Em 14 de abril de 2014, as atenções do mundo se voltaram para o remoto povoado de Chibok, no noroeste da Nigéria. Lá, 276 adolescentes tinham sido sequestradas por militantes do grupo extremista muçulmano Boko Haram, enquanto dormiam numa escola.
A comunidade internacional reagiu com indignação. Um movimento mundial, o #Bringbackourgirls (#Devolvamnossasmeninas) obteve o endosso de nomes como a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, e a adolescente paquistanesa ganhadora do prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai.
Um ano já se passou desde o sequestro, mas 219 meninas seguem desaparecidas.
Na última segunda-feira, a BBC ouviu uma testemunha que alega ter visto mais de 50 meninas do grupo sequestrado em Chibok. Elas teriam sido vistas na localidade de Gwoza antes da expulsão do Boko Haram da região por tropas do governo nigeriano.
Abaixo, a BBC responde a cinco questões para ajudar a entender o caso e a situação das estudantes.
Como as meninas desapareceram?
Por volta de meia-noite de 14 de abril, homens armados atacaram a Escola Secundária Governamental de Chibok. Na escola dormiam centenas de alunas. Sob a alegação de que o local seria atacado pelo Boko Haram, os homens - alguns vestindo uniformes do Exército - disseram às adolescentes que estavam ali para levá-las a um lugar seguro. As estudantes foram colocadas em caminhões e, na saída, os homens puseram fogo na escola.
Autoridades nigerianas informaram que 53 meninas conseguiram escapar.
Cerca de um mês depois do sequestro, Abubakar Shekau, líder do Boko Haram, divulgou um vídeo em que assumia a responsabilidade pelo sequestro e ameaçava vender as meninas como escravas ou forçá-las a se casar com militantes.
O que tem sido feito para encontrar as meninas?
Como explica o correspondente da BBC em Abuja, Nasidi Yahaya, o governo nigeriano foi alvo de críticas desde o início do episódio, em especial o presidente do país, Goodluck Johnathan.
"O governo demorou semanas para admitir que o sequestro ocorrera e disse inicialmente que se tratava de uma chantagem política do Boko Haram", explica.
A primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, endossou a campanha pedindo a libertação das meninas
O governo só começou a reagir depois que a campanha #Bringbackourgirls ganhou repercussão, mobilizando milhões de pessoas nas redes sociais. As autoridades chegaram a anunciar algumas vezes que estavam perto de resgatar as meninas, mas nunca apresentaram resultados.
"Em maio, o chefe das Forças Armadas da Nigéria afirmou que o paradeiro das meninas era conhecido", explica Yahaya. "Só que no mês passado o próprio presidente Jonathan admitiu que não sabia onde ela estavam."
O que pode ter acontecido com elas?
Por causa da falta de informações sobre o paradeiro das jovens, o seu desaparecimento abriu espaço para rumores e teorias.
Já se disse, por exemplo, que as meninas foram vistas cruzando as fronteiras da Nigéria com Camarões, Chade e Níger, sempre acompanhadas de escoltas fortemente armadas.
Um líder comunitário em Chibok, Pogo Bitrus, disse à BBC em novembro que algumas meninas foram forçadas a se casar com militantes do Boko Haram.
Até agora não houve declarações oficiais sobre seu paradeiro.
"Essa falta de informações tem sido a parte mais difícil para os parentes das meninas. Eles não sabem onde estão suas filhas e o que aconteceu com elas", diz Nasidi Yahaya.
"A teoria mais recente é que as meninas estão nas montanhas de Mandara (perto da fronteira com Camarões)".
Como são as chances de elas serem resgatadas?
Apesar de Jonathan ter afirmado, por meses, que faria de tudo para resgatar as meninas, o presidente-eleito, Muhammadu Buhari, que assume em 29 de maio, disse nesta terça-feira que "algumas das sequestradas jamais serão encontradas".
