foto: AFP
14 de agosto - Feridos e mortos durante a ofensiva são vistos no chão
Foto: AP
14 de agosto - Manifestante carrega cópias do Alcorão enquanto tenta escapar ileso de área atingida pela ofensiva policial
Foto: AP
14 de agosto - Manifestante joga galão d'água em fogo para tentar conter incêndio provocado pelos confrontos no Cairo
Foto: AFP
14 de agosto - Mulher se atira no chão em frente a policiais em acampamento pró-Mursi em Giza
Foto: AP
14 de agosto - Manifestantes pró-Mursi buscam refúgio da fumaça e dos confrontos com as forças de segurança do Egito no Cairo
Foto: AP
14 de agosto - Policial conduz manifestantes pró-Mursi ferido durante a repressão da quarta-feira
Foto: AP
14 de agosto - Apoiadores de Mursi carregam manifestante ferido durante os protestos no Cairo
Foto: Reuters
14 de agosto - Manifestantes carregam feridos nos confrontos nos arredores da praça Rabaa
Foto: Reuters
14 de agosto - Homem ferido é carregado por manifestantes
Foto: Reuters
15 de agosto - Corpos são vistos em mesquita no distrito de Rabaa al-Adawiya, no Cairo
Foto: AFP
15 de agosto - Homem é fotografado ao lado de carros destruídos durante a ofensiva contra acampamentos de seguidores de Mursi
Foto: AFP
15 de agosto - Pessoas ajudam a carregar caixão de policial morto durante a ação de quarta-feira no Cairo
Foto: Reuters
15 de agosto - Militares fazem a proteção em frente à mesquita Rabaa al-Adawiya, no Cairo, um dia após o massacre
Foto: Reuters
15 de agosto - Policial militar caminha do lado de fora da mesquita Rabaa al-Adawiya, que foi queimada durante a ofensiva militar
Foto: Reuters
15 de agosto - Militares protegem área da mesquita Rabaa al-Adawiya
Foto: AP
15 de agosto - Homem remove tenda da mesquita Rabaa al-Adawiya
Foto: Reuters
15 de agosto - Escavadeira remove destroços deixados após a ofensiva contra o acampamento de seguidores da Irmandade Muçulmana
Foto: Reuters
15 de agosto - Corpos são enfileirados em mesquita do Cairo nesta quinta-feira
Foto: AFP
15 de agosto - Mulher conversa ao telefone ao passar por área onde estava o acampamento muçulmano atacado as autoridades
Foto: AP
15 de agosto - Egípcio chora ao lado de corpos em mesquita no Cairo
Foto: AFP
15 de agosto - Moradores caminham pelo que restou da mesquita Rabaa al-Adawiya, no Cairo
Foto: AFP
16 de agosto - Soldados egípcios guardam posição em cima e ao lado de veículos blindados em acesso à Praça Tahrir, no Cairo
Foto: AP
16 de agosto - Blindados cercam acesso da Praça Tahrir no Cairo
Foto: AP
16 de agosto - Manifestantes pró-Mursi protestam nas proximidades da mesquita Ennour, no Cairo
Foto: Reuters
16 de agosto - Mulheres participam de protestos contra as autoridades militares nas proximidades da mesquita Ennour, no Cairo
Foto: Reuters
16 de agosto - Soldado egípcio é visto dentro de tanque nos arredores da Praça Tahrir, no Cairo
Foto: AP
16 de agosto - Manifestantes retiram pedras do calçamento para jogar na polícia na praça Ramsés, no Cairo
Foto: AFP
16 de agosto - Manifestantes carregam homem ferido durante os protestos em Gizé
Foto: AFP
16 de agosto - Partidários de Mursi se reúnem em frente à mesquita al-Fatah, na praça Ramsés, no Cairo
Foto: AFP
16 de agosto - Partidários da Irmandade Muçulmana marcham no Cairo
Foto: AFP
16 de agosto - Manifestantes ajudam pessoas feridas durante os confrontos na praça Ramsés
Foto: AFP
16 de agosto - Focos de incêndio foram registrados na praça Ramsés
Foto: AFP
16 de agosto - Homem ferido é carregado por voluntários
Foto: AP
16 de agosto - Homem recebe ajuda depois de ser ferido nos confrontos
