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Alexei Navalny: A jornada do opositor de Putin que sobreviveu a envenenamento e agora enfrenta prisão

A história de Alexei Navalny, um ativista anticorrupção que é considerado o crítico mais feroz de Putin, envolve espionagem, palácio, prisão e até veneno na cueca.

6 fev 2021 - 14h46
(atualizado às 15h13)
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A história de Alexei Navalny envolve espionagem, palácio, prisão e até veneno na cueca.

O principal líder da oposição russa teve destaque no noticiário internacional no segundo semestre de 2020, quando foi envenenado por uma sofisticada substância conhecida como Novichok e passou por uma longa recuperação.

No começo de 2021, depois de meses fora da Rússia, ele voltou para o país comandado por Vladimir Putin pela primeira vez desde seu envenenamento e foi preso. Agora, uma onda de protestos pedem a libertação de Navalny.

Antes de explicar os últimos capítulos da trajetória de Navalny, é importante lembrar do contexto da política nacional na Rússia: Putin comanda o país desde 1999. Ele é o segundo líder com mais tempo de poder no país, atrás apenas de Stálin. Ele é acusado pelos opositores de tentar ser "presidente vitalício" do país.

É nesse cenário que aparece Navalny, um ativista anticorrupção que é considerado o crítico mais feroz de Putin. Ele tem milhões de seguidores nas redes sociais e publica informações que, segundo ele, revelam a profundidade da corrupção na Rússia de Putin.

Veneno na cueca

Em agosto de 2020, Navalny passou mal durante um voo da Sibéria para Moscou e o avião precisou fazer um pouso de emergência na cidade de Omsk, onde foi levado às pressas para a UTI. Depois, após negociações de alto nível com as autoridades russas, ele foi transportado de avião para Berlim e tratado lá enquanto era mantido em coma induzido.

O governo alemão disse que Navalny foi envenenado por uma sofisticada substância conhecida como Novichok, o que deu ainda mais atenção ao caso, ao reforçar suspeitas de que o Estado russo esteja por trás do envenenamento. O Kremlin negou as acusações de envolvimento.

Conhecidas como agentes neurotóxicos, essas substâncias são usadas em pó ou em forma líquida. E são tão perigosas que só podem ser fabricadas em laboratórios avançados, que são em grande maioria de propriedade de governos, ou controlados por eles.

Inicialmente, acreditava-se que o envenenamento teria ocorrido por meio do chá que Navalny bebeu no dia. No entanto, depois que se recuperou, ele rastreou os indivíduos que acreditava terem participado de seu atentado. Passando-se por uma autoridade da área de segurança, Navalny conseguiu enganar um expert em armas que teria admitido que o caso foi mesmo de envenenamento. E a maior parte do agente químico teria sido plantada na cueca dele. O governo russo negou novamente as acusações.

Ainda na Alemanha, Navalny relatou que sentiu calafrios inicialmente e nenhuma dor, "mas parecia o fim".

"Não dói nada, não é como um ataque de pânico ou algum tipo de transtorno. No começo você sabe que algo está errado, e então seu único pensamento é: 'É isso, vou morrer.' "

Navalny foi transportado de avião para Berlim dois dias depois de entrar em coma, em agosto de 2020
Navalny foi transportado de avião para Berlim dois dias depois de entrar em coma, em agosto de 2020
Foto: EPA / BBC News Brasil

Prisão e protestos

Em janeiro de 2021, Navalny voltou para a Rússia, pela primeira vez desde que foi envenenado, e foi detido logo após desembarcar em Moscou. O motivo é que ele teria violado condições de uma sentença de liberdade de anos atrás.

Depois, um tribunal de Moscou sentenciou Navalny a três anos e meio de prisão por violar as condições de uma pena suspensa, ao não se apresentar regularmente para autoridade penitenciárias.

A prisão de Navalny gerou uma onda de protestos pela libertação dele e contra o Kremlin nos últimos dias. Milhares se reuniram em toda a Rússia, apesar da forte presença policial. Houve cenas violentas em Moscou — um vídeo em rede social mostra a polícia batendo e prendendo apoiadores de Navalny.

Os últimos episódios levantaram reações de outros governos. Depois da sentença, União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido condenaram o veredito do tribunal, demandando que o líder da oposição seja imediatamente libertado. O governo alemão disse que discutirá medidas adicionais com seus parceiros da União Europeia, acrescentando que novas sanções não podem ser descartadas.

Palácio

Também em janeiro deste ano, Navalny divulgou informações que revelam um suposto palácio de R$ 7,2 bilhões do presidente russo. Ele acusa Putin de ter gastado recursos ilícitos na extravagante mansão no Mar Negro.

O material foi publicado pela equipe de Alexei Navalny depois que ele foi preso em seu retorno a Moscou. O vídeo já foi visto mais de 100 milhões de vezes.

Navalny mostrou detalhes do palácio suspeito. Ele descreve a propriedade como tendo 39 vezes o tamanho do principado de Mônaco.

O Kremlin nega qualquer envolvimento. As acusações de Navalny sobre o envolvimento do serviço de segurança russo foram, no entanto, corroboradas por reportagens de jornalistas investigativos.

As reportagens afirmam que a propriedade na cidade turística de Gelendzhik foi construída com fundos ilícitos fornecidos por membros do círculo íntimo de Putin, incluindo oligarcas do petróleo e bilionários.

"(Eles) construíram um palácio para seu chefe com esse dinheiro", diz Navalny no vídeo.

Ele alega que o Serviço de Segurança Federal da Rússia (FSB) possui cerca de 70 km² de terreno ao redor da residência privada.

A reportagem investigativa descreve vários detalhes da propriedade e afirma que ali haveria um cassino, um complexo de hóquei no gelo subterrâneo e um vinhedo.

"Tem cercas inexpugnáveis, seu próprio porto, sua própria segurança, uma igreja, seu próprio sistema de segurança, uma zona de exclusão aérea e até mesmo seu próprio posto de controle de fronteira", diz Navalny.

"É um Estado separado dentro da Rússia", acrescenta. "E nesse Estado existe um único czar insubstituível: Putin."

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