"O problema é que as Forças Armadas têm problemas mais graves para resolver, como a luta para recuperar as áreas controladas pelo Boko Haram no norte do país", conta Yahaya.
"Desde o sequestro, a situação na região se deteriorou drasticamente. Os militantes do Boko Haram forçaram comunidades inteiras a fugir de suas aldeias".
E, apesar de todo o interesse despertado pelas meninas de Chibok, há outros casos de sequestro e morte de estudantes.
O que pode fazer o novo governo?
Há a percepção de que Buhari, que foi presidente da Nigéria por um ano nos anos 80, durante o regime militar, tem experiência para lidar com a situação.
Assim que sua vitória no pleito foi anunciada, o presidente-eleito fez a promessa de que o Boko Haram "logo se dará conta de nossa vontade coletiva de derrotar o terrorismo".
"Existe a esperança de que as coisas mudem agora", diz Yahaya.
A ex-ministra da Educação da Nigéria e a vice- presidente da divisão da África do Banco Mundial participam de marcha organizada pelas mães das adolescentes sequestradas, em Abuja, em 30 de abril
Foto: AFP
Homem pede a libertação das estudantes sequestradass pelo Boko Haram, em Lagos, em 1º de maio
Foto: AFP
Sul-africanos protestam contra o rapto de centenas de estudantes na Nigéria pelo grupo extremista islâmico Boko Haram, durante uma marcha ao Consulado da Nigéria em Joanesburgo, na África do Sul, em 8 de maio
Foto: AP
Mulher participa de protesto exigindo a libertação das adolescentes sequestradas na aldeia de Chibok, em 14 de abril. No cartaz é possível ler a mensagem: "Já chega. Os sequestros precisam parar"
Foto: Reuters
Pessoas participam de protesto exigindo a libertação de meninas sequestradas na aldeia de Chibok, em Lagos, em 5 maio
Foto: Reuters
Manifestantes marcham em apoio às meninas sequestradas por membros do Boko Haram em frente à Embaixada da Nigéria, em Washington, em 6 de maio
Foto: Reuters
Ativista segura um cartaz com a frase: "E se isso acontecesse nos Estados Unidos?" durante uma manifestação em frente à embaixada da Nigéria em Washington, EUA, em 6 de maio
Foto: AFP
Foto mostra quatro alunas da escola secundária de Chibok que conseguiram fugir do grupo Boko Haram
Foto: AP
Vídeo mostra o líder do grupo extremista islâmico Boko Haram Abubakar Shekau. Ele ameaçou vender as centenas de estudantes sequestradas no norte da Nigéria por cerca de R$ 26 cada
Foto: AFP
Mulheres e crianças que sobreviveram a ataques do Boko Haram se abrigam em uma Igreja Católica em Wada Chakawa, na Nigéria, em 31 de janeiro de 2013
Foto: AP
Armas, munições e equipamentos do grupo Boko Haram apreendidos pela polícia são colocados em exposição em um quartel da Nigéria, em 1º de março de 2012
Foto: AP
Boko Haram exibe cadáveres de vítimas na cidade de Damaturu, na Nigéria, após uma série de ataques que deixaram ao menos 69 mortos, em novembro de 2011
Foto: AP
Menina muçulmana passa por uma casa queimada após ataque dos extremistas islâmicos do Boko Haram em Maiduguri, em 28 de janeiro
Foto: AP
Nigerianos se reúnem em torno de um carro queimado fora da Igreja Batista da Vitória em Maiduguri, em 25 de dezembro de 2010. Membros do grupo Boko Haram atacaram a igreja na véspera de Natal, matando o pastor, dois membros do coro e duas pessoas que passavam pelo local
Foto: AP
A ativista paquistanesa Malala segura um cartaz com a mensagem: "Tragam de volta as nossas meninas". Hashtag foi usada quase duas milhões de vezes durante 1 mês após o sequestro
Foto: Facebook / Reprodução
A primeira-dama americana Michelle Obama se manifestou na campanha "Bring back our girls". "Tal como milhões de pessoas em todo o planeta, meu marido (Barack Obama) e eu estamos indignados e arrasados em razão do sequestro de duzentas meninas nigerianas, retiradas de seus aposentos escolares, no meio da noite", afirmou a primeira-dama americana