Foto: AP
16 de agosto - Suja de sangue, mulher grita em desespero dentro da mesquita
Foto: AP
16 de agosto - Homem fica desesperado ao ver corpos de parentes dentro da mesquita
Foto: AP
16 de agosto - Ferido recebe tratamento dentro de mesquita localizada na praça Ramsés
Foto: AP
17 de agosto - Policiais removem partidário da Irmandade Muçulmana na saída da mesquita al-Fath, no cento, no centro do Cairo. Centenas de muçulmanos se refugiaram dentro da mesquita na noite de sexta-feira para se proteger dos disparos das forças de segurança e dos ataques dos opositores do movimento
Foto: AP
17 de agosto - Partidário do presidente deposto Mohamed Mursi é escoltado ao deixar a mesquita
Foto: AP
17 de agosto - Partidários de Mursi e policiais são fotografados dentro da mesquita durante ação para evacuar o local
Foto: AP
17 de agosto - Opositor de Mursi e da Irmandade Muçulmana tenta furar bloqueio policial para pressionar o grupo que se escondeu na mesquita
Foto: AP
17 de agosto - Imagem mostra o lixo acumulado dentro da mesquita nesta manhã
Foto: AP
17 de agosto - Objetos do período faraônico são vistos no chão e em vidros quebrados dentro de museu de antiguidades na localidade de Minya, no Egito. O local foi vandalizado e saqueado na quinta e na sexta-feira
Foto: AP
17 de agosto - Objeto é visto destruído após o museu ser vandalizado
Foto: AP
17 de agosto - Sarcófago foi danificado na invasão do museu em Malawi
Foto: AP
17 de agosto - Cenário no museu é de destruição após o local ser saqueado
Foto: AP
17 de agosto - Vidros foram quebrados e obras históricas foram roubadas
Foto: AP
Compartilhar
Publicidade
"Novo Egito" algum dia
A Irmandade enfrenta no momento uma das piores repressões em seus 85 anos de história.
Desde a queda de Mursi, as forças de segurança egípcias mataram ao menos 1 mil apoiadores do movimento islâmico, a maioria na semana passada, quando a polícia usou a força contra dois acampamentos de protesto montados pela Irmandade no Cairo.
Cerca de 100 soldados e policiais também foram mortos no conflito, que suscitou temores de uma insurreição armada dos islamistas, apesar de a Irmandade seguir repudiando a violência. A polícia está prendendo líderes e seguidores da Irmandade Muçulmana por todo o país. A mídia estatal diz que o Egito está combatendo o terrorismo.
Maher disse que o ódio público à Irmandade está tão difundido que ficou difícil para os ativistas falar sobre tendências preocupantes, como a declaração de um estado de emergência.
"Todo mundo está voltado para a ideia da 'guerra contra o terror', e se há violações, estão sendo ignoradas", disse.
A libertação de Mubarak na quinta-feira foi uma vitória simbólica para os adeptos do autocrata veterano. Embora ele esteja sendo julgado novamente pelo assassinato de manifestantes na revolta de 2011, não há mais qualquer base legal para sua detenção.
"Naturalmente há temores, especialmente após a libertação de Mubarak", disse Maher. "Mas como uma revolução, sabíamos no início que poderia haver muitos contratempos ... Estávamos à espera de dificuldades. Mas ninguém pensou que seria tão complicado."
"Eu deveria estar deprimido, e estou deprimido, mas ainda tenho esperança, mesmo com essas complicações, a violência, estes temores. Ainda tenho confiança de que um dia vamos ver um novo Egito", disse ele. "Minha geração não poderá ver essas mudanças. Poderíamos estar abrindo o caminho para a nova geração ver essas mudanças."
Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.