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África

Plebiscito aprova nova Constituição e confirma governo militar no Egito

Governo ainda aguarda divulgação de taxa de participação superior a 50% para legitimar candidatura presidencial do chefe do Exército

15 jan 2014 - 22h36
(atualizado em 16/1/2014 às 00h39)
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O referendo realizado no Egito aprovou a nova Constituição e a permanência dos militares no poder, mas o governo aguardava nesta quarta a divulgação da taxa de participação superior a 50% para legitimar a candidatura presidencial do chefe do Exército, general Abdel Fatah al-Sissi, que destituiu o presidente islâmico, Mohamed Mursi. Esse referendo funciona como um plebiscito para o general Al-Sissi, novo e popular homem forte do país.

O governo interino, dirigido pelos militares, não esconde que uma forte participação legitimaria a destituição de Mursi em julho, classificada de "golpe de Estado" por seus adversários. Comandante-em-chefe do Exército, vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, o general Al-Sissi não disfarçou suas intenções. Três dias antes do referendo para uma nova Constituição pouco diferente da anterior, ele prometeu se apresentar à eleição presidencial prevista para este ano, "se o povo pedir". Ao mesmo tempo, convocou a população a votar em massa no "sim".

Nesta quarta, os egípcios votaram pelo segundo dia consecutivo em um referendo sobre a nova Constituição, considerado determinante para uma possível futura candidatura do general Al-Sissi. Embora ainda não tenha sido informado quantos eleitores foram votar, acredita-se que a Constituição será aprovada. O governo espera pelo menos 70% de votos favoráveis.

As seções eleitorais abriram às 5h (horário de Brasília). Poucos incidentes foram registrados nas primeiras horas desta quarta-feira, depois da morte de nove pessoas em confrontos na periferia do Cairo na terça entre partidários de Mursi e grupos de adversários do dirigente islâmico e a polícia.

A nova Constituição substituirá a redigida durante a presidência de Mursi, a qual obteve 64% de votos favoráveis no referendo de dezembro de 2012. Neste, a participação nas urnas chegou a apenas 33%.

Hoje, dezenas de eleitores de Mursi bloquearam uma estação de metrô no subúrbio do Cairo, levando a choques considerados limitados pelas forças de segurança. Cerca de 250 pessoas foram detidas, entre elas membros da Irmandade Muçulmana, movimento de Mursi, por perturbar a votação.

Os confrontos de terça expuseram a fragilidade das forças no poder no mais populoso país árabe, que ainda se ressente da queda de Mursi e da dura repressão a seus militantes. Mais de mil pessoas morreram em confrontos entre partidários de Mursi e a polícia desde que o Exército afastou o então presidente do poder em julho, e outros milhares foram detidos, entre eles a maioria dos líderes da Irmandade.

Além disso, multiplicaram-se os atentados, cuja autoria foi reivindicada pelos grupos jihadistas. Esses grupos dizem se inspirar na rede Al-Qaeda. A porta-voz adjunta do Departamento de Estado americano, Marie Harf, manifestou a preocupação dos Estados Unidos com as informações sobre fatos violentos no primeiro dia de votação, mas disse esperar os relatos de "observadores egípcios e internacionais independentes" sobre o assunto.

Ela disse ainda que uma cláusula de um projeto de lei que deve ser aprovado no Congresso na sexta-feira deve permitir à Casa Branca descongelar US$ 1,5 bilhão de ajuda para o Egito, caso se certifique que o país "realizou um referendo constitucional e está dando passos para apoiar uma transição democrática".

A imprensa egípcia, que fez campanha unânime pelo "sim", elogiou o primeiro dia de votação. "Sim, embora os criminosos odeiem", dizia a capa do jornal privado Al Waft, referindo-se aos partidários de Mursi. "Os egípcios escolhem seu futuro", era a manchete do jornal estatal Al Gomhuria.

O governo interino garantiu que, após o referendo, haverá eleições legislativas e presidencial no país. "Nós confiamos na Irmandade Muçulmana e aceitamos sua Constituição, seu governo e seu parlamento (...), mas nos enganaram. Agora, votamos nessa Constituição para sair da crise", comentou a eleitora do Cairo Yihan Abdelaziz.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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