Foto: Twitter
Mulheres francesas levantam cartazes onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, na terça-feira, 13 de maio
Foto: AP
As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy e Valerie Trierweiler se uniram a políticas e artistas durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, para pedir ajuda política do governo francês pela busca das meninas sequestradas na Nigéria no mês passado
Foto: AP
A ex-primeira-dama francesa Valerie Trierweiler segura um cartaz onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante manifestação em Paris, na terça-feira, 13 de maio
Foto: AP
As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy (esquerda) e Valerie Trierweiler (direita) acompanhadas de políticas e artistas em Paris pedem ajuda do governo na busca das jovens sequestradas na Nigéria
Foto: AP
As ex-primeiras-damas francesas Carla Bruni-Sarkozy (esquerda) e Valerie Trierweiler (direita) acompanhadas de políticas e artistas de seguram uma bandeira onde se lê: "Líderes, tragam de volta as nossas meninas", durante uma manifestação perto da Torre Eiffel, em Paris, nesta terça-feira, 13 de maio. As mulheres se reuniram para pedir os líderes do governo na ajuda da busca das mais de 200 estudantes que foram sequestradas por militantes do Boko Haram em uma escola secundária em Chibok, nordeste da Nigéria em abril
Foto: AP
A ex-primeira-dama francesa Valerie Trierweiler segura um cartaz onde se lê: "Traga de volta as nossas meninas", durante manifestação em Paris, na terça-feira, 13 de maio
Foto: AP
A ex-primeira-dama francesa, Carla Bruni-Sarkozy (centro), entre as políticas Nathalie Kosciusko-Morizet e Valerie Pécresse, durante a manifestação "Bring Back our girls", em Paris, nesta terça-feira, 13 de maio. Mulheres francesas se reuniram para pedir aos líderes do governo francês ajuda na busca das mais de 200 estudantes que foram sequestrados por militantes do Boko Haram em uma escola secundária em Chibok, nordeste da Nigéria em 14 de abril
Foto: AP
A atriz Julie Gayet (direita) e a diretora Lisa Azuelos seguram um cartaz onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas" no tapete vermelho no 67 º Festival de Cannes em Cannes neste sábado
Foto: Reuters
A atriz Julie Gayet (direita) e a diretora Lisa Azuelos seguram um cartaz onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas" no tapete vermelho no 67 º Festival de Cannes neste sábado; as meninas foram sequestradas no dia 14 de abril em uma escola da Nigéria pelo grupo Boko Haram
Foto: Reuters
Celebridades posam ao lado da atriz Selma Hayek Pinault para a exibição de Saint-Laurent no 67º Festival Internacional de Cinema de Cannes, no sul da França, neste sábado, 17 de maio
Foto: AP
A atriz e produtora Salma Hayek segura um cartaz no Festival de Cannes onde se lê "Tragam de volta as nossas meninas"; ela posa no tapete vermelho do evento neste sábado
Foto: Reuters
A atriz Salma Hayek, centro, segura um cartaz com o pedido "tragam de volta as nossas meninas", uma campanha que tem sido realizada por diversas celebridades ao redor do mundo, em que pedem a libertação de cerca de 300 estudantes nigerianas sequestradas pelo grupo extremista islâmico nigeriano Boko Haram; a atriz participa do Festival Internacional de Cinema em Cannes, sul da França, neste sábado; da esquerda para a direita os diretores Paul Brizzi, Roger Allers, Joan C. Gratz e Gaetan Brizzi
Foto: AP
Compartilhar
Publicidade
BